Uma aliança pela vida selvagem
Já estive em muitas frentes de conservação ao longo da minha carreira, mas poucas me tocaram tão profundamente quanto o nascimento do Programa Caiman.
Desde o início, acompanhei de perto os passos desse esforço ambicioso. O Instituto Últimos Refúgios decidiu apoiar o Instituto Marcos Daniel com um objetivo claro: proteger o jacaré-de-papo-amarelo (Caiman latirostris), uma espécie que tem potencial de tornar-se mais um símbolo da biodiversidade capixaba que hoje está desaparecido de muitas regiões do Espírito Santo.
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Participei das primeiras visitas de campo, das reuniões de articulação, dos registros visuais que ajudaram a contar essa história para o mundo. Com a câmera nas mãos e o coração envolvido, vi de perto os sacrifícios dos pesquisadores e os primeiros sinais de que algo grande estava por vir.
Repovoar é reconectar
Foi com grande alegria que recebi a notícia do novo capítulo que o Programa Caiman começa a escrever: o repovoamento do jacaré-de-papo-amarelo no Espírito Santo. É um movimento ousado e pioneiro no Brasil.
Pela primeira vez, filhotes da espécie nascidos em ambiente controlado — oriundos de ovos coletados em uma população estável — serão criados em segurança até completarem um ano e então soltos na natureza em áreas onde a população já havia desaparecido.
Essa estratégia, chamada de headstarting, aumenta significativamente as chances de sobrevivência dos jovens jacarés, que enfrentarão menos predadores e terão mais vigor ao serem reinseridos no habitat natural. É ciência aplicada, com cuidado e responsabilidade.
A transformação em símbolo
O jacaré-de-papo-amarelo é uma espécie que sofre com a destruição dos habitats, atropelamentos e a caça — muitas vezes por puro medo ou desinformação. Por isso, o Projeto Caiman não se limita à reprodução e soltura dos animais.
Ele envolve educação ambiental, diálogo com as comunidades e um novo olhar para esses incríveis predadores. Fazendo com isso, que as áreas de soltura se tornem menos ameaçadoras para os filhotes de jacarés recém-chegados.
O plano é transformar o jacaré-de-papo-amarelo em uma espécie bandeira da conservação. Mostrar que, longe de representar perigo, ele desempenha um papel essencial no equilíbrio ecológico dos ecossistemas aquáticos. Com a força das imagens e das histórias reais, buscamos ressignificar essa relação.
A ciência que inspira e cuida
O projeto conta com apoio institucional robusto: Instituto Marcos Daniel, ArcelorMittal, SEAMA, IEMA, Ministério Público do Espírito Santo e outros parceiros. Mas o que mais me encanta é o coração das pessoas envolvidas.
Vi isso de perto em cada ação no campo: pesquisadores como Yhuri Nóbrega, que lidera com paixão e competência; veterinários como Daniela Neris, que acompanham de perto cada fase do processo; e toda a equipe que sonha, planeja, cuida, resgata, reabilita e devolve à natureza aquilo que dela nunca deveria ter sido tirado.
A Festa do Jacaré
Para marcar essa nova fase, o Parque Estadual de Itaúnas sediará, no dia 21 de junho, a “Festa do Jacaré” — um evento gratuito e aberto ao público. Com trilhas, atividades educativas, manifestações culturais e a inauguração de um espaço permanente de educação ambiental. Será um encontro entre ciência e comunidades.
A iniciativa busca celebrar e ensinar um novo caminho para a relação mais equilibrada entre a sociedade e a natureza. Aproximar as pessoas da fauna que vive tão perto delas e, muitas vezes, invisível aos olhos. É essa conexão que muda tudo.
Fortalecimento de uma missão
Como fotógrafo de natureza, meu trabalho é dar voz aos que não podem falar. E o que vi nesse projeto é a natureza respondendo aos nossos esforços. Os registros que fiz ao longo dos anos agora ganham vida nova: documentam, inspiram e transformam.
O Projeto Caiman é, para mim, uma missão coletiva que reúne conhecimento, sensibilidade e compromisso com o futuro. Ver os filhotes de jacaré-de-papo-amarelo prontos para voltar à natureza é como testemunhar o ciclo da vida se cumprindo — não por sorte, mas por escolha de pessoas comprometidas com um futuro mais sustentável.
Orgulho, compromisso e legado
Esse projeto é o tipo de ação que nos lembra do orgulho de sermos capixabas, brasileiros, e de fazermos parte de um esforço que pode ir além de nossa geração.
Conheça mais sobre o Projeto Caiman em:
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Espero que tenha gostado desta história. Te vejo na próxima aventura!
Fotógrafo de Natureza, Cinegrafista e Produtor Cultural
Fundador e diretor voluntário do Instituto Últimos Refúgios, OSC ambiental/cultural sem fins lucrativos, que atua desde 2011 na divulgação e sensibilização ambiental, estimulando o diálogo entre sociedade, organizações ambientais, instituições privadas e governamentais. Fotógrafo de natureza, documentarista desde 2004, Merçon é focado na proteção da natureza, com Mestrado em Conservação da Biodiversidade e Desenvolvimento sustentável pela ESCAS/Instituto IPÊ. Também formado em Design Gráfico pela Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes). Estudou fotografia voltada para publicações na Academia de Mídias e Artes, na Alemanha. O colunista acredita e trabalha em atividades de sensibilização ambiental (em especial com crianças) e fomento do turismo relacionado à natureza. Leonardo Merçon também tem dezenas de livros impressos e documentários em vídeo publicados. Realiza trabalhos ajudando a contar histórias por meio de imagens em mídias nacionais e internacionais, como a BBC de Londres e National Geographic Brasil, dentre outras.
