
Boa parte das mulheres vítimas de violência, mesmo depois de vencer o medo, denunciar e conseguir proteção judicial, segue vulnerável.
Isso porque há casos em que a lei não consegue conter o agressor. Só nos primeiros seis meses desse ano, mais de 1.500 medidas protetivas foram descumpridas — um aumento de 37% em relação ao ano passado, ou seja, essas mulheres continuam vivendo sob ameaça.
O que a prática tem demostrado é que a medida protetiva, que deveria ser um escudo, isolada, nem sempre basta. Nesse cenário, a tecnologia pode ser uma aliada. Na semana passada, o governo do Estado apresentou um sistema que conecta uma tornozeleira eletrônica instalada no agressor a um smartphone entregue à vítima. São 200 conjuntos prontos para uso, começando pela Grande Vitória.
Por enquanto é um projeto piloto, um teste. Se der certo, o projeto precisa ser ampliado, até porque só em 2025 foram concedidas quase 13 mil medidas protetivas. A Justiça define um raio de afastamento e, quando o agressor ultrapassa a área, ele recebe no primeiro momento, mensagens, ligações e avisos. A partir daí, se ele se aproxima ainda mais, a tornozeleira vibra, o celular da vítima alerta, a central de monitoramento entra em ação e, se necessário, a polícia é enviada de imediato.
A tecnologia é um avanço, sem dúvida alguma. Mas não é, e nunca será suficiente. É preciso atacar de frente a causa estrutural, ou seja, a cultura machista que normaliza o controle sobre o corpo da mulher e a agressão. Para isso, é preciso investir em educação e em conscientização.
A violência contra a mulher é fruto de uma cultura construída ao longo de gerações, que ensina, ainda que de forma silenciosa, que ciúme é prova de amor; que controle é cuidado; que agressão é “problema de casal”. A educação ajuda a formar crianças e jovens capazes de questionar estereótipos e construir relações baseadas em respeito. Ao mesmo tempo, campanhas de conscientização direcionadas aos adultos — especialmente aos homens — é indispensável.
Grande parte das agressões nasce de comportamentos que muitos nem identificam como violentos: humilhações, ameaças, invasão de privacidade, isolamento da vítima. Campanhas implementadas pelo poder público ajudam a nomear o problema e quebrar o silêncio. A proteção da mulher começa antes do primeiro grito.