Nas minhas andanças por campos, florestas e estradas do Espírito Santo, poucas aves cruzam meu caminho com tanta frequência quanto a pomba-asa-branca.
E mesmo sendo uma velha conhecida, ela nunca me passou despercebida. Talvez porque, diferente da crendice popular, eu saiba reconhecê-la — e valorizá-la como um ícone da cultura brasileira.
Uma ave que canta nossa história
O nome popular “asa-branca” vem do detalhe branco que se destaca na borda das asas e na parte interna, quando ela abre as asas em pleno voo.
Mas o que talvez eu mais goste nessa ave é a ligação cultural com a história do Brasil. Foi ela que inspirou Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira a escreverem a música “Asa Branca”, um dos maiores hinos do sertão nordestino. Quando “até mesmo a asa branca bateu asas do sertão”, é o aviso poético de problemas ambientais.
“…Por farta d’água perdi meu gado
Morreu de sede meu alazão
Até mesmo a asa branca
Bateu asas do sertão
Então eu disse adeus Rosinha
Guarda contigo meu coração…”
Asa Branca – Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira
Rato que voa?
Sempre que o assunto “pombo” aparece em alguma roda de conversa, logo surgem os preconceitos. “É sujo”, “traz doença”, “é o rato dos céus”. A maioria das pessoas não sabe diferenciar um pombo exótico, como a pomba-das-rochas (também chamado de “pombo-doméstico”), de uma ave nativa, como a pomba-asa-branca, que fotografei para esta matéria. E é aí que mora o perigo da generalização.
A pomba-asa-branca (Patagioenas picazuro) é uma espécie de animal silvestre da fauna brasileira, protegida por lei. Vive em florestas, cerrados, bordas de mata e até em áreas rurais e urbanas arborizadas. Alimenta-se de sementes e frutos nativos, têm papel ecológico na dispersão de plantas e ajuda a manter o equilíbrio do ecossistema.
Já a pomba-das-rochas (Columba livia) é realmente uma espécie exótica, foi trazida da Europa e adaptada às cidades.
Quando uma espécie que não pertence à fauna local se estabelece em um novo ambiente, sem predadores naturais e competindo por espaço e alimento, os impactos podem ser grandes. O problema das espécies exóticas invasoras é considerado uma das principais causas de perda de biodiversidade no mundo.
Uma lição
Certa vez, uma amiga me mandou uma foto de uma ave que apareceu na janela dela. “Olha só, Leo. Não gosto de pombo, mas tirei essa foto pensando em você”, ela disse. Para minha surpresa, não era qualquer pombo: era uma pomba-asa-branca, linda, nativa, com a dignidade que lhe cabe.
Expliquei que aquela imagem, feita da janela de casa, valia muito. Ela havia registrado um pedaço da natureza brasileira, da nossa cultura, da nossa identidade.
Por que celebrar a pomba-asa-branca?
Encontrada do Nordeste ao Sul do Brasil e em países vizinhos como Argentina e Paraguai, a pomba-asa-branca não está ameaçada, mas enfrenta a ameaça da ignorância.
Negligenciada por muitos, confundida por outros, ela é uma das tantas espécies que merecem mais respeito e valorização, pois tem um papel importante no equilíbrio ambiental, seja servindo de alimento para outras espécies, dispersando sementes ou até mesmo controlando populações de outras espécies.
A diversidade das pombas brasileiras
Engana-se quem pensa que o Brasil tem apenas “um tipo de pombo”. Nossa avifauna abriga uma diversidade impressionante de pombas, rolinhas e juritis – todas silvestres e protegidas por lei. São espécies como a juriti-de-testa-branca (Leptotila rufaxilla), a juriti-pupu (Leptotila verreauxi), a rolinha-roxa (Columbina talpacoti), a discreta pomba-amargosa (Patagioenas plumbea); e ainda espécies menos conhecidas como a pomba-galega (Patagioenas cayennensis) ou a elegante pomba-trocal (Patagioenas speciosa). Essas fazem parte das 23 espécies (incluíndo as exóticas) que ocorrem no Brasil. Essas aves habitam diferentes ecossistemas brasileiros e desempenham papéis ecológicos importantes.
Esta matéria é uma tentativa de devolver à pomba-asa-branca o rótulo da força da fauna nativa, o valor da cultura popular, o direito de existir. E também todas as outras espécies nativas. Que aprendamos a observar com mais atenção, e a valorizar o que é nosso!
“Já faz três noites que pro norte relampeia
E a asa branca ouvindo o ronco do trovão
Já bateu asas e voltou pro meu sertão…”
A volta da asa branca – Luiz Gonzaga
Procure saber mais sobre a pomba-asa-branca AQUI.
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Espero que tenham gostado desta história. Te vejo na próxima aventura!