Meio Ambiente

Você conhece essa ave? Ela inspirou Luiz Gonzaga e é um símbolo da cultura brasileira

A pomba-asa-branca é símbolo da fauna brasileira e inspiração cultural. Veja imagens que destacam sua beleza e conheça outras espécies nativas

Pomba-asa-branca pousada em ambiente natural, representando a fauna silvestre brasileira
Pomba-asa-branca, espécie da fauna silvestre nativa do Brasil. | Foto: Leonardo Merçon/Instituto Últimos Refúgios

Nas minhas andanças por campos, florestas e estradas do Espírito Santo, poucas aves cruzam meu caminho com tanta frequência quanto a pomba-asa-branca

Pomba-asa-branca pousada em ambiente natural, representando a fauna silvestre brasileira
Pomba-asa-branca, espécie da fauna silvestre nativa do Brasil. | Foto: Leonardo Merçon/Instituto Últimos Refúgios

E mesmo sendo uma velha conhecida, ela nunca me passou despercebida. Talvez porque, diferente da crendice popular, eu saiba reconhecê-la — e valorizá-la como um ícone da cultura brasileira.

Uma ave que canta nossa história

O nome popular “asa-branca” vem do detalhe branco que se destaca na borda das asas e na parte interna, quando ela abre as asas em pleno voo.

Mas o que talvez eu mais goste nessa ave é a ligação cultural com a história do Brasil. Foi ela que inspirou Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira a escreverem a música “Asa Branca”, um dos maiores hinos do sertão nordestino. Quando “até mesmo a asa branca bateu asas do sertão”, é o aviso poético de problemas ambientais.

“…Por farta d’água perdi meu gado

Morreu de sede meu alazão

Até mesmo a asa branca

Bateu asas do sertão

Então eu disse adeus Rosinha

Guarda contigo meu coração…”

Asa Branca – Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira

Rato que voa? 

Sempre que o assunto “pombo” aparece em alguma roda de conversa, logo surgem os preconceitos. “É sujo”, “traz doença”, “é o rato dos céus”. A maioria das pessoas não sabe diferenciar um pombo exótico, como a pomba-das-rochas (também chamado de “pombo-doméstico”), de uma ave nativa, como a pomba-asa-branca, que fotografei para esta matéria. E é aí que mora o perigo da generalização.

A pomba-asa-branca (Patagioenas picazuro) é uma espécie de animal silvestre da fauna brasileira, protegida por lei. Vive em florestas, cerrados, bordas de mata e até em áreas rurais e urbanas arborizadas. Alimenta-se de sementes e frutos nativos, têm papel ecológico na dispersão de plantas e ajuda a manter o equilíbrio do ecossistema.

Close da pomba-asa-branca exibindo sua plumagem detalhada e características físicas
Pomba-asa-branca, com sua plumagem característica. Ela tem sempre as mesmas características, com pequenas variações, que depende da idade e do estado de saúde do indivíduo. | Foto: Leonardo Merçon/Instituto Últimos Refúgios

Já a pomba-das-rochas (Columba livia) é realmente uma espécie exótica, foi trazida da Europa e adaptada às cidades. 

Quando uma espécie que não pertence à fauna local se estabelece em um novo ambiente, sem predadores naturais e competindo por espaço e alimento, os impactos podem ser grandes. O problema das espécies exóticas invasoras é considerado uma das principais causas de perda de biodiversidade no mundo. 

Uma lição

Certa vez, uma amiga me mandou uma foto de uma ave que apareceu na janela dela. “Olha só, Leo. Não gosto de pombo, mas tirei essa foto pensando em você”, ela disse. Para minha surpresa, não era qualquer pombo: era uma pomba-asa-branca, linda, nativa, com a dignidade que lhe cabe. 

Expliquei que aquela imagem, feita da janela de casa, valia muito. Ela havia registrado um pedaço da natureza brasileira, da nossa cultura, da nossa identidade.

Por que celebrar a pomba-asa-branca?

Encontrada do Nordeste ao Sul do Brasil e em países vizinhos como Argentina e Paraguai, a pomba-asa-branca não está ameaçada, mas enfrenta a ameaça da ignorância

Mapa digital com registros de ocorrência da pomba-asa-branca no iNaturalist.org
Mapa da ocorrência da espécie na plataforma de ciência cidadã iNaturalist.org

Negligenciada por muitos, confundida por outros, ela é uma das tantas espécies que merecem mais respeito e valorização, pois tem um papel importante no equilíbrio ambiental, seja servindo de alimento para outras espécies, dispersando sementes ou até mesmo controlando populações de outras espécies.

A diversidade das pombas brasileiras

Engana-se quem pensa que o Brasil tem apenas “um tipo de pombo”. Nossa avifauna abriga uma diversidade impressionante de pombas, rolinhas e juritis – todas silvestres e protegidas por lei. São espécies como a juriti-de-testa-branca (Leptotila rufaxilla), a juriti-pupu (Leptotila verreauxi), a rolinha-roxa (Columbina talpacoti), a discreta pomba-amargosa (Patagioenas plumbea); e ainda espécies menos conhecidas como a pomba-galega (Patagioenas cayennensis) ou a elegante pomba-trocal (Patagioenas speciosa). Essas fazem parte das 23 espécies (incluíndo as exóticas) que ocorrem no Brasil. Essas aves habitam diferentes ecossistemas brasileiros e desempenham papéis ecológicos importantes.

Galeria com seis espécies de pombas nativas do Brasil, apresentadas lado a lado
Alguns exemplos das pombas brasileiras citadas acima. Na ordem, juriti-de-testa-branca (Leptotila rufaxilla), juriti-pupu (Leptotila verreauxi), pomba-amargosa (Patagioenas plumbea), pomba-galega (Patagioenas cayennensis), pomba-trocal (Patagioenas speciosa) e rolinha-roxa (Columbina talpacoti). | Fotos: Leonardo Merçon/Instituto Últimos Refúgios

Galeria pessoal com registros fotográficos de 16 espécies de pombas brasileiras feitos pelo autor
Eu mesmo só consegui registrar 16 das 23 pombas que ocorrem no Brasil e inseri na plataforma de ciência cidadã iNaturalist

Esta matéria é uma tentativa de devolver à pomba-asa-branca o rótulo da força da fauna nativa, o valor da cultura popular, o direito de existir. E também todas as outras espécies nativas. Que aprendamos a observar com mais atenção, e a valorizar o que é nosso!

“Já faz três noites que pro norte relampeia

E a asa branca ouvindo o ronco do trovão

Já bateu asas e voltou pro meu sertão…”

A volta da asa branca – Luiz Gonzaga

Procure saber mais sobre a pomba-asa-branca AQUI

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Espero que tenham gostado desta história. Te vejo na próxima aventura!

Leonardo Merçon

Fotógrafo de Natureza, Cinegrafista e Produtor Cultural

Fundador e diretor voluntário do Instituto Últimos Refúgios, OSC ambiental/cultural sem fins lucrativos, que atua desde 2011 na divulgação e sensibilização ambiental, estimulando o diálogo entre sociedade, organizações ambientais, instituições privadas e governamentais. Fotógrafo de natureza, documentarista desde 2004, Merçon é focado na proteção da natureza, com Mestrado em Conservação da Biodiversidade e Desenvolvimento sustentável pela ESCAS/Instituto IPÊ. Também formado em Design Gráfico pela Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes). Estudou fotografia voltada para publicações na Academia de Mídias e Artes, na Alemanha. O colunista acredita e trabalha em atividades de sensibilização ambiental (em especial com crianças) e fomento do turismo relacionado à natureza. Leonardo Merçon também tem dezenas de livros impressos e documentários em vídeo publicados. Realiza trabalhos ajudando a contar histórias por meio de imagens em mídias nacionais e internacionais, como a BBC de Londres e National Geographic Brasil, dentre outras.

Fundador e diretor voluntário do Instituto Últimos Refúgios, OSC ambiental/cultural sem fins lucrativos, que atua desde 2011 na divulgação e sensibilização ambiental, estimulando o diálogo entre sociedade, organizações ambientais, instituições privadas e governamentais. Fotógrafo de natureza, documentarista desde 2004, Merçon é focado na proteção da natureza, com Mestrado em Conservação da Biodiversidade e Desenvolvimento sustentável pela ESCAS/Instituto IPÊ. Também formado em Design Gráfico pela Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes). Estudou fotografia voltada para publicações na Academia de Mídias e Artes, na Alemanha. O colunista acredita e trabalha em atividades de sensibilização ambiental (em especial com crianças) e fomento do turismo relacionado à natureza. Leonardo Merçon também tem dezenas de livros impressos e documentários em vídeo publicados. Realiza trabalhos ajudando a contar histórias por meio de imagens em mídias nacionais e internacionais, como a BBC de Londres e National Geographic Brasil, dentre outras.