Aves icônicas do Brasil!

Araras ainda vivem no Espírito Santo? Entenda o que sobrou da espécie

Descubra quais araras ainda existem no Espírito Santo, o que causou a extinção da arara-vermelha e como identificá-las nas matas capixabas

Leitura: 5 Minutos

Fotografar uma arara na Mata Atlântica capixaba sempre me enche de orgulho — não só por sua beleza e exuberância, mas por serem um símbolo de grande biodiversidade. Apesar de toda destruição, ainda temos representantes desse grupo por aqui.

A maracanã-verdadeira resiste nas florestas capixabas, apesar de que, infelizmente, a arara-vermelha foi levada pela ganância humana.

As araras são aves icônicas do Brasil, e, no Espírito Santo, ainda resistem as chamadas maracanãs-verdadeiras (Primolius maracana), uma espécie de arara de médio porte e plumagem predominantemente esverdeada. Uma das menores araras do mundo!

Maracanã-verdadeira (Primolius maracana) fotografado em Burarama, distrito do município de Cachoeiro de Itapemirim, no Espírito Santo – Sudeste do Brasil. Bioma Mata Atlântica. Registro feito em 2018.

Apesar disso, muitos capixabas sequer sabem que temos araras em nossas matas. E isso me deixa entristecido. Tanto pelo fato de tanta gente não conhecer a biodiversidade capixaba e, ao mesmo tempo, da ferida ainda aberta: a extinção local da arara-vermelha, espécie emblemática, que desapareceu do Estado em silêncio há décadas, levada pelo tráfico de animais silvestres.

Muitos confundem com papagaio

A maracanã-verdadeira é uma arara de pequeno porte, verde-oliva, com detalhes azulados e avermelhados nas asas e na cauda. Sua aparência discreta faz com que muitas pessoas confundam essa arara com papagaios ou periquitos, mas ela carrega o DNA das grandes araras brasileiras. Vivem em bandos, vocalizam alto e geralmente voando em pequenos grupos (ou duplas) pelas copas das florestas.

Nos meus registros, sempre que encontro maracanãs-verdadeiras, é como reencontrar a esperança de que ainda podemos conservar nossas espécies mais emblemáticas.

História de desaparecimento

O Espírito Santo também já foi lar da arara-vermelha (Ara chloropterus), que infelizmente desapareceu do Estado.

“Arara-vermelha (Ara chloropterus) fotografado em Conceição da Barra, Espírito Santo – Sudeste do Brasil. Bioma Mata Atlântica. Registro feito em 2008.

Relatos históricos como os do Príncipe Maximiliano de Wied-Neuwied, naturalista alemão que percorreu a região há mais de 200 anos, descrevem cenas em que as florestas das margens do Rio Doce pareciam macieiras, cobertas por manchas vermelhas, não de frutas, mas das dezenas de araras que enchiam as árvores com seus gritos e cores vibrantes. A paisagem descrita por ele parece um sonho distante.

Segundo informações de um pesquisador que conversei, a última arara-vermelha capixaba morreu em cativeiro na década de 1970. A principal causa de seu desaparecimento? O tráfico de filhotes, retirados dos ninhos para alimentar o comércio ilegal de animais silvestres. Uma perda irreparável.

Entendendo as diferenças: araras, papagaios e periquitos

Muita gente confunde esses três grupos de aves, mas há diferenças claras entre eles:

  • Araras (Exemplos: Maracanã-verdadeira, arara-vermelha): maiores, com rabo longo e face sem penas.
  • Papagaios (Exemplos: Papagaio-verdadeiro, chauá…): médios, rabo curto, face com penas.
  • Periquitos/tiribas (Exemplos: Periquito-rei, tiriba-de-testa-vermelha, tuim…): pequenos, rabo longo, face com penas.

Quando a beleza vira mercadoria

O tráfico ilegal de animais silvestres é uma grande causas de extinção de espécies no Brasil. As araras, com suas cores e inteligência, infelizmente estão entre os alvos preferidos. Para que uma arara chegue a uma gaiola, muitas vezes dezenas de filhotes são arrancados da natureza.

É por isso que, mesmo que alguns indivíduos de arara-vermelha ou arara-canindé ainda sejam vistos no Espírito Santo, esses registros geralmente se referem a aves reintroduzidas por projetos ou fugitivas de cativeiro — não são populações naturais.

Um lembrete

A maracanã-verdadeira pode não ter as cores vibrantes da arara-vermelha, mas ela também tem sua importância. A presença delas nas matas capixabas para mim é um presente, mas também um lembrete para proteger o que resta.

As araras são símbolos da biodiversidade brasileira, sempre retratadas em filmes sobre o país e o Espírito Santo tem o privilégio de abrigá-las. Hoje, não temos mais a mais chamativa delas. 

Que possamos proteger as que sobraram enquanto ainda há tempo. 💚🦜

E lembre-se de olhar para cima. Aquele “papagaio” voando com o rabo comprido pode, na verdade, ser uma arara cheia de história para contar!

Se você deseja continuar acompanhando histórias como esta e diversas outras experiências vividas por mim em diferentes regiões do Brasil e do mundo, siga minhas redes sociais: @leonardomercon | @ultimosrefugios.

Aproveito para informar que estarei de férias entre os dias 10 e 24 deste mês. Até mais!

Leonardo Merçon

Fotógrafo de Natureza, Cinegrafista e Produtor Cultural

Fundador e diretor voluntário do Instituto Últimos Refúgios, OSC ambiental/cultural sem fins lucrativos, que atua desde 2011 na divulgação e sensibilização ambiental, estimulando o diálogo entre sociedade, organizações ambientais, instituições privadas e governamentais. Fotógrafo de natureza, documentarista desde 2004, Merçon é focado na proteção da natureza, com Mestrado em Conservação da Biodiversidade e Desenvolvimento sustentável pela ESCAS/Instituto IPÊ. Também formado em Design Gráfico pela Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes). Estudou fotografia voltada para publicações na Academia de Mídias e Artes, na Alemanha. O colunista acredita e trabalha em atividades de sensibilização ambiental (em especial com crianças) e fomento do turismo relacionado à natureza. Leonardo Merçon também tem dezenas de livros impressos e documentários em vídeo publicados. Realiza trabalhos ajudando a contar histórias por meio de imagens em mídias nacionais e internacionais, como a BBC de Londres e National Geographic Brasil, dentre outras.

Fundador e diretor voluntário do Instituto Últimos Refúgios, OSC ambiental/cultural sem fins lucrativos, que atua desde 2011 na divulgação e sensibilização ambiental, estimulando o diálogo entre sociedade, organizações ambientais, instituições privadas e governamentais. Fotógrafo de natureza, documentarista desde 2004, Merçon é focado na proteção da natureza, com Mestrado em Conservação da Biodiversidade e Desenvolvimento sustentável pela ESCAS/Instituto IPÊ. Também formado em Design Gráfico pela Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes). Estudou fotografia voltada para publicações na Academia de Mídias e Artes, na Alemanha. O colunista acredita e trabalha em atividades de sensibilização ambiental (em especial com crianças) e fomento do turismo relacionado à natureza. Leonardo Merçon também tem dezenas de livros impressos e documentários em vídeo publicados. Realiza trabalhos ajudando a contar histórias por meio de imagens em mídias nacionais e internacionais, como a BBC de Londres e National Geographic Brasil, dentre outras.