
A Câmara dos Representantes dos Estados Unidos aprovou nesta terça-feira (18) por 427 votos a 1 o projeto de lei para obrigar o Departamento de Justiça a divulgar todos os arquivos relacionados à investigação sobre o caso Jeffrey Epstein, após meses de pressão do presidente Donald Trump e da bancada republicana para barrar a votação.
O deputado republicano Clay Higgins, da Louisiana, foi o único voto contrário. A lei agora será votada no Senado.
Quando um pequeno grupo bipartidário de deputados apresentou uma petição em julho para contornar o controle do presidente da Câmara, Mike Johnson, sobre quais projetos de lei são votados no plenário, a iniciativa parecia fadada ao fracasso, especialmente porque Trump instava seus apoiadores a considerarem o assunto uma “farsa”. Mas tanto Trump quanto Johnson fracassaram em suas tentativas de impedir a votação.
Agora, o presidente cedeu ao crescente apoio ao projeto de lei e até afirmou que os republicanos deveriam votar a favor. Sua aprovação na Câmara aumenta ainda mais a pressão sobre o Senado para que o analise.
Na segunda-feira (17), Trump disse que assinaria o projeto de lei se ele fosse aprovado por ambas as casas do Congresso, acrescentando: “Deixem o Senado analisá-lo”.
A votação desta terça reforça as exigências para que o Departamento de Justiça divulgue os arquivos do caso de Epstein, um financista influente que se suicidou em uma prisão de Manhattan enquanto aguardava julgamento em 2019, acusado de abuso sexual e tráfico de menores.
Uma investigação independente conduzida pelo Comitê de Supervisão da Câmara dos Representantes divulgou milhares de páginas de e-mails e outros documentos do espólio de Epstein, mostrando suas conexões com líderes globais, figurões de Wall Street, figuras políticas influentes e o próprio Trump.
Trump muda de posição
Trump afirmou ter rompido relações com Epstein há anos, mas tentou durante meses contornar as pressões pela divulgação dos documentos. Na segunda-feira, ele disse a repórteres que Epstein tinha ligações mais com democratas e que não queria que os arquivos de Epstein “prejudicassem o grande sucesso do Partido Republicano”.
Ainda assim, muitos na base republicana continuam a exigir a divulgação dos arquivos. Para aumentar essa pressão, várias sobreviventes dos abusos de Epstein comparecerão ao Capitólio nesta terça para pressionar pela divulgação dos arquivos. Elas também se reuniram com Johnson e protestaram em frente ao Capitólio em setembro, mas tiveram que esperar dois meses pela votação.
Isso porque Johnson manteve a Câmara fechada para atividades legislativas por quase dois meses e também se recusou a empossar a deputada democrata Adelita Grijalva, do Arizona, durante a paralisação do governo.
Após vencer uma eleição suplementar em 23 de setembro, Grijalva havia prometido fornecer o voto crucial de número 218 para a petição referente ao projeto de lei sobre os arquivos de Epstein. Mas somente depois de tomar posse na semana passada ela pôde assinar a petição de desobstrução, garantindo a maioria necessária na Câmara, composta por 435 membros.
Rapidamente ficou evidente que o projeto de lei seria aprovado, e tanto Johnson quanto Trump começaram a ceder. No domingo, Trump disse que os republicanos deveriam votar a favor do projeto.
O deputado Thomas Massie, republicano do Kentucky e autor do projeto de lei juntamente com o deputado democrata Ro Khanna, disse que Trump “cansou de me ver ganhar. Ele queria se juntar a nós.”
Projeto no Senado
Não está claro como o Senado lidará com o projeto de lei.
O líder da maioria no Senado, John Thune, republicano da Dakota do Sul, já havia se mostrado cauteloso ao ser questionado sobre a legislação e, em vez disso, afirmou confiar no Departamento de Justiça para divulgar informações sobre a investigação de Epstein.
Mas o que o Departamento de Justiça divulgou até agora sob o governo Trump já era, em sua maioria, público. O projeto de lei iria além, obrigando a divulgação, em até 30 dias, de todos os arquivos e comunicações relacionados a Epstein, bem como qualquer informação sobre a investigação de sua morte em uma prisão federal.
Informações sobre as vítimas de Epstein ou investigações federais em andamento poderiam ser omitidas, mas não informações que possam causar “constrangimento, dano à reputação ou sensibilidade política, inclusive para qualquer autoridade governamental, figura pública ou dignitário estrangeiro”.
Johnson também sugeriu que gostaria de ver o Senado emendar o projeto de lei para proteger as informações das “vítimas e denunciantes”.
Mas Massie afirmou que o Senado deveria levar em consideração a pressão pública que forçou tanto Trump quanto Johnson a recuarem. “Se não for um esforço genuíno para melhorar e fortalecer o sistema, isso se voltará contra os senadores se eles estragarem tudo”, disse Massie./AP