O cocô de um passarinho foi responsável por invalidar medições de qualidade do ar em Vitória. A revelação foi feita durante debate sobre os impactos do pó preto na Região Metropolitana, que ocorreram na Assembleia Legislativa do Espírito Santo (Ales).
Quem revelou a situação inusitada aos deputados estaduais foi o coordenador de Qualidade do Ar e Áreas Contaminadas do Instituto Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Iema), Vinícius Rocha.
O especialista relatou o caso aconteceu enquanto falava sobre limitações do modelo manual de monitoramento, após uma amostra ser classificada como inconclusiva.
“O monitoramento manual é muito suscetível a interferências externas. No caso do Clube Ítalo, em Vitória, temos enfrentado um problema específico: um canário pousa no coletor e o cocô dele acaba contaminando a amostra. Isso interfere no resultado e inviabiliza o uso dos dados”, relatou.
O Clube Ítalo Brasileiro, onde o caso ocorreu, fica próximo à Ponta de Tubarão, uma área conhecida por reclamações em relação ao pó preto. O coordenador do Iema relata que o problema ocorre há cerca de um ano e, por conta disso, em julho, uma coleta precisou ser descartada.
Segundo o especialista, o Iema já estuda alternativas junto ao setor de fauna para afastar o passarinho sem comprometer o funcionamento da estação.
“É um ponto estratégico para o monitoramento da poluição, e não podemos simplesmente desativar. Estamos avaliando soluções que afastem as aves sem interferir na coleta”, disse.
Outras dificuldades
Além do passarinho, a rede de monitoramento enfrenta outras dificuldades. De acordo com Vinícius, em Carapebus, na Serra, uma estação precisou ser desativada depois de uma escola construir um telhado ao lado do equipamento.
O especialista explica que a construção inviabilizou a coleta, uma vez que o telhado passou a interferir diretamente na amostragem.
“Foi uma situação inusitada também. A estação ficava dentro de uma escola e a direção resolveu cobrir parte do pátio. A obra do novo telhado passou a interferir diretamente na amostragem, e tivemos que encerrar o monitoramento naquele ponto”, contou Vinícius.
Monitoramento eletrônico
As histórias foram compartilhadas durante uma sessão da Comissão de Proteção ao Meio Ambiente da Ales.
Segundo o presidente da Comissão, deputado Fabrício Gandini, os episódios mostram a necessidade de mudança no modelo de coleta.
“É quase inacreditável imaginar que um passarinho ou uma obra escolar possam interferir na medição da qualidade do ar. Mas isso mostra como o modelo manual é vulnerável e reforça a importância do novo monitoramento eletrônico, que vai garantir dados mais precisos”, disse.
O novo sistema, que será implantado a partir de um acordo de cooperação entre o governo do Estado e as empresas poluidoras, tem assinatura prevista para o dia 28 deste mês.
De acordo com o Iema, o investimento será custeado pelas próprias empresas, sem custo para o Estado, e o início das medições automáticas deve ocorrer nos próximos meses, após a chegada e calibração dos equipamentos.
Atualmente, a Grande Vitória conta com oito estações de monitoramento: Laranjeiras e ArcelorMittal Carapina (Serra); Jardim Camburi, Enseada do Suá, Vitória-Centro (Ministério da Fazenda) (Vitória); ArcelorMittal Continental, Vila Capixaba (Ceasa) e Ibes (Vila Velha).
A meta é chegar a 13 estações até o fim do próximo ano, consolidando a rede mais densa de monitoramento do país.