Três filhotes de onças-pardas foram flagrados por armadilhas fotográficas na Reserva Biológica de Sooretama, no Noroeste do Espírito Santo. As imagens, registradas em agosto, mostram os trigêmeos caminhando ao lado da mãe, um flagrante raro na natureza.
Segundo a coordenadora do Projeto Felinos e professora da Universidade Vila Velha (UVV), Ana Carolina Srbek, o nascimento simultâneo de três filhotes é um indicativo positivo para a população de grandes felinos da região.
Os grandes felinos, representados nas Américas pela onça-pintada e pela onça-parda, sofrem muitas ameaças, como a perda de habitat e atropelamentos em rodovias. O nascimento de filhotes de onças-pardas representa a renovação da população da Reserva Biológica de Sooretama, renovando também nossa esperança na recuperação da espécie.”
Ana Carolina Srbek
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De acordo com a professora, os filhotes têm cerca de três meses de vida, a julgar pelo tamanho e pela pelagem que ainda apresenta manchas, conhecidas popularmente como “pintinhas”.
À medida que eles crescem, essas manchas vão desaparecendo. O fato de os três estarem vivos e saudáveis mostra que a mãe está em boas condições fisiológicas e que há alimento e território suficientes na reserva para sustentar a família.”
Ana Carolina Srbek
Nascimento de filhotes é indicador de conservação
A presença de três filhotes juntos não é comum na natureza. Em cativeiro, há registros de fêmeas que tiveram até seis crias, mas o mais frequente é o nascimento de dois filhotes.
Para Ana Carolina, o evento mostra que a Reserva de Sooretama está cumprindo seu papel de proteção à biodiversidade.
As onça-pardas são predadores de topo de cadeia e exigem grandes áreas e disponibilidade de presas para sobreviver. O fato de essa fêmea ter conseguido levar os três filhotes até os três meses de idade é um bom indicativo de que a reserva está oferecendo condições adequadas.”
Ana Carolina Srbek
O Projeto Felinos mantém um monitoramento de longo prazo na reserva, utilizando armadilhas fotográficas — equipamentos que registram fotos e vídeos automaticamente quando detectam movimento.
Esse acompanhamento permite identificar mudanças no comportamento da fauna e alertar para eventuais riscos à conservação.
“Nós vamos seguir com o monitoramento para acompanhar o desenvolvimento dos filhotes e verificar se eles chegarão à idade adulta e permanecerão na área. Esta é a terceira vez que acompanhamos o nascimento de filhotes desta mesma fêmea, e nas duas ocasiões anteriores nasceram apenas dois filhotes”, completou Ana Carolina.
Veja o registro:
Trigêmeos também no Cerrado
A coincidência é que, quase no mesmo período, um registro inédito foi feito no Cerrado brasileiro. Imagens de onças-pintadas trigêmeas foram registradas no Parque Nacional Grande Sertão Veredas, na divisa entre Minas Gerais, Bahia e Goiás.
Foi a primeira vez que uma ninhada de três filhotes foi vista na região, por meio de monitoramento realizado pela ONG Onçafari, em parceria com o ICMBio.
Segundo o biólogo Edu Fragoso, da Onçafari, o achado é um marco científico para o Cerrado.
É a primeira ninhada de trigêmeos que registramos nesta área. Nossa esperança é monitorá-los no futuro e conseguir material genético para compreender questões de paternidade e dispersão.”
Edu Fragoso, biólogo
O projeto já reúne mais de 21 mil registros de câmeras-trap no Parque Nacional, identificando entre 44 e 55 onças-pintadas na região — cerca de 40% delas melânicas, conhecidas como “panteras-negras”.
*Texto sob supervisão da editora Elisa Rangel
Estagiário
Jornalista em formação pela Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) e atua como estagiário no Jornal Folha Vitória
