Foto: Leonardo Merçon
Foto: Leonardo Merçon

Estudos comprovam o que eu, particularmente, já sentia: observar a natureza faz bem para a mente, para o corpo e para a vida.

Mas como, lá no fundo, eu já sabia disso?

O estado mental de quem se importa com a natureza e com outras pessoas é muito afetado. Por mais apaixonante que seja lutar nas causas ambientais, os dias são cheios de notícias difíceis, retrocessos e desafios que, muitas vezes, parecem intransponíveis. 

Onça-parda atropelada na BR-101, que corta a Reserva Biológica de Sooretama.

Todos os dias pessoas entrando em contato comigo pedindo ajuda para alguma causa impossível… causas essas que o poder econômico e a ganância dos perpetradores dessas “violências” para com a natureza, fazem parecer batalhas grandes demais. 

É um peso constante nos ombros. Mas existe algo que sempre me traz de volta ao eixo: observar a natureza. 

Foto: Leonardo Merçon
Foto: Leonardo Merçon

Não estou sozinho

Diversos estudos têm reforçado que a natureza tem o poder de nos fazer mais felizes. E nesse contexto, os observadores de natureza estão entre as pessoas mais felizes do mundo. 

Um dos artigos mais citados tem dados coletados com 26 mil pessoas em 26 países da Europa. A pesquisa, conduzida pelo German Center for Integrative Biodiversity Research, concluiu que viver próximo a áreas naturais com maior diversidade de aves está diretamente relacionado ao aumento da satisfação com a vida. 

Segundo os autores, observar cerca de 14 espécies de aves regularmente pode gerar o mesmo impacto na felicidade que um aumento de 150 dólares mensais na renda. Ou seja, o bem-estar proporcionado pelo contato com a biodiversidade é real e mensurável… e os animais, e em especial as aves, são uma das maiores responsáveis por isso.

Quando li essa afirmação pela primeira vez, sorri. Senti como se alguém tivesse colocado em palavras o que eu sinto há anos. A ciência só veio confirmar aquilo que a alma já sabia.

O poder da natureza

Quando estou em um ambiente natural, com a câmera apontada para um assunto, o tempo muda. Tudo desacelera. A percepção das coisas à minha volta fica mais aguçada, com se antes, estivesse eu um torpor.

Uma abstração causada por meu próprio cérebro para me proteger do caos de sons, cores e formas da cidade. Meu foco está ali, no bater de asas, no balançar das folhas, no instante em que um olhar de um animal cruza com o meu. São segundos que, de tão simples, se tornam eternos.

Da sala de aula para a floresta

Foi com esse espírito que criamos no Instituto Últimos Refúgios o projeto Clube de Observadores da Natureza. A ideia é simples: levar a experiência da observação para dentro das escolas. 

Começamos com conversas em sala de aula, depois levamos os alunos para explorar o jardim, a pracinha ao lado, e quando possível, até uma Unidade de Conservação.

Com o apoio de professores e ferramentas como o iNaturalist, Biofaces e o WikiAves, as crianças começam a identificar espécies, registrar descobertas e compartilhar curiosidades. E o mais bonito: começam a cuidar. Porque aquilo que faz parte da vida delas passa a importar. E quando a natureza importa, ela começa a ser protegida.

Uma lição

Ver a alegria de uma criança ao identificar seu primeiro bem-te-vi, um sabiá ou um canário-da-terra é algo difícil de descrever. Assim como é difícil colocar em palavras o que sinto quando vejo uma saíra colorida saltando entre galhos ou vejo o vulto de um mamífero por entre as folhagens. Mas talvez não seja preciso descrever. Talvez o segredo esteja em viver.

Observar a natureza me devolve ao presente. Me lembra que, apesar de tudo, ainda há beleza no mundo. E isso, para mim, é felicidade.

A natureza como ponte para a felicidade

Além de ser uma atividade científica ou educativa, a observação da natureza é uma forma de se reconectar. Com a terra, com os outros, consigo mesmo. Em tempos de ansiedade, isolamento e excesso de telas, olhar para o azul do céu, o verde das florestas ou o verde-esmeralda do mar, pode ser o respiro que faltava.

Por isso, se você ainda não tentou, experimente. E o melhor, não são necessários equipamentos caros para observar a natureza. Eu uso uma câmera grande, porque sou fotógrafo e é disso que gosto, mas tenho amigos que já acompanhei, que usam somente uma pequena caderneta e um lápis. Até um celular pode ser uma ótima ferramenta. O importante é não deixar que a falta de aparatos, nosso tempo corrido ou as frustrações da vida, nos podem de viver o mundo real.

Certa vez escutei a frase: “A alma enruga primeiro que a pele!”

Vá para um parque, escute o canto que vem de longe, sinta a luz do sol, a brisa do vento, o cheiro da terra. Pode ser que você descubra, como eu, que os passarinhos não só alegram a paisagem, eles também desenrugam a alma.

Saiba mais sobre a observação de aves no site do Instituto Últimos Refúgios aqui.

Leonardo Merçon

Fotógrafo de Natureza, Cinegrafista e Produtor Cultural

Fundador e diretor voluntário do Instituto Últimos Refúgios, OSC ambiental/cultural sem fins lucrativos, que atua desde 2011 na divulgação e sensibilização ambiental, estimulando o diálogo entre sociedade, organizações ambientais, instituições privadas e governamentais. Fotógrafo de natureza, documentarista desde 2004, Merçon é focado na proteção da natureza, com Mestrado em Conservação da Biodiversidade e Desenvolvimento sustentável pela ESCAS/Instituto IPÊ. Também formado em Design Gráfico pela Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes). Estudou fotografia voltada para publicações na Academia de Mídias e Artes, na Alemanha. O colunista acredita e trabalha em atividades de sensibilização ambiental (em especial com crianças) e fomento do turismo relacionado à natureza. Leonardo Merçon também tem dezenas de livros impressos e documentários em vídeo publicados. Realiza trabalhos ajudando a contar histórias por meio de imagens em mídias nacionais e internacionais, como a BBC de Londres e National Geographic Brasil, dentre outras.

Fundador e diretor voluntário do Instituto Últimos Refúgios, OSC ambiental/cultural sem fins lucrativos, que atua desde 2011 na divulgação e sensibilização ambiental, estimulando o diálogo entre sociedade, organizações ambientais, instituições privadas e governamentais. Fotógrafo de natureza, documentarista desde 2004, Merçon é focado na proteção da natureza, com Mestrado em Conservação da Biodiversidade e Desenvolvimento sustentável pela ESCAS/Instituto IPÊ. Também formado em Design Gráfico pela Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes). Estudou fotografia voltada para publicações na Academia de Mídias e Artes, na Alemanha. O colunista acredita e trabalha em atividades de sensibilização ambiental (em especial com crianças) e fomento do turismo relacionado à natureza. Leonardo Merçon também tem dezenas de livros impressos e documentários em vídeo publicados. Realiza trabalhos ajudando a contar histórias por meio de imagens em mídias nacionais e internacionais, como a BBC de Londres e National Geographic Brasil, dentre outras.