A palmeira-juçara é uma planta nativa ameaçada da Mata Atlântica. É um símbolo de resistência, de beleza e de transformação. E foi com a ajuda da colega Fabiana Ruas que vivi um ponto de virada marcante em minha trajetória como ambientalista.
Redescobrindo a floresta
Durante muitos anos, chamei a juçara, e todas as outras palmeiras, apenas de “palmito”. Para mim, ela era sinônimo de extração, de uma comida apreciada à custa do corte de uma árvore inteira.
Eu a via como algo que se cortava, se vendia e se esquecia. Mas algo mudou. Uma mudança provocada por conversas com ambientalistas, pesquisadores e, principalmente, por encontros com pessoas que dedicam suas vidas à conservação.
Foi em uma dessas conversas que conheci o trabalho da bióloga Fabiana Gomes Ruas, uma das figuras inspiradoras que cruzaram meu caminho.
Ela não só me mostrou o valor da juçara como planta viva, mas me fez enxergar todo o ecossistema que pulsa ao redor dela, bem como podia valer muito mais em pé. E foi assim que ela passou a ter outro nome na minha mente: palmeira-juçara, viva e de pé.
O fruto que sustenta a floresta – e famílias também
Hoje eu sei: a palmeira-juçara é uma das espécies mais importantes para a biodiversidade da Mata Atlântica. Seus frutos alimentam aves como tucanos, sabiás e jacutingas, além de mamíferos como morcegos e porcos-do-mato, que também ajudam a dispersar suas sementes.
O que me impressionou ainda os ensinamentos da Fabiana, foi saber que, ao contrário da extração do palmito que mata a planta, é possível fazer o manejo sustentável de seus frutos, mantendo a palmeira viva por muitos anos, assim como é feito com o açaí, muito apreciado no mundo inteiro.
E mais: esse manejo pode gerar renda para comunidades rurais inteiras.
É exatamente isso que a Fabiana vem promovendo no Espírito Santo. Ela é a idealizadora da Rede Juçara, um movimento que reúne dezenas de produtores e produtoras dedicados a transformar o fruto da juçara em fonte de renda.
Eu mesmo participo do grupo e acompanho de perto o entusiasmo dos envolvidos. Já existem famílias tirando seu sustento do fruto dessa palmeira. E isso é apenas o começo.
A trilha que me levou até a imagem que eu precisava fazer
As imagens que ilustram este texto nasceram de experiências reais. A imagem da palmeira-juçara que ilustra esse post, foi uma transformação pessoal.
Normalmente não costumava fotografar muitas plantas. No máximo ficava ligado ao colorido das flores.
Entretanto, em meu trabalho de campo no livro sobre o Corredor Ecológico entre o Parque da Pedra Azul e o Parque de Forno Grande, fui sensibilizado sobre essa planta pelos amigos da Reserva Águia Branca, que se orgulhavam em tê-la em abundância em sua trilha de visitantes.
Mas após perceber o orgulho que a Adriana, a Jessica e a Aline tinham daquela árvore, mesmo sem entender muito bem o que aquilo significava, comecei a prestar mais atenção nas árvores e plantas. O que hoje em dia, entendo como uma evolução na forma que vejo a floresta e o que me deixou aberto para muitos outros ensinamentos dos entusiastas das plantas, como a Fabiana.
Essa é uma síntese de tudo que vivi e compreendi em relação ao tema. A floresta está viva porque há juçaras em pé. E há juçaras em pé porque há gente cuidando delas.
A palmeira-juçara
A Euterpe edulis, como é conhecida cientificamente, tem raízes profundas, não só na terra, mas na cultura e na história dos povos da Mata Atlântica.
Na imagem da esquerda, uma muda de palmeira-juçara nasce naturalmente no meio da floresta. À direita, uma palmeira-juçara já bem desenvolvida, fotografada na trilha de visitantes da Reserva Águia Branca. | Foto: Leonardo Merçon / Instituto Últimos Refúgios
Em Tupi, seu nome significa “a que é mole e boa de comer”. Mas ela vai muito além disso. Seu fruto roxo-escuro é base para a produção do “açaí da Mata Atlântica”, o juçaí, que guarda sabores e saberes diferentes daquele produzido na Amazônia.
Hoje, escolas do interior, merendeiras, educadores e agricultores estão descobrindo o sabor da conservação por meio do preparo do suco da juçara. São experiências que unem geração de renda, orgulho local e educação ambiental.
Floresta viva
A palmeira-juçara é, para mim, o símbolo de como podemos, sim, conciliar conservação e desenvolvimento. Com respeito, conhecimento e ação. A floresta não é cenário. Ela é protagonista. E os frutos que dela brotam são convites a um outro modo de viver.
É por isso que essa história precisa ser compartilhada e celebrada. Porque quanto mais pessoas conhecerem o valor das plantas nativas, mais árvores ficarão de pé, mais animais terão o que comer e mais comunidades terão com o que sonhar.
Fechando o ciclo com orgulho e pertencimento
Que possamos sentir orgulho da Mata Atlântica que ainda resiste. Da palmeira-juçara que segue viva. Da Fabiana e de tantas outras pessoas que plantam, cuidam e colhem frutos com consciência. Que a gente se reconheça como parte dessa floresta.
Visite, comente, curta e compartilhe este conteúdo. Envie o link da matéria para seus amigos que vão curtir esta história. Sua interação é fundamental para manter viva a minha chama da conservação e mostrar ao mundo a importância de proteger nossa biodiversidade.
Espero que tenham gostado desta história. Te vejo na próxima aventura!