A verdade sob vigilância: o combate às fake news e o risco da censura

O termo fake news não é tão recente quanto parece. Por volta do século XIX, o jornal The New York Sun publicou uma série de reportagens fictícias sobre a descoberta de vida na Lua. O episódio ficou conhecido como a “grande farsa da Lua” e é um exemplo de como a manipulação da informação sempre esteve presente na história. Com o passar dos anos, as formas de se comunicar evoluíram, mas o desafio em distinguir fato de invenção permanece. Hoje, essa dificuldade é intensificada pela velocidade e pelo alcance das redes sociais, que transformam qualquer pessoa em um possível veículo de comunicação.

No Brasil, o termo ganhou protagonismo durante as eleições de 2018, quando surgiram propostas e debates sobre o controle de conteúdo considerados falsos. O problema é que, ao se atribuir ao Estado o poder de decidir o que pode ou não ser dito, ultrapassa-se uma linha tênue entre o combate à desinformação e a imposição de censura. Afinal, quem deve ser o guardião da verdade em uma sociedade livre?

As fakes news são, sim, uma ameaça concreta. Um exemplo trágico foi o caso de Jéssica Vitória Canedo, de 22 anos, que tirou a própria vida após ter sua imagem e sua privacidade violadas por uma notícia falsa sobre um suposto relacionamento com um ator famoso. A repercussão nas redes foi avassaladora. O ator envolvido negou o relacionamento dias depois, mas a dor causada já havia se tornado irreversível. Casos como esse não podem ser ignorados. No entanto, precisam ser enfrentados com responsabilidade e discernimento.

É evidente que a desinformação causa danos sociais, políticos e até morais. Mas, ao defender que o Estado seja o árbitro da verdade, abre-se caminho para o silenciamento de opiniões divergentes. Hoje, o argumento é proteger a sociedade das mentiras; amanhã, pode ser calar vozes incômodas ao poder.

A Liberdade de Expressão e o Estado Paternalista

A liberdade de expressão é um dos pilares da democracia liberal. Ela permite que as ideias sejam confrontadas, que o conhecimento avance e que o indivíduo se desenvolva com autonomia. Quando se substitui o julgamento individual pela imposição de uma verdade oficial, alimenta-se um Estado paternalista e autoritário.

A solução para o problema da desinformação não está no controle centralizado, mas na descentralização da responsabilidade. Cabe a cada indivíduo o exercício da dúvida, da pesquisa, da checagem e da prudência antes de compartilhar qualquer informação. O Estado, por sua vez, deve cumprir seu papel dentro dos limites do Estado de Direito, garantindo liberdade, transparência e punindo, quando necessário, quem age com dolo e má-fé.Não é de um Estado que pense por eles que a sociedade precisa, e sim de cidadãos que pensem por si mesmos. O combate à desinformação não será vencido com filtros governamentais ou algoritmos do politicamente correto, e sim com indivíduos dispostos a assumir o ônus da liberdade: pensar, duvidar, investigar e decidir. A verdade não pode ser terceirizada. Como alertou George Orwell, A liberdade é a liberdade de dizer que dois e dois são quatro. Se isso for garantido, tudo o mais virá por si mesmo.” Uma sociedade que abre mão de pensar, em troca da comodidade de ser guiada, está a um passo de transformar liberdade em obediência. E não há censura maior do que essa.

Camila Barbosa Alves

Colunista

Analista de Silvicultura PL da SUZANO. Associada do Instituto Líderes do Amanhã

Analista de Silvicultura PL da SUZANO. Associada do Instituto Líderes do Amanhã