desembargador Macário Judice Neto
Desembargador Macário Judice Neto foi preso pela Polícia Federal (Foto: Divulgação / Ufes)

O desembargador Macário Judice Neto, do Tribunal Regional Federal da 2ª Região (TRF-2), preso pela Polícia Federal nesta terça-feira (16), recebeu um salário médio de R$ 93,4 mil no último ano, o dobro do teto constitucional.

Macário é suspeito de irregularidades na condução de um processo contra o ex-deputado estadual Thiego Raimundo dos Santos, o TH Joias, investigado por ligações com o Comando Vermelho.

Um levantamento da Coluna do Estadão em dados do TRF-2 mostra que o desembargador chegou a receber R$ 158 mil em outubro deste ano. Nos últimos 12 meses, a menor remuneração obtida pelo magistrado foi em maio passado, com R$ 69,3 mil — valor 50% acima do teto do funcionalismo público previsto na Constituição.

Veja os salários do desembargador no último ano

  • Novembro de 2025: R$ 125.670,16;
  • Outubro de 2025: R$ 157.961,75;
  • Setembro de 2025: R$ 79.487,65;
  • Agosto de 2025: R$ 81.627,73;
  • Julho de 2025: R$ 106.854,74;
  • Junho de 2025: R$ 111.595,56;
  • Maio de 2025: R$ 69.303,5;
  • Abril de 2025: R$ 70.092,47;
  • Março de 2025: R$ 74.440,11;
  • Fevereiro de 2025: R$ 81.322,36;
  • Janeiro de 2025: R$ 89.897,23;
  • Dezembro de 2024: R$ 73.201,79.

Juízes violam limite salarial da Constituição com “penduricalhos”

A Constituição determina que nenhum servidor público pode ganhar mais que R$ 46,4 mil mensais, remuneração de um ministro do Supremo Tribunal Federal (STF). Na prática, contudo, magistrados violam a regra por meio de “penduricalhos”.

“Penduricalhos” são verbas classificadas internamente como indenizatórias e pagas de forma permanente, quando deveriam ser eventuais. A manobra também faz com que os magistrados escapem de pagar Imposto de Renda sobre esses recursos.

Como mostrou o Estadão, juízes receberam R$ 10,5 bilhões acima do teto constitucional em 2024.

PF prende desembargador e apura novas suspeitas de vazamento

Nesta terça-feira, a operação da Polícia Federal, Unha e Carne 2, foi deflagrada por ordem do STF e é um desdobramento da ação que havia prendido o presidente de Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro, Rodrigo Bacellar, por suspeitas de vazamento do caso.

De acordo com a PF, essa nova fase foi deflagrada “para investigar a atuação de agentes públicos no vazamento de informações sigilosas que culminou com a obstrução da investigação realizada no âmbito da Operação Zargun”.

O desembargador atuou na Operação Zargun, deflagrada em setembro para investigar uma organização criminosa de tráfico internacional de drogas e armas e que resultou na prisão do então deputado TH Joias por vínculos com o Comando Vermelho.

Magistrado ficou 18 anos afastado

O desembargador do TRF-2 já ficou quase 18 anos afastado do cargo por decisão do próprio tribunal, que depois foi anulada. Na época, Macário era investigado por supostamente favorecer um esquema ilegal de caça-níqueis.

Defesa de Macário nega irregularidades

Em nota, a defesa do desembargador afirmou que o ministro Alexandre de Moraes, do STF, que decretou a prisão do magistrado, foi “induzido a erro”.

“A defesa do desembargador Macário Judice registra, desde logo, que Sua Excelência o ministro Alexandre de Moraes foi induzido a erro ao determinar a medida extrema. Ressalta, ainda, que não foi disponibilizada cópia da decisão que decretou sua prisão, obstando o pleno exercício do contraditório e da ampla defesa. A defesa apresentará os devidos esclarecimentos nos autos e requererá a sua imediata soltura”, disse o advogado Fernando Augusto Fernandes.