A existência da Beleza

Em uma fotografia, dizemos que são o ângulo, a iluminação e o olhar do fotógrafo que tornam o retrato belo. Será, então, que a beleza reside no olhar do observador, ou independe dele para existir?

Ao tratarmos a beleza como subjetiva, podemos dizer que ela não existe de fato, depende da opinião de cada observador para percebê-la e torná-la real. Logo, está diretamente ligada ao contexto emocional, aos valores e princípios que aquela pessoa carrega consigo. Como a filósofa Ayn Rand pensava, a beleza é subjetiva ao ser percebida através da visão emocional baseada nas ideias morais e valores do indivíduo.

No entanto, Rand enfatiza que a beleza não deve ser relativizada, mas sim caracterizada por meio da filosofia e da razão, enaltecendo virtudes e valores bem mais profundos do que a simples observação, por exemplo, de uma obra de arte. Este pensamento fundamenta-se na visão aristotélica, cuja natureza do belo é advinda da ordem, proporção e harmonia, relacionada à virtude e ao propósito das coisas; tratando, assim, a beleza como um fim, algo objetivo e racional, dando ao belo a sua existência plena.

Tais bases – ordem, proporção, harmonia e propósito – são facilmente identificáveis na natureza, justificando, assim, a possível tendência de acharmos uma paisagem natural bela em oposição a uma paisagem urbana, que muitas vezes necessita de um ângulo ou um olhar específico para identificar a sua beleza.

A Beleza e as Proporções Humanas

Nessa linha, o arquiteto romano Marcus Vitruvius acreditava que a beleza é o entendimento e a retratação das leis naturais através do corpo humano. Em seu livro “De Architectura”, descreve que nenhum templo pode ser verdadeiramente belo sem seguir as proporções do corpo humano. Tal concepção foi ilustrada por Leonardo da Vinci ao criar o Homem Vitruviano, cuja figura representa a beleza ideal dentro de um modelo matemático (e racional) das proporções humanas.

Em contraponto ao antropocentrismo da beleza vitruviana, São Tomás de Aquino acrescenta ao conceito de Aristóteles um olhar cristão; para ele, a beleza está na relação dos três aspectos objetivos: integridade, proporção (ou harmonia) e claridade, com a busca do reflexo da perfeição de Deus. Na obra “Suma Teológica”, São Tomás traz não apenas os conceitos objetivos da beleza, mas também aspectos psicológicos do observador e a relação entre o belo e o bem. O bem, para ele, é um conceito mais amplo que dá ao belo o seu acabamento final.

A noção do belo permeia a história não apenas na tentativa humana de chegar a este fim, como também de compreendê-lo. O conhecimento da beleza está na subjetividade da percepção sensível do observador, mas deve ser moldado mediante os limites do juízo racional, através da harmonia e proporção da sua forma e propósito.

Alexia Suhett Caiado

Colunista

Associada do Instituto Líderes do Amanhã

Associada do Instituto Líderes do Amanhã