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Cientistas questionam startup que "recriou" lobo extinto há 15 mil anos

Três filhotes de lobo-terrível, extinto há mais 10 mil anos, foram criados em laboratório pela startup americana Colossal Bioscience

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Rêmo, Rômulo e Khaleesi são os filhotes feitos com DNA de lobo-terrível. Foto: Divulgação/ Colossal

A startup americana Colossal Biosciences afirmou ter “recriado” o lobo-terrível, espécie que está extinta há cerca de 15 mil anos. A empresa de biotecnologia anunciou o feito como a “desextinção” da espécie. Cientistas divergiram da afirmação da startup.

As imagens dos machos Rômulo e Remo (uma alusão aos fundadores de Roma que teriam sido amamentados por uma loba) e da fêmea Khaleesi (a rainha Daenerys Targaryen) foram divulgadas na manhã desta segunda-feira (07). Eles nasceram em outubro do ano passado.

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Veja o vídeo dos lobos-terríveis:

A partir da análise do DNA dos lobos extintos, os geneticistas modificaram algumas regiões do DNA de lobos-cinza (os parentes vivos mais próximos do lobo-terrível) para criar filhotes com características semelhantes às do animal extinto.

Cientistas refutam “desextinção” de lobo-terrível

Segundo especialistas, não é possível afirmar que a empresa tenha revertido a extinção do animal. Os estudos da Colossal não foram publicados em revistas científicas e nem revisados por cientistas independentes.

Cientistas também apontam que a modificação genética feita pela startup é insuficiente para considerar os filhotes lobos-terríveis.

De acordo com a empresa, os filhotes têm uma densa pelagem branca e devem alcançar o tamanho do lobo-terrível (que pesava até 70 quilos e era 25% maior do que o lobo comum, além de mais forte).

No caso específico dos lobinhos da Colossal, a equipe de geneticistas trabalhou a partir do DNA obtido de dois indivíduos da espécie extinta, com 72 mil e 13 mil anos de idade, respectivamente, achados nos Estados Unidos.

A partir desta análise, os cientistas selecionaram um conjunto de 20 modificações em 14 genes diferentes que garantiriam aos filhotes as características dos lobos extintos.

O paleoecologista da Universidade de Otago, Nic Rawlence, avaliou que os filhotes se tratam de híbridos e não lobos-terríveis.

Em entrevista à BBC, ele explicou que o DNA reconstruído pela empresa de biotecnologia não é confiável, pois ele se fragmenta com o passar dos anos e o processo de reconstrução não é “bom o suficiente”.

“O que a Colossal produziu é um lobo cinzento, mas ele tem algumas características de lobo-terrível, como um crânio maior e pelo branco”, acrescentou.

A paleoecologista Jacquelyn Gill, da Universidade de Maine, chamou os filhotes de “lobos cinzentos geneticamente modificados” e negou que sejam lobos-terríveis. Em entrevista à Scientific American, ela ainda observou que o comportamento dos animais não será o mesmo que os que foram extintos.

“Algumas dessas coisas são codificadas geneticamente, algumas delas são culturais”, afirma Gill.

Outras espécies extintas na fila

A empresa responsável pelo nascimento dos lobos também trabalha pela “desextinção” de outras espécies. São três animais estudados pela Colossal para serem recriados, inclusive o mamute.

O mamute-lanoso, o tigre-da-tasmânia e o pássaro dodô são as espécies que a startup estuda para recriar.

*Texto sob a supervisão da editoria Erika Santos

Enzo Bicalho, estagiário do Folha Vitória
Enzo Bicalho Assis*

Estagiário

Cursando Jornalismo na Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes).

Cursando Jornalismo na Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes).