O professor aposentado da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) e um dos mais importantes intelectuais do Estado, José Augusto Carvalho, morreu nesta quarta-feira (24), aos 85 anos, vítima de complicações de uma pneumonia.
Nascido em 9 de março de 1940, em Governador Valadares (MG), Carvalho se mudou ainda jovem para Vitória, onde construiu uma carreira marcada pelo amor ao ensino.
Meu pai sempre gostou muito de ser professor e de dar aula. Ele tinha um carinho enorme pelas Letras, estava sempre escrevendo, corrigindo textos e revisando livros. Trabalhou até o fim da vida.
André Hees, filho de José Augusto Carvalho
Carvalho atuou por décadas como docente do Departamento de Línguas e Letras da Ufes, mas também marcou presença em instituições como a Faculdade de Direito de Vitória (FDV), o Colégio Darwin e outras escolas particulares. Chegou a lecionar em colégios estaduais, mas decidiu, ainda nos anos 1970 e 1980, dedicar-se exclusivamente à universidade.
Segundo o filho, a preocupação com o aprendizado dos alunos sempre foi uma de suas marcas. “Ele era muito rigoroso com frequência, acreditava que a presença em sala era fundamental para a formação”, relembrou.
O velório de José Augusto Carvalho acontece na manhã desta quinta-feira (25), no Cemitério Jardim da Paz, na Serra, e o sepultamento está marcado para 10h30, também desta quinta.
Tradutor e convidado para revisar Constituição
Mestre pela Universidade de Soborne, na França, e também pela Unicamp, Carvalho concluiu o doutorado na USP. Além de professor, foi tradutor de grandes editoras, como a Record, e acumulou uma vasta produção bibliográfica. Traduziu livros do francês e do italiano, além de dominar inglês, alemão e espanhol, com conhecimentos de grego e latim.
Nos anos 1980, chegou a ser convidado para integrar uma comissão de juristas encarregada de revisar a versão final da Constituição Federal. A família considerou um reconhecimento de peso, mas Carvalho recusou o convite.
Achamos um absurdo ele não aceitar, mas para ele era simples: não queria deixar a Ufes. Dar aula era muito importante.
André Hees, filho de José Augusto Carvalho
O professor se aposentou no início da década de 1990, durante o governo Collor, em um período em que muitos docentes da universidade decidiram se afastar.
Apesar da aposentadoria, manteve-se ativo, escrevendo, traduzindo e revisando obras. “Ele nunca deixou de trabalhar com as letras. Até os últimos dias estava envolvido em textos, com o mesmo cuidado de sempre”, disse o filho.
O professor deixa três filhos, André Hees, Silva Hees e Gabriel Blinda e a viúva Maria José Binda.
Ufes lamenta morte de professor
A Ufes divulgou nota em que lamenta a perda e destacou a relevância do professor para a comunidade acadêmica. “Em nome de toda a comunidade acadêmica, manifestamos nosso pesar e nossa gratidão pela contribuição do professor às Letras e à universidade”, declarou a instituição.
O legado de Carvalho, no entanto, ultrapassa a vida universitária. “Meu pai foi, antes de tudo, um apaixonado pelas Letras e pelo ensino. Ele viveu para isso e é assim que vai ser lembrado”, concluiu André Hees.