Da “coleção descartável” à moda responsável: a lei francesa é só o começo

A indústria têxtil é um grande gerador de resíduos, alguns difíceis de reciclar, devido sua composição química, nas tintas. Compartilho a publicação de Padula, Carlos Eduardo (CEO | Conselheiro de Empresas | Palestrante | Estratégia, Go-to-Market, Varejo, Franquias e Profissionalização de Empresas Familiares), especialista no tema.

Há poucos dias, o Senado francês deu mais um passo decisivo ao aprovar a Lei Anti-Fast Fashion, que prevê eco taxas de até €10 por peça, proíbe publicidade e parcerias com influenciadores de plataformas como Shein e Temu e cria um “eco-score” obrigatório para avaliar o impacto ambiental de cada produto .
Não é exagero dizer que se trata de um divisor de águas: quando a segunda maior economia da Europa coloca limites claros ao modelo de hiperprodução, sinaliza a urgência de repensarmos toda a cadeia de valor da moda, uma indústria que tem grande impacto no meio ambiente.


Por que isso importa?


Montanhas de desperdício – Só no Deserto do Atacama, no Chile, pelo menos 39 mil toneladas de roupas que não encontraram comprador são descartadas todos os anos.


Dumping têxtil na África – Em Acra (Gana), 15 milhões de peças chegam toda semana; 40 % viram lixo imediato, soterrando praias e cursos d’água.


Ciclo vicioso de preço baixo Produção acelerada + margens espremidas = salários injustos e qualidade que não resiste a dez lavagens.


Consumo consciente 2.0 — três chaves para a virada


1. Preço que reflita o custo real


• Salário digno na costura e na logística.
• Internalização do passivo ambiental nas etiquetas – quem polui, paga.


2. Produto para durar


• Design focado em reparabilidade e materiais de maior gramatura.
• Garantias estendidas e serviços de conserto como novos fluxos de receita.


3. Circularidade e second-hand como padrão, não exceção


• Marketplaces de revenda integrados às próprias marcas.
• Modelos de assinatura, aluguel e take-back para reencaminhar peças ao ciclo produtivo.

E o papel dos demais países?


A regulação francesa abre margem para um “efeito dominó” regulatório. Se a UE, o Mercosul e demais blocos adotarem critérios equivalentes, cria-se um novo campo de jogo em que competir significa ser sustentável por design — não apenas compensar depois.


No Brasil, por exemplo, a discussão sobre Responsabilidade Estendida do Produtor precisa sair dos relatórios e ganhar força legislativa: sem metas de recolhimento e reciclagem, continuaremos exportando lixo têxtil para quem menos pode arcar com ele.


 “Essa iniciativa pode influenciar outros países e marcar uma virada global em direção a uma moda mais consciente.”


Não por acaso, o ápice do consumo consciente reside na máxima “usar mais, por mais tempo, por mais pessoas”.


Comprar, revender, reparar, alugar, doar — tudo faz parte de um mesmo sistema circular que remunera melhor o trabalho, reduz a extração de recursos e devolve relevância ao valor de uso.


Vamos transformar esse futuro em presente? Quem embarca nessa conversa, deixe um comentário ou compartilhe cases de circularidade que já estão fazendo diferença.

Celso Bastos

Colunista

Arquiteto e Urbanista, Mestre em Engenharia Civil e Doutor em Engenharia Ambiental, é Sócio fundador da NB Projetos Ltda. (projeto e consultoria), Diretor Técnico da OUT arquitetura & engenharia, Coordenador do Clube de Economia Circular – Vitória (Londres), Ambassador in Brazil of the International Circular Construction Cluster (ICCC). (Eslovênia), Profissional com mais de 40 anos de atuação na área de projetos, e construções, como foco na Sustentabilidade, Economia Circular e Construção Circular.

Arquiteto e Urbanista, Mestre em Engenharia Civil e Doutor em Engenharia Ambiental, é Sócio fundador da NB Projetos Ltda. (projeto e consultoria), Diretor Técnico da OUT arquitetura & engenharia, Coordenador do Clube de Economia Circular – Vitória (Londres), Ambassador in Brazil of the International Circular Construction Cluster (ICCC). (Eslovênia), Profissional com mais de 40 anos de atuação na área de projetos, e construções, como foco na Sustentabilidade, Economia Circular e Construção Circular.