
Quando recebi o áudio do meu amigo Gustavo Figueirôa, ele parecia falar caminhando, observando tudo ao redor enquanto tentava organizar as primeiras impressões da COP 30. Senti a pressa natural de quem está no meio da maior conferência climática do planeta, onde tudo acontece ao mesmo tempo.
Ele representa o Pantanal e a SOS Pantanal em um espaço que costuma decidir o futuro dos biomas mais vulneráveis do mundo. E ouvir sua voz no meio daquele turbilhão me transportou para dentro da conferência, mesmo a milhares de quilômetros de distância.
Um consenso raro no início das negociações
Ainda nos primeiros minutos de conversa, ele destacou algo. A carta de diretrizes, documento que orienta as negociações, foi aprovada antes mesmo da abertura oficial. Isso não costuma acontecer. Nas outras conferências, esse acordo inicial se arrastou ao longo do primeiro dia, às vezes avançando noite adentro. Dessa vez, começou com um consenso prévio.
Para Gustavo, essa antecipação dá uma sensação de movimento. Parece mostrar que os países chegaram mais conscientes da urgência climática e menos dispostos a perder tempo com disputas protocolares.
Porém, esse início acelerado não diminui a complexidade dos temas. Ele comentou que ainda precisa entender todos os acordos que surgiram quase de forma simultânea, impulsionados pela presença dos líderes globais que marcam a primeira semana da conferência. Cada momento pode esconder decisões capazes de mudar nossos destinos.
Quando o Pantanal ecoa dentro da COP
Ele me mandou a mensagem no Dia do Pantanal, no dia 12 de novembro. Gustavo e a equipe planejaram uma mobilização simbólica para lembrar ao mundo que o bioma enfrenta uma década de extremos climáticos, incêndios assustadores e perda acelerada de habitat. Ouvir isso vindo dele sempre carrega um peso diferente.
Ele vive o Pantanal antes de defendê-lo. Já caminhou entre onças no Onçafari, já cuidou de parques urbanos em São Paulo, já estudou comunicação científica para transformar dados complexos em esperança compreensível. Ele enxerga o bioma como parte da própria trajetória.

Enquanto me contava sobre essa mobilização, imaginei o Pantanal aparecendo em meio às bandeiras, câmeras e estandes da COP. Um pedaço vivo do Brasil tentando encontrar espaço em debates que, por vezes, ignoram a fragilidade de ecossistemas que não estão no centro do mapa político.
A força da cultura
Após o Dia do Pantanal, o Gustavo me contou sobre algo que ampliou ainda mais essa presença deles. No dia 13, o SOS Pantanal realizou o show do Ney Matogrosso, o espetáculo mais aguardado da COP. O Teatro da Paz ficou lotado, com mais de 750 pessoas ocupando cada canto. O artista falou do Pantanal durante o show, com a sensibilidade única que só ele tem.
Antes da apresentação, o Leonardo, diretor-executivo da instituição, e a Luciana Leite, da IGF, entregaram a carta pelas áreas inundáveis para a ministra Margareth Menezes. É um documento importante, com reivindicações essenciais para proteger regiões que mantêm a vida no bioma.
Logo depois, eles se encontraram com a primeira dama Janja, no camarim dos artistas. Entregaram a carta para ela também. A primeira-dama se comprometeu a levar o documento até a presidência da COP. Um gesto simbólico, mas que mostra que a luta do Pantanal está encontrando caminhos dentro e fora das salas de negociação.
E no dia 21, será a vez do show do Lenine, também organizado pelo SOS Pantanal. Mais uma forma de fazer o bioma estar presente no imaginário das pessoas durante a COP.
O começo ainda diz pouco, mas diz bastante
Gustavo foi honesto. Ainda é cedo para tirar conclusões. Os primeiros dias de uma COP costumam refletir discursos mais do que decisões concretas. Porém, ele sente que o ritmo está diferente. O começo trouxe uma urgência, e abriu espaço para o amadurecimento das discussões para esta semana.
Gustavo participou de dois painéis sobre o Pantanal, ambos recebidos com interesse. Ele ainda teria outros encontros ao longo da semana.

Antes de finalizar nosso contato, ele recomendou acompanhar as análises diárias da pesquisadora Natalie Unterstell, que tem destrinchado cada movimento da conferência. É assim que a sociedade civil mantém o pulso firme sobre decisões que definirão o futuro de nossos biomas, como o Pantanal, tão bem representado por Gustavo e seus parceiros.
Pelos corredores da COP
Ao ouvir Gustavo, pensei no quanto dependemos de vozes como a dele. Pessoas que conseguem traduzir a COP para a realidade concreta da floresta alagada, das margens queimadas, dos animais deslocados, dos moradores que vivem entre ciclos de cheia e de fogo. Enquanto ele circula pelos corredores, o Pantanal, e os outros biomas interdependentes, circulam juntos. Eu me sinto representado.
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Espero que tenham gostado desta história. Te vejo na próxima!