ROMA – O grupo de 133 cardeais começa esta quarta-feira, 7, na Capela Sistina, no Vaticano, a série de reuniões fechadas para definir quem será o novo papa.
As especulações e negociações sobre o próximo líder da Igreja Católica se intensificaram ainda em fevereiro, quando o papa Francisco foi internado com pneumonia, e ganharam força nas últimas semanas, após a morte de Jorge Bergoglio no dia 21 e a chegada dos cardeais a Roma. Nos últimos dias, circulou entre os votantes até um dossiê secreto com nomes de papáveis na tentativa de influenciar a eleição.
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As divisões da Igreja marcaram as conversas entre os cardeais às vésperas do conclave. Cardeais têm afirmado que, caso a eleição se alongue, não será por divergências internas, mas pelo fato de muitos dos votantes ainda não se conhecerem. Francisco mudou o perfil do colégio cardinalício, com redução da proporção de europeus e aumento de integrantes das “periferias” do mundo, como na Ásia e na África.
Mais do que dossiês e outras intrigas pré-conclave, será a impressão deixada pelos cardeais nas reuniões do colégio cardinalício que guiará a escolha nos próximos dias. Francisco convocou apenas dois consistórios em seus doze anos de pontificado, o que fez com que muitos cardeais não se conhecessem.
Com o início do conclave, os cardeais deixam de usar telefone, internet e ter acesso a meios de comunicação e os funcionários do Vaticano fazem voto de silêncio, além de um forte esquema de segurança para evitar vazamentos. Vários nomes têm circulado como papáveis nas últimas semanas, mas nenhum desponta como franco favorito.
O cardeal brasileiro dom Raymundo Damasceno apontou ao Estadão cinco nomes que chamaram sua atenção nas reuniões pré-conclave: os italianos Pietro Parolin, secretário de Estado do Vaticano, Matteo Zuppi, arcebispo de Bolonha, Roberto Repole, arcebispo de Turim, Pierbattista Pizzaballa, patriarca de Jerusalém, e o francês Jean Paul Vesco, arcebispo de Argel.
Entre aqueles que apostam em um pontífice de fora da Europa, um dos nomes mais citados foi do filipino Luis Antonio Tagle. A maioria dos especialistas não prevê um cardeal latino-americano, já que a região foi contemplada com o argentino Jorge Bergoglio (Francisco). A Ásia e a África têm visto crescimento de fiéis mais expressivo que a Europa e a América Latina nos últimos anos.
Com 88 anos, dom Raymundo, arcebispo emérito de Aparecida (SP), é o único dos oito cardeais brasileiros que não tem direito a voto, por ter mais de 80 anos. Ele, que participou do conclave anterior, espera se estenda, no máximo, para quatro dias. Nenhum dos últimos dez conclaves durou mais de cinco dias.
O novo pontífice terá desafios que já vinham sendo enfrentados por Francisco, como posicionar a Igreja em um mundo abalado pela crise climática e por conflitos, como na Ucrânia e em Gaza. E movimento incomum, os cardeais divulgaram nesta terça-feira, 6, comunicado em que condenam as guerras um dia após Israel aprovar plano de ampliar a ofensiva militar contra o Hamas.
Mas o cardeal arcebispo de São Paulo, Dom Odilo Scherer, por sua vez, afirmou que “o próximo papa não será xerox do papa Francisco”. Embora Bergoglio tenha escolhido 108 dos 133 votantes, nem todos defendem as mesmas ideias do argentino. O fato de muitos estarem no primeiro conclave também torna o resultado menos previsível.
Entre os assuntos tratados nas congregações pré-conclave, também apareceram abusos sexuais na Igreja, escândalos financeiros e desafios da unidade e da evangelização.
Outro fator que pesa na escolha é a idade. No século 20, foram escolhidos, na maioria, papas italianos, com média de 65 anos. Um papa mais jovem tende a ter um pontificado mais longo e a chance de implementar mais mudanças.
Nos últimos dez conclaves, o cardeal mais velho a ser escolhido foi o alemão Joseph Ratzinger, que, em 2005, tinha 78 anos. Bento XVI foi um dos raros casos de cardeais que confirmaram o favoritismo e foram escolhidos.
Qual a programação do Conclave?
O conclave começa nesta quarta às 5 horas da manhã (horário de Brasília), com a missa Pro eligendo Pontifice na Basílica de São Pedro e a procissão dos cardeais até a Capela Sistina. À tarde, os cardeais entram na Capela Sistina, com uma catequese do cardeal Raniero Cantalamessa.
Em seguida, os eleitores farão o juramento de seguir as regras do conclave e de silêncio. Só então começa a primeira votação.
O papa precisa ser eleito por dois terços dos 133 cardeais presentes, ou seja, ser votado por 89 participantes.
Quais são os horários da fumaça para resultado da votação?
A fumaça com o resultado desse primeiro turno que elegerá o próximo papa ocorrerá por volta das 14h (de Brasília). A partir de quinta-feira, 8, as fumaças devem ocorrer nos seguintes horários:
- 5h30 (Horário de Brasília) – somente se for branca, ou seja, se o novo papa tiver sido escolhido
- 7h (Horário de Brasília)
- 12h30 (Horário de Brasília) – somente se for branca
- 14h (Horário de Brasília)
São previstas duas fumaças por dia (7h e 14h), mas em caso de resultado positivo, a fumaça será antecipada, e deve sair 5h30, durante a votação da manhã, ou 12h30, na votação da tarde.
Cardeais favoritos a novo Papa
Entre os papáveis mais citados por especialistas e pela mídia especializada, conforme mostrou o Estadão, aparecem:
- Pietro Parolin – Itália (70 anos)
- Luis Antonio Gokim Tagle – Filipinas (67 anos)
- Jean-Marc Aveline – Argélia (66 anos)
- Juan José Omella – Espanha (79 anos)
- Matteo Maria Zuppi – Itália (69 anos)
- Péter Erdő – Hungria (72 anos)
- Peter Turkson – Gana (76 anos)
- Pierbattista Pizzaballa – Itália (60 anos)
- Mario Grech – Malta (68 anos)
- Fridolin Ambongo Besungu – República Democrática do Congo (65 anos)
Conheça o Cardeal mais velho e o mais novo a votar no Conclave
O espanhol Carlos Osoro Sierra, de 79 anos, seja o mais velho entre todos os habilitados a participar da importante votação. Nascido em Castañeda, em 1945, ele se tornará octogenário em 16 de maio.
Já o bispo ucraniano Mykola Bychok, de 45 anos, será o mais novo dos 133 eleitores do Colégio Cardinalício.
