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Autismo e superdotação: os talentos mais comuns entre pessoas no espectro

Entenda como talentos únicos se manifestam no espectro autista e por que é essencial valorizar diferentes formas de aprender e ser

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Autismo
Foto: Freepik

*Artigo escrito por Juliana Barbato, psicóloga, especialista em neurodivergência e autismo

O autismo é um tema cada vez mais presente no debate social e científico, especialmente quando pensamos em inclusão, visibilidade e valorização de diferentes formas de ser e de aprender. Longe de ser uma doença, trata-se de um transtorno do desenvolvimento que se manifesta de maneira única em cada indivíduo.

É justamente nessa diversidade que se encontram potenciais, talentos e habilidades que, muitas vezes, passam despercebidos diante do foco excessivo nas dificuldades.

Em maio de 2024, o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) divulgou dados que revelaram que 2,4 milhões de pessoas no Brasil já haviam sido diagnosticadas com Transtorno do Espectro Autista (TEA), o que corresponde a 1,2% da população.

A pesquisa, realizada no Censo Demográfico de 2022, também mostrou que a maior proporção de diagnósticos ocorre entre crianças de 5 a 9 anos.

Esse dado sinaliza uma mudança importante, os pais estão cada vez mais atentos aos sinais, buscando diagnóstico precoce e suporte clínico e emocional para os filhos.

No entanto, ao mesmo tempo em que cresce o reconhecimento do TEA, ainda há um desequilíbrio no olhar sobre o espectro. A ênfase recai, muitas vezes, apenas sobre dificuldades sociais e cognitivas, relegando a segundo plano as habilidades.

O conceito de Diffability, proposto pela psicóloga Wendy Lawson, ajuda a compreender esse ponto. Em vez de enquadrar todos os autistas na lógica da “disability” (deficiência), ela sugere enxergar as “diferentes habilidades” que emergem do espectro, que podem se manifestar em áreas como artes, escrita, cálculos, jardinagem, cuidado com animais, culinária, entre outras.

Alguns traços são bastante comuns entre pessoas autistas, como memória excepcional, atenção aos detalhes, honestidade e confiabilidade. Há ainda os casos em que o autismo se associa à superdotação, caracterizando o que se chama de “dupla excepcionalidade”.

Nesse quadro, é comum encontrarmos interesse intenso, hiperfoco e aptidões acadêmicas, que podem vir acompanhadas de rigidez cognitiva, dificuldades sociais, inflexibilidade mental e desempenho desigual.

Embora os desafios sejam reais, eles não anulam as potencialidades. Quando existe preparo no ambiente e compreensão por parte das pessoas ao redor, o autismo pode se tornar apenas mais um traço da identidade do indivíduo.

Os talentos podem florescer, pensamento lógico, criatividade, senso de justiça, ética de trabalho, determinação e integridade.

Além disso, com apoio adequado, aspectos sociais também podem ser desenvolvidos, como a compreensão de emoções, as habilidades de conversação, a resolução de problemas e a convivência interpessoal.

Um ponto importante que devemos ressaltar é o papel da representatividade. Ao saber que artistas e personalidades de destaque também estão no espectro, a sociedade é convidada a desconstruir preconceitos e tabus.

A internet, por sua vez, tem sido uma aliada poderosa nesse processo, democratizando o acesso à informação e incentivando famílias a buscarem ajuda especializada.

Juliana Barbato é psicóloga. Foto: Acervo pessoal