
No mundo político, manter a coerência tem sido das tarefas menos corriqueiras. Ainda assim, o Governo Federal tem se superado sob qualquer perspectiva. Entre o que é dito e o que é feito há uma distância colossal.
A recente polêmica sobre o aumento do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) é um exemplo inconteste, pela forma e pelo conteúdo.
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Se voltarmos a fevereiro, por exemplo, qualquer rumor de que o governo iria aumentar impostos era imediatamente atribuído a adversários políticos, e rotulado de informação falsa. Na ocasião, a promessa era que não haveria qualquer tipo de imprevisibilidade ou de pressão ainda maior sob o contribuinte, a despeito da carga tributária já bastante elevada, e que havia um compromisso com as contas públicas.
Até aqui cortes em despesas foram irrisórias, tanto é que a desconfiança do mercado aumentou drasticamente. Não bastasse isso, o governo publica, na semana passada, um decreto elevando o IOF, sob o argumento de que essa medida era necessária para aumentar a arrecadação em mais de R$ 60 bilhões nos próximos dois anos. Ou seja, nada do que foi dito em fevereiro valeu.
Para além do conteúdo, a forma como a decisão foi tomada mostrou improviso e falta de coordenação. Tanto é que, com menos de um dia, parte da decisão foi revista, após a reação negativa do mercado e os temores sobre possíveis impactos no câmbio, ou seja, a ação, que deveria ter sido planejada com embasamento técnico, acabou demonstrando, mais uma vez, desorganização e falta de alinhamento dentro do próprio governo.
Enquanto isso, para tentar mitigar os efeitos negativos das medidas, o governo se vale de novas promessas, como a ampliação da tarifa social de energia.
Promete e não cumpre, então promete outra coisa. Esse parece ser o raciocínio, como se vivêssemos todos de promessa.
No final do dia, a credibilidade se constrói com base na consistência entre o que se fala e o que realmente se faz. Até aqui, claro está que as mensagens são conflitantes. E pior: há um sentimento geral de que não temos um projeto para o país, mas que o que temos é um programa para a reeleição do presidente Lula.