A empresa Humana, da Espanha, estando à sua frente a pesquisadora e engenheira têxtil Catarina Carvalho, afirma que, em relação ao resíduo têxtil, 63% é reutilizado, mas e os outros 37%?
➡️O novo centro da Humana tem 15.000 m², conta com 90 trabalhadores e 70 mesas de processamento, além de zonas de prensagem, armazenamento e carga/descarga, o que demonstra um investimento sério em infraestruturas.
➡️A sua capacidade de triagem manual é de 57.000 kg de têxteis por dia, distribuídos por 85 categorias, um volume bastante elevado. A separação em muitas categorias permite identificar melhor as peças reutilizáveis ou de maior valor comercial, aumentando a eficiência da reutilização e da reciclagem.
♻️ Humana dispõe ainda de certificação Mepex, que garante a rastreabilidade dos resíduos têxteis tratados, e mais de 60% do material processado é reutilizado, um dado relevante para credibilidade e confiança.
✅ É um passo gigante para a economia circular ♻️. Mas há perguntas que não podemos deixar de fazer:
❓ O que acontece aos 37% que não são reutilizados?
❓ Quantos desses têxteis acabam exportados para outros países — e em que condições ambientais e sociais?
❓ Que garantias existem sobre a qualidade e a sustentabilidade dos empregos criados neste setor?
⚠️ Limites desta iniciativa:
📌Triagem manual é trabalhosa e sensível à disponibilidade de mão de obra, formação e rotatividade; também tem limites físicos para escalar além de certas capacidades sem automatização. Atingir 57 t/dia numa força de 90 pessoas implica ritmos elevados — há risco de burnout, turnover e queda de qualidade se não houver investimento contínuo em condições laborais.
📌O que acontece com os ~37–40% que não são reutilizados? A Humana informa 63% de reutilização; resta uma fatia significativa que terá de seguir para reciclagem mecânica/química, incineração ou aterro. É crucial detalhar destinos, emissões associadas e a circularidade verdadeira do processo.
📌Uma parte substancial das peças “reutilizadas” for exportada, o transporte internacional aumenta a pegada de carbono e pode deslocar impactos para países com menos regulamentação ambiental/laboral. A cadeia logística completa precisa de contabilização.
📌A viabilidade econômica da revalorização depende de mercados compradores (preços, tarifas, procura). Flutuações ou restrições a importações de têxteis usados (cada vez mais discutidas em alguns países) podem criar excesso de estoque e pressionar soluções menos sustentáveis.
📌Potencial risco de greenwashing – Frases como “um dos maiores centros” e percentagens bonitas (63%) precisam de contextualização: quem audita, quais os critérios para “reutilizado”, e se há monitorização independente e pública de destinos e condições de trabalho.
📌Criar empregos é positivo, mas convém que sejam empregos com proteções laborais, remuneração justa, formação contínua e ergonomia adequada para uma atividade repetitiva. O anúncio fala de “mais confortável”, mas poucos detalhes práticos são divulgados.
👉É um verdadeiro avanço para a economia circular ou apenas mais uma promessa?!