
“O mundo não vai acabar!” Essa frase, dita pelo jornalista André Trigueiro durante a cobertura dos dias que antecederam a COP 30, ficou martelando em minha cabeça o dia todo.
“O que é a COP: A Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (CQNUMC ou UNFCCC, na sigla em inglês) criou a Conferência das Partes (COP) como órgão responsável por tomar as decisões necessárias para implementar os compromissos assumidos pelos países no combate à mudança do clima. A COP é composta por todos os países que assinaram e ratificaram a Convenção. Atualmente, 198 países participam da UNFCCC, o que faz dela um dos maiores órgãos multilaterais do sistema das Nações Unidas (ONU).”
E não é porque ela tranquiliza. Ao contrário. É justamente porque ela nos joga para o centro do problema: o planeta vai seguir, mas o que estamos fazendo com ele pode torná-lo cada vez mais inóspito e nossa própria permanência por aqui, um grande desafio.

Essa minha reflexão é sincera. De alguém que luta pela natureza, mesmo à distância dos grandes palcos. Infelizmente, não pude estar presente fisicamente na COP 30, que acontece em Belém (PA). Mas estou atento a tudo.
Porque essa conferência, para mim, é um termômetro de como o mundo, especialmente o Brasil, está encarando a crise ambiental que vivemos. Acredito que ela pode definir nossas ações pelas próximas décadas, como aconteceu na Eco 92, há tantas décadas atrás.
Mudança climática sempre existiu.
Essa é uma das maiores armadilhas da “desinformação”: usar o argumento de que o clima da Terra sempre variou como justificativa para continuarmos fazendo tudo como sempre fazemos, pois não estamos interferindo em nada. O perigo das meias verdades…
Sim, o clima muda constantemente durante toda a história do planeta. Mas dessa vez, existem algumas variáveis complicadas relacionadas ao comprometimento dos elementos necessários para a manutenção do equilíbrio ambiental.
Estamos interferindo de forma profunda nos ciclos naturais. Desmatamos florestas inteiras que regulavam microclimas. Poluímos oceanos, rios e o ar que respiramos. Retificamos rios, impermeabilizamos o leito, destruímos margens e nascentes como se fossem empecilhos ao “progresso”.
Agora estamos colhendo as consequências disso. Em forma de enchentes, secas, ciclones e tempestades cada vez mais imprevisíveis e agressivas.
Não é só sobre o clima
Estamos chamando de “mudança climática” algo que vai muito além. Andei refletindo sobre se o que temos não seria uma “crise ambiental” sistêmica. Estamos alterando profundamente os ecossistemas que sustentam a vida, inclusive a nossa.
E esse desequilíbrio não se distribui de forma igual. Como Trigueiro bem apontou, a cidade mais rica do país sofre com falta d’água, enquanto no norte a agricultura já sofre por falta de chuva… na floresta tropical mais úmida do planeta.
O problema é ambiental, social, cultural, político e também econômico.
A vida segue. Mas segue como?
Como fotógrafo e ambientalista, tenho visto com meus próprios olhos o peso do que estamos vivendo. A cada novo projeto, percebo que o que antes era comum se tornou raro. Animais antes abundantes hoje são difíceis de encontrar. Florestas antes intactas hoje estão ameaçadas por loteamentos, monoculturas ou incêndios. Rios antes perenes, agora estão secos permanentemente. Ninguém me contou… eu vivi ao longo dos últimos 20 anos como fotógrafo de natureza e participando de projetos de conservação.
A natureza está gritando. E quem sente primeiro são os mais vulneráveis. Ainda assim, eu sigo acreditando. E não estou sozinho. Nesse exato momento, muitos de meus colegas que lutam pela mesma causa, estão em Belém do Pará, esforçando-se para que tenhamos um mundo mais justo, um mundo melhor.
A COP 30 não é só para quem está lá
Mesmo à distância, me sinto parte dessa conversa. Porque a COP 30 não é só para especialistas ou autoridades. É uma oportunidade para repensarmos nossos hábitos, nossa relação com o território e, principalmente, com o futuro que estamos construindo.
Acompanhar a programação da conferência é importante e está disponível para todos nos sites oficiais. Serão muitos eventos, tratando de temas que vão da biodiversidade à adaptação, da redução de emissões ao combate ao metano, da governança climática à valorização dos povos originários.
Precisamos começar a mudar no nosso dia a dia. Precisamos plantar árvores, mas também plantar ideias. Reduzir o consumo, mas também aumentar a empatia. Temos que ter empresas mais conscientes e sustentáveis. Precisamos fazer isso para termos uma chance como sociedade.
Adaptação
Já passou da hora de pararmos de tratar essa crise como algo do futuro. Ela já está acontecendo. As chuvas descontroladas, o calor extremo, a seca que atinge até as cidades mais ricas… tudo isso já é o retrato de uma nova realidade.
Por isso temos que reduzir os nossos impactos e precisamos nos adaptar. E é aqui que entra um dos grandes dilemas: como adaptar nossas cidades, nossos modos de produção, nossas vidas, a um mundo onde muitos não reconhecem o problema?
Essa é, sem dúvida, uma das questões mais urgentes da COP 30. Porque adaptar-se exige planejamento de longo prazo, exige reconhecer que o modelo atual está esgotado. Exige vontade política, investimento e talvez o mais difícil, uma mudança profunda de mentalidade coletiva.
E, se quisermos mesmo nos adaptar com dignidade, a justiça climática precisa estar no centro dessa conversa. Porque não dá para pedir que todos se adaptem do mesmo jeito, quando muitos mal têm acesso à água potável, passam necessidades básicas ou moram em áreas de risco.
Certa vez, um amigo me falou a seguinte frase: “Ninguém vai pensar no verde com a conta no vermelho!”. E isso faz muito sentido para mim!
Não dá para planejar adaptação sem incluir quem está na linha de frente do problema, vivendo essas questões no dia a dia (comunidades tradicionais, ribeirinhos, agricultores familiares, e pessoas em situação de vulnerabilidade social).
A crise ambiental não é democrática nos seus impactos. E nossa resposta a ela não pode ser indiferente a isso.
O mundo não vai acabar
Mas talvez, a nossa forma de viver nele, mude. E precisamos refletir se é isso mesmo que queremos que aconteça. Ou vamos escolher deixar que aconteça? Vale lembrar, que somos a única espécie que tem a chance de ter uma opção sobre a questão.
Talvez seja a oportunidade que temos de recomeçar. De aprender com os erros e construir um novo caminho, mais justo, mais equilibrado, mais conectado com a vida.
Estarei acompanhando a COP 30 de longe, mas com o coração presente. Pois é nesse palco tão disputado, que acredito que nosso destino está para ser traçado… ao menos tem muita gente por lá disposta a lutar por essa chance.
E gostaria de mandar uma mensagem para vocês que estão nos representando:
“Àqueles que nos representam na COP 30, torço para que levem consigo a serenidade, o diálogo e a empatia necessários para honrar essa missão. Que cada decisão reflita o compromisso com um mundo mais justo para as pessoas e para a natureza. Que a luz guie os passos de quem chegou até aí com esforço e boas intenções, pois o que for semeado nesta conferência pode definir o futuro de todos nós.”
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