Receber Alexsandro Sant’Ana dos Santos, coordenador de pesquisa e conservação; e Rafael Kuster Gonçalves, oceanógrafo, ambos do Projeto Tamar, foi daquelas experiências que ficam na memória. Falamos sobre cultura oceânica, sobre o papel das espécies bandeira e sobre a proteção das tartarugas marinhas no Espírito Santo, que abriga desovas e áreas de alimentação fundamentais para a conservação.

Entre lembranças, ciência e educação ambiental, ficou claro por que o Projeto Tamar no Espírito Santo é um símbolo de esperança e orgulho.

O Tamar chegou ao Estado no início da década de 1980, com a base de Comboios, em Linhares, uma das três primeiras do Brasil. De lá para cá, o projeto se tornou referência nacional ao unir pesquisa, educação e comunidade.

ES tem 5 espécies de tartarugas-marinhas

O Espírito Santo é o único estado brasileiro onde ocorrem as cinco espécies de tartarugas-marinhas do país: a gigante tartaruga-de-couro, a tartaruga-verde, a cabeçuda, a de pente e a oliva.

Cada uma encontra aqui um abrigo específico — nas águas calmas da Grande Vitória, nas ilhas e costões de Vila Velha, ou nas praias do litoral norte, onde acontecem as principais desovas.

Outro dado curioso reforça o papel do Estado: o Espírito Santo é um dos maiores produtores de machos de tartaruga-cabeçuda no país. Isso ocorre porque a temperatura mais fria da areia influencia diretamente o sexo dos filhotes. Um detalhe biológico que faz toda a diferença para a reprodução e a sobrevivência da espécie.

Ao longo dos anos, as ameaças mudaram. Se antes o risco era a caça e a coleta de ovos, hoje são o avanço urbano, a poluição luminosa e a pesca incidental. Há registros de fêmeas desorientadas atravessando ruas iluminadas, confundidas pelas luzes artificiais.

Por isso, o Tamar trabalha lado a lado com pescadores e moradores, transformando antigos coletores em guardiões da natureza. As comunidades entenderam que a tartaruga vale mais viva do que morta: ela gera renda, turismo e orgulho local.

45 anos de história e pesquisas

Além da proteção direta, o Tamar se tornou uma potência científica. Com 45 anos de monitoramento contínuo, mantém um dos bancos de dados mais robustos do planeta em biodiversidade marinha. Esse acervo alimenta pesquisas, forma parcerias e inspira outras instituições capixabas e brasileiras.

As ações do Tamar também aproximam o público por meio dos centros de visitantes, como o de Vitória, ponto turístico mais visitado da capital. Durante o verão, as caminhadas dos filhotes rumo ao mar emocionam quem tem o privilégio de assistir.

Entre histórias, descobertas e reflexões, Rafael e Alex resumem o espírito do Tamar: trabalhar com esperança. Acreditar que, mesmo diante das dificuldades, cada gesto importa. Proteger uma tartaruga é proteger o futuro.

É garantir que novas gerações possam ver esses animais nadando livres no mar capixaba. É manter viva a certeza de que, quando natureza e gente caminham juntas, a maré da vida segue em equilíbrio.

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Yhúri Cardoso Nóbrega

Colunista

Doutor em ecologia de ecossistemas, mestre em ciência animal e presidente do Instituto Marcos Daniel.

Doutor em ecologia de ecossistemas, mestre em ciência animal e presidente do Instituto Marcos Daniel.