
O empresário Eduardo Saudino, de 37 anos, se tornou réu por homicídio duplamente qualificado com dolo eventual no processo que apura a morte da cerimonialista Emília Oliosi Breda, na época com 26 anos, no dia 15 de fevereiro de 2024.
A jovem morreu após o carro em que ela estava com o empresário, seu então namorado, capotar às margens da ES-375, na zona rural de Anchieta, Sul do Espírito Santo. Eduardo foi lançado para fora do veículo, e Emília ficou presa às ferragens.
Segundo o Ministério Público do Estado (MPES), na ocasião, Eduardo teria dito que quem dirigia o veículo era a namorada, mas ela morreu ainda no local da batida, e o caso foi considerado, naquele momento, um acidente de trânsito.
Agora, porém, o caso passa por uma reviravolta. O MPES ofereceu denúncia contra Eduardo por homicídio com dolo eventual duplamente qualificado, e a denúncia foi aceita pelo juiz da 2ª Vara Criminal de Anchieta, tornando Eduardo réu pelo crime. Ele pode ir a júri popular.
Segundo a denúncia do MPES, o réu era quem dirigia o veículo. Ele não tinha permissão para dirigir, estava alcoolizado e conduzia o veículo em alta velocidade, segundo a denúncia.
“Apurou-se que o denunciado, assumindo o risco de produzir o resultado morte, conduzia o veículo sem a devida permissão para dirigir, apresentando sinais que indicavam capacidade psicomotora alterada em razão da influência de álcool e em alta velocidade, quando perdeu o controle da direção do veículo e colidiu contra um bloco de concreto lateral a via, sofrendo capotamento e colidindo diversas vezes contra o solo, vindo a parar após esses impactos, invadindo a vegetação existente às margens da rodovia”, diz o MPES na denúncia.
O documento refuta a versão dada pelo acusado de que era a vítima quem dirigia no momento do capotamento. “Verificou-se que ela se encontrava no banco do carona, presa pelo cinto de segurança”, diz a denúncia.
Uma evidência que corroboraria a informação de que o veículo estava em alta velocidade foi o fato de o carro ter parado a aproximadamente 110 metros após o ponto inicial do
impacto. Essa constatação, segundo o MPES, revela a gravidade e intensidade da colisão, “impondo à vítima sofrimento excessivo e demonstrando a antevisão a respeito do resultado assumido”.

Juiz negou pedido de prisão
Na denúncia oferecida à Justiça, o MPES pede a prisão preventiva de Eduardo. O juiz, porém, indeferiu o pedido de prisão. Ao aceitar a denúncia, o juiz aplica ao autuado medidas cautelares, como comparecimento mensal em juízo; proibição de manter contato com as testemunhas e familiares da vítima; e proibição de ausentar-se da Comarca por mais de oito dias sem autorização. Como a decisão foi dada em Anchieta e o réu mora em Vitória, ainda não ficou claro de que comarca ele não poderá se ausentar.
O MPES também solicitou a fixação de valor mínimo para reparação dos danos causados pela infração, a ser revertido em favor dos familiares de Emília. A audiência de Instrução e Julgamento está marcada para o dia 2 de setembro de 2026.
Réu confirma que estava dirigindo, mas diz que não se lembra de nada após o acidente
A defesa do réu Eduardo Saudino foi procurada pela reportagem do Folha Vitória e se pronunciou sobre a acusação. O advogado Fernando Ottoni revelou que Eduardo confirma que era ele quem estava dirigindo o veículo, mas afirmou que o cliente não se lembra de ter dito que Emília era a condutora no dia da colisão.
“A respeito da suposta informação de que o senhor Eduardo, enquanto aguardava atendimento, teria afirmado que a senhora Emília era a condutora do veículo, faz-se importante esclarecer que ele não possui recordações claras do evento após a colisão. Isso porque, conforme registrado no inquérito policial, por ocasião do acidente, o senhor Eduardo foi ejetado do veículo pelo para-brisa, vindo a sofrer ferimentos lacerantes por todo o seu crânio”, diz a nota enviada pela defesa.
A defesa também afirma que é falsa a informação de que Eduardo estava embriagado. O advogado ainda refuta a alegação do MPES de que o veículo estaria em alta velocidade.
“Foram realizadas duas perícias técnicas pela Polícia Científica da Polícia Civil do Espírito Santo, ao passo que nenhuma delas indica a velocidade que se encontrava o veículo no momento da colisão, inclusive, sendo registrado pelo perito criminal, no laudo complementar nº 17.818/2024, ‘não ser possível a realização do cálculo de velocidade aproximada do veículo no momento anterior ao primeiro impacto identificado'”, registra a defesa.
A Polícia Civil foi procurada pela reportagem do Folha Vitória para dar detalhes sobre o inquérito policial. Assim que houver resposta, a matéria será atualizada.
Empresário responde a outros processos
Segundo o MPES, cinco meses após a colisão que resultou na morte de Emília, Eduardo se envolveu em outro acidente de trânsito. Na ocasião, o Corolla conduzido pelo empresário colidiu contra uma moto. Ele teria fugido do local do acidente e responde processo pelo crime. Em outros processos, ele responde ainda por embriaguez ao volante, desobediência e porte ilegal de arma.
Relembre o caso
A cerimonialista Emília Breda, de 26 anos, morreu após o carro em que estava capotar às margens da ES-375, localizada na entrada de Baixo Pontal, zona rural de Anchieta, no Sul do Espírito Santo.
O acidente foi registrado na manhã do dia 15 de fevereiro de 2024, data em que ela fazia aniversário.
Emília trabalhava realizando eventos e era também membro da equipe de Eventos da Catedral Metropolitana de Vitória, estando à frente, por exemplo, da Festa da Penha, tendo muita ligação com a Arquidiocese de Vitória e com o Convento da Penha.
Emília estava em um Fiat Pulse blindado, acompanhada do namorado Eduardo Saudino, na época com 35 anos. Segundo a Polícia Militar, ela ficou presa às ferragens do veículo e foi retirada pela equipe do Corpo de Bombeiros. No entanto, não resistiu e teve a morte confirmada ainda no local da batida.
O carro, segundo a polícia, seguia de Piúma para Domingos Martins. Saudino recebeu os primeiros atendimentos dentro da ambulância do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu).
Devido à gravidade dos ferimentos, ele foi transportado pelo Núcleo de Operações e Transporte Aéreo da Secretaria da Casa Militar (Notaer) para um hospital da Grande Vitória.