Mário Constantino, do Instituto Terra, explica sua visão sobre a COP 30

A voz do Mário chegou até mim com sinceridade e eloquência. Uma visão de quem realmente está participando ativamente das atividades. Ele está na COP 30 representando o Instituto Terra, organização criada pelo Sebastião Salgado e pela Lélia Wanick, e que transformou uma área devastada em Aimorés em um laboratório vivo de recuperação ambiental e desenvolvimento social sustentável. 

Mário conhece de perto a força da restauração e o impacto que ela tem para a vida. Por isso, ouvir sua leitura da conferência é ver a COP a partir de alguém que vive diariamente a prática da regeneração.

Um organismo multilateral

A primeira imagem que ele descreveu foi a dimensão física da COP. Um espaço imenso, montado no Parque da Cidade, em Belém, capaz de exigir meia hora de caminhada de ponta a ponta. A grandiosidade não é apenas estrutural. São 56 mil delegados oficiais circulando por salas de negociação, painéis, corredores e encontros improvisados. 

E isso é só o lado “oficial”. Fora do perímetro da conferência, a cidade vibra com pavilhões independentes, casas temáticas, exposições, festivais e debates paralelos, com milhares de pessoas engajadas nas discussões por um mundo mais sustentável.

As vozes que se somam ali são diversas: povos indígenas, movimentos sociais, cientistas, empresários, estudantes, pesquisadores, jornalistas e artistas. Segundo o próprio Mário, quando se soma tudo isso, ele imagina que seja provável que esta seja a maior COP já realizada. Belém está vivendo a COP.

As metas e a realidade

Enquanto caminhava, Mário explicava a lógica das discussões oficiais. Em uma das áreas mais restritas, os delegados de centenas de países se reúnem para negociar temas centrais do clima, entre eles as NDCs, compromissos que cada país apresenta para reduzir emissões de gases de efeito estufa. O Brasil atualizou as suas recentemente, assumindo a meta de reduzir as emissões.

Mas para Mário, a questão mais importante não é o anúncio, e sim a implementação. Ele cita um exemplo simples. O país diz que quer reduzir emissões. Como isso será feito? Frota de ônibus movidos por energia limpa? Redução do desmatamento? Incentivo à bioeconomia? Parcerias internacionais?

No caso brasileiro, mais de 70% das emissões vêm da mudança de uso do solo e da agropecuária. Então, para o Brasil, a equação passa por conservar florestas, recuperar áreas degradadas e transformar práticas agrícolas.

Essa leitura conecta diretamente com a experiência do Instituto Terra. A restauração que aconteceu em Aimorés não para na técnica. Ela demonstra na prática que a mudança de paradigma é possível, desde que haja continuidade, ciência e envolvimento comunitário.

Papel da sociedade

Entre os relatos, um ponto ficou muito claro. A COP consegue produzir consensos e, com dificuldade, implementá-los. Só que tudo ainda acontece em uma velocidade muito menor do que a necessária. A diplomacia opera, mas o tempo da crise atual corre mais rápido.

Por isso, Mário reforça o papel essencial da sociedade civil. O que acontece fora das salas oficiais é tão importante quanto o que acontece dentro. Ele comentou falas recentes de lideranças políticas brasileiras que apontam a mesma direção: metas só se transformam em realidade quando a população organizada cobra agilidade, transparência e prioridades condizentes com a crise ambiental.

A COP é um lugar de contradições. Tem acordos sérios e greenwashing (sempre ocorrem, mas com a esperança de que uma mentira sendo contada muitas vezes, pode se tornar uma verdade… até para os mentirosos). Tem articulação social profunda e negócios com intenções duvidosas. Tem avanço real e retrocesso evidente. O valor está justamente na convivência dessas camadas. Para Mário, quem enxerga a COP apenas como um espaço de interesses obscuros perde a outra metade.

A pluralidade

O que me chamou atenção no relato do Mário é a clareza com que ele aceita as contradições. Ele não romantiza a conferência, mas também não a descarta, o que corrobora muito com a minha própria visão. Ele vê o peso das negociações, reconhece suas falhas e, ao mesmo tempo, valoriza o encontro de ideias, culturas e caminhos possíveis.

É a visão de alguém que trabalha com restauração florestal todos os dias. Quem vive a reconstrução sabe que nada muda rápido, mas também sabe que tudo começa com o plantio de uma pequena muda, que 20 anos depois, torna-se uma floresta se somadas às milhares de outras mudas que foram plantadas ao redor.

As palavras dele revelam algo importante. A COP é parte da vida real, um encontro imperfeito que tenta solucionar uma crise e suas consequências. Incompleta, mas incontestavelmente relevante.

Um momento histórico

Ao final do relato, Mário mencionou que estamos encerrando a primeira semana da COP. Ele espera que a “temperatura” das negociações suba nos próximos dias. As discussões mais sensíveis precisam emergir. É nesse momento que decisões importantes podem surgir. E é também quando a sociedade precisa estar mais atenta.

Enquanto ele descrevia a energia da conferência, pensei no contraste entre aquele ambiente agitado e o silêncio profundo das florestas restauradas pelo Instituto Terra. Mesmo assim, os dois lugares lidam com o futuro. Ambos tentam reconstruir o equilíbrio. O mundo tentando se reorganizar! Espero que consigamos… 

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Leonardo Merçon

Fotógrafo de Natureza, Cinegrafista e Produtor Cultural

Fundador e diretor voluntário do Instituto Últimos Refúgios, OSC ambiental/cultural sem fins lucrativos, que atua desde 2011 na divulgação e sensibilização ambiental, estimulando o diálogo entre sociedade, organizações ambientais, instituições privadas e governamentais. Fotógrafo de natureza, documentarista desde 2004, Merçon é focado na proteção da natureza, com Mestrado em Conservação da Biodiversidade e Desenvolvimento sustentável pela ESCAS/Instituto IPÊ. Também formado em Design Gráfico pela Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes). Estudou fotografia voltada para publicações na Academia de Mídias e Artes, na Alemanha. O colunista acredita e trabalha em atividades de sensibilização ambiental (em especial com crianças) e fomento do turismo relacionado à natureza. Leonardo Merçon também tem dezenas de livros impressos e documentários em vídeo publicados. Realiza trabalhos ajudando a contar histórias por meio de imagens em mídias nacionais e internacionais, como a BBC de Londres e National Geographic Brasil, dentre outras.

Fundador e diretor voluntário do Instituto Últimos Refúgios, OSC ambiental/cultural sem fins lucrativos, que atua desde 2011 na divulgação e sensibilização ambiental, estimulando o diálogo entre sociedade, organizações ambientais, instituições privadas e governamentais. Fotógrafo de natureza, documentarista desde 2004, Merçon é focado na proteção da natureza, com Mestrado em Conservação da Biodiversidade e Desenvolvimento sustentável pela ESCAS/Instituto IPÊ. Também formado em Design Gráfico pela Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes). Estudou fotografia voltada para publicações na Academia de Mídias e Artes, na Alemanha. O colunista acredita e trabalha em atividades de sensibilização ambiental (em especial com crianças) e fomento do turismo relacionado à natureza. Leonardo Merçon também tem dezenas de livros impressos e documentários em vídeo publicados. Realiza trabalhos ajudando a contar histórias por meio de imagens em mídias nacionais e internacionais, como a BBC de Londres e National Geographic Brasil, dentre outras.