Como fotógrafo de natureza, já percorri boa parte do Brasil e outros cantos do mundo. Mas poucos lugares me impressionaram tanto pela biodiversidade quanto o Espírito Santo.
À primeira vista, esse pode parecer apenas um pequeno estado litorâneo brasileiro. Mas ao observar mais de perto — com um pouco de entendimento sobre o meio ambiente — o que se revela é uma das maiores concentrações de vida que já encontrei. Precisei viajar o mundo inteiro, para dar mais valor ao que temos no “quintal de casa”…
Por que tanta vida aqui?
São muitos os fatores que ajudam a explicar essa riqueza. Um dos mais importantes é o clima. Estudos apontam que, ao contrário de outras regiões do país que passaram por intensas oscilações climáticas nos últimos milhões de anos, o Espírito Santo manteve uma relativa estabilidade que favoreceu a permanência e evolução das espécies.
Por isso, não é raro encontrar aqui representantes da fauna amazônica — espécies que ficaram isoladas por conta do recuo das florestas em outras regiões, mas que sobreviveram nas áreas de mata atlântica capixaba. A floresta seguiu viva, e com ela, toda uma rede de interações ecológicas que se manteve por milênios.
Do mar às montanhas em menos de uma hora
Outro fator que colabora para perceber tamanha diversidade é o relevo. Em apenas 40 minutos de carro, é possível sair do nível do mar e alcançar altitudes de montanha. Essa variação altitudinal abriga microclimas e tipos de vegetação completamente distintos — das restingas litorâneas aos campos de altitude.
E os animais acompanham essas transições. Algumas espécies são especialistas em ambientes muito específicos e só conseguem sobreviver ali. Isso faz com que o Espírito Santo abrigue muitas espécies endêmicas de fauna e flora — que só existem por aqui.
A biodiversidade também vem do mar
Se pensarmos apenas em terra firme, o Espírito Santo já é incrivelmente diverso. Mas não para por aí. Em frente ao nosso litoral, ocorre o encontro de duas importantes correntes oceânicas, vindas do Norte e do Sul. Essa junção cria um ambiente marinho fértil, que atrai uma infinidade de espécies de peixes e invertebrados.
Além de isso ajudar com a estabilidade climática. Não é por acaso que as jubartes escolhem nossas águas para parir seus filhotes, ou que as tartarugas-marinhas retornem sempre às mesmas praias para desovar. Aqui, a vida resiste em terra e no oceano, mesmo que, como sociedade, impomos muitos desafios para esses seres fantásticos.
Um chamado à valorização
Não só pelos dados científicos ou registros fotográficos, precisamos valorizar e proteger a biodiversidade capixaba, pelo direito à vida das outras espécies que coabitam o planeta conosco, mas também, para que a nossa própria espécie possa continuar existindo e vivendo bem. Afinal, nós também precisamos de um meio ambiente equilibrado.
Esse texto é um convite para que os capixabas sintam orgulho do território onde vivem. Que saibam que, mesmo diante das pressões do desmatamento, da especulação imobiliária e da poluição, ainda há muito o que proteger. E que a natureza que nos cerca é valiosa demais para ser invisível.
Costumo dizer que em relação à natureza, nós capixabas “fazemos cimento com diamantes”, um grande desperdício. Precisamos começar a dar o real valor para nosso real tesouro.
O Espírito Santo é, sim, uma joia da biodiversidade mundial. E cabe a nós decidir o brilho que ela continuará emitindo para as futuras gerações.