Quando aceitei o convite para integrar a delegação capixaba na 5ª Conferência Nacional de Meio Ambiente, em Brasília, meu coração pesou com a responsabilidade.
Representar o Espírito Santo e o Instituto Últimos Refúgios em um evento dessa magnitude é uma honra.
Estou aqui como fotógrafo de natureza, sim, mas também como cidadão que acredita na força de nossas ações como instrumento de mudança.
Na bagagem, não trouxe minhas lentes, mas sim histórias e vivências que me conectam à luta ambiental. E agora, por quatro dias, me junto a outras 37 vozes capixabas em busca de caminhos para enfrentar, o que particularmente considero, a maior emergência do nosso tempo: a crise climática.
O poder da presença
A primeira imagem que quero compartilhar é emblemática: a delegação capixaba reunida no Centro Internacional de Convenções do Brasil, em Brasília.
Cada rosto ali carrega um território, uma causa, uma angústia, uma urgência. Estar nesse grupo é, ao mesmo tempo, inspirador e desafiador.
São oficinas e rodas de escuta com pessoas que vieram de todos os cantos do país. Escolhi contribuir no grupo de trabalho cujo tema é, a meu ver, o que mais se conecta ao que faço: a educação ambiental e a governança climática.
São áreas onde acredito que posso colaborar de forma mais significativa, somando minha experiência com Organizações da Sociedade Civil (OSCs), à força das palavras e ações.
O Brasil como protagonista climático
O Brasil tem a oportunidade de se destacar na luta contra a destruição ambiental. Podemos ser o centro das atenções mundial e ganhar protagonismo entre as nações, o que não só seria vantajoso politicamente, mas também faria com que o povo brasileiro sentisse orgulho de nosso país.
A conferência deste ano trouxe um tema que não permite adiamentos: “Emergência Climática: o desafio da transformação ecológica”. Ao longo da semana, são debatidos cinco eixos principais: mitigação, adaptação e preparação para desastres, justiça climática, transformação ecológica e governança com educação ambiental. Todos interligados. Todos urgentes.
O Brasil (e o mundo) está caminhando para um grande desequilíbrio climático. Essa é a minha visão sobre essa crise. Um problema que como espécie, não estamos preparados para enfrentar.
O mundo está queimando, alagando, desabando. Parar a destruição já não basta. Precisamos restaurar ecossistemas e preparar comunidades para os impactos que já estão em curso.
A hora é agora. É isso que vim tentar trazer e reforçar. Digo “reforçar” porque existem outros que também têm o mesmo entendimento.
Minha missão
Como fotógrafo de natureza, aprendi a ouvir o silêncio das matas, ver na profundidade do olhar dos bichos e a urgência dos rios em chegar ao seu destino.
Estar nessa conferência é uma extensão do que venho fazendo há anos: contar histórias, por meio do meu entendimento do mundo, para conectar pessoas ao ambiente.
A imagem que registro hoje não é de um beija-flor no ninho ou de uma onça na mata. É da mobilização de gente comum disposta a transformar o futuro. Gente que sabe que não dá mais para esperar por heróis. A ação tem que vir de nós.
Histórias que se cruzam
Dessa vez não trouxe minha câmera. Hoje, vim como cidadão que se preocupa com o destino das pessoas que amo, com o sofrimento dos animais, com o desaparecer das florestas e a assustadora possibilidade do desequilíbrio dos ciclos hídricos.
Minha primeira impressão ao chegar na plenária principal, durante o discurso da Ministra de Meio Ambiente, Marina Silva, foi em relação às pessoas presentes.
Ao observar os presentes, percebi muitas pessoas ávidas para fazer a diferença. Animadas com a possibilidade de participarem de algo importante. Mas também percebi uma grande angústia no ar, com gente buscando desesperadamente por ajuda. Cartazes com causas locais, gritos de guerra, pedidos de socorro. Confesso que uma lágrima escorreu no canto do olho, sentido a frustração de tanta gente que, ao que parece, se importa. E muito!
Entre uma sessão e outra, encontro pessoas inspiradoras, como indígenas que falam de seus territórios com firmeza, vejo pessoas de idade, que ainda têm esperança de ver um mundo melhor, jovens cheios de garra lutando por um futuro que lhes foi roubado pela ganância de poucos.
O cenário que encontrei aqui, me faz sentir pequeno em meio a uma mistura de frustrações e esperança. Eu, apenas mais um, no meio de tantos outros com trabalhos mais importantes que o meu, e que sinto que também acham que não estão fazendo o suficiente. Nunca é!
Mas a mensagem que quero passar é: mostrar que há gente lutando. Que o Brasil está se movimentando, mesmo que aos trancos.
Por que você deveria se importar com isso?
Pode parecer distante, mas o que está sendo discutido em Brasília impacta diretamente o seu dia a dia.
Da qualidade da água que você bebe à segurança da sua cidade frente a enchentes, tudo passa por decisões como as que estamos priorizando aqui.
E o Espírito Santo está presente, ativo, contribuindo com propostas, ideias e soluções. Somos 38 representantes capixabas comprometidos com um futuro mais equilibrado.
Um retrato coletivo de ações contra a Crise Climática
Ao final da conferência, será entregue à ministra Marina Silva um conjunto de 100 propostas para o enfrentamento da emergência climática no Brasil.
Entre elas, estarão ideias gestadas em comunidades quilombolas, assentamentos rurais, escolas públicas e universidades.
Propostas que vieram das bases, com as conferências municipais e estaduais, das quais também estive presente, e subiram até o topo, por meio de um processo democrático que envolveu milhares de brasileiros em todas as regiões do país.
E eu estou aqui, colaborando com o pouquinho que que me compete. E trago essa mensagem, não por vaidade, mas por compromisso.
A fotografia mais urgente que já fiz
Se me perguntarem qual a imagem mais importante que já registrei, talvez seja essa: minha presença aqui. O clique que mostra um fotógrafo capixaba entre delegados, ativistas e sonhadores.
Porque, como costumo dizer, não fotografo só bichos — fotografo uma guerra. Uma luta pela sobrevivência de nossa própria espécie.
E essa é, sem dúvida, uma das mais urgentes: a transformação de como o NOSSO Brasil lida com a natureza. E digo “nosso” com convicção, pois ele é do povo brasileiro, das florestas, dos animais e não só dos grandes empresários e políticos gananciosos, que destroem para individualizar ganho e socializar o caos.
É hora de agir. Agora!
O planeta não nos pede mais promessas. Ele exige ação. É por isso que estou aqui, em Brasília, deixando meu cotidiano, já muito corrido, que divido entre trabalho e ações voluntárias, para me juntar a outras vozes e lutar por políticas públicas ambientais robustas e justas. É preciso restaurar, resistir e reinventar.
Ainda tenho esperança!
Se você, que me lê agora, também acredita nisso, compartilhe essa história. Mostre que se importa. Converse sobre isso. E, principalmente, não desista!
Espero que tenham gostado desta história. Te vejo na próxima aventura!