
Nas últimas décadas, o discurso empresarial tem exaltado a escuta ativa, a empatia radical. O problema é que, mal compreendida, essa agenda tem gerado o efeito oposto ao desejado. Ao tentar humanizar suas relações a qualquer custo, muitos líderes deixaram de ocupar o lugar simbólico que protege o time do caos: o da autoridade funcional. O resultado é um cenário de ausência de alinhamento, autonomia desgovernada, permissividade comportamental e decisões sem ancoragem.
A experiência com executivos em posição de comando revela um padrão recorrente: líderes que, em nome da acessibilidade, abandonam a responsabilidade de manter a ordem, sustentar direções difíceis e estabelecer limites. Em vez de respeito, colhem sobrecarga. Em vez de confiança, geram confusão. Esse fenômeno foi nomeado por pesquisas recentes do MIT Sloan como colapso da autoridade moral, quando a tentativa de ser compreensivo enfraquece a coerência, a previsibilidade e a segurança das relações profissionais.
Empatia, Liderança e Responsabilidade
Daniel Goleman, em Inteligência Emocional e Liderança: a Inteligência Emocional na Formação do Líder de Sucesso, alerta que a empatia não pode ser confundida com complacência. A escuta verdadeira exige discernimento, não diluição de critérios. Ram Charan, em Pipeline de Liderança, ao tratar da formação de líderes nas posições estratégicas, reforça que o papel da liderança é proteger o que importa: a clareza, o foco e a responsabilidade pelo todo. Quando a figura do líder perde sua estrutura, a organização entra em estado de desalinhamento interno, no qual decisões perdem consistência e resultados deixam de ser entregues.
Viktor Frankl, ao analisar o comportamento humano em situações-limite, identifica um ponto central: a ausência de sentido paralisa, mas a ausência de exigência desmoraliza. A função da liderança não é aliviar o peso da realidade, mas organizar a travessia. No ambiente corporativo brasileiro, cada vez mais marcado por zonas cinzentas de comando, a falta de consistência nas decisões tornou-se um fator silencioso de insegurança institucional.
O Papel da Liderança e a Responsabilidade Individual
Não se trata de defender o retorno à rigidez hierárquica, mas de recuperar o que foi perdido no excesso de informalidade: a responsabilidade individual ressurge como eixo moral da liderança. Liderar é escutar com presença, sim, mas também decidir com firmeza. É acolher sem se ausentar de sua função estratégica. A verdadeira empatia não é emocional, é estrutural. É oferecer ao outro a tranquilidade de saber que existe alguém sustentando o que precisa ser sustentado.
O preço da liderança mal posicionada não é apenas o cansaço do líder, mas o colapso do time. Quando tudo pode ser dito, mas nada é decidido, instala-se a normalização da hesitação. E, sem autoridade legítima, o mérito, o resultado e o pertencimento se dissolvem. A liderança acessível, quando mal compreendida, não empodera: desorganiza.