COP30: liberdade, responsabilidade e o desafio da coerência

A escolha de Belém como sede da COP30 foi anunciada como sinal de liderança do Brasil no debate climático. De fato, colocar a Amazônia no centro das atenções do mundo é um gesto importante, porém também escancara contradições entre o discurso e a prática. Assim, a conferência, que deveria ser símbolo de compromisso ambiental, já se tornou um teste político e ético para o país.

Não por acaso, logo surgiram os primeiros problemas. A rede hoteleira de Belém (PA), com oferta limitada, aumentou os preços de forma abrupta diante da alta procura. À primeira vista, essa é a lógica natural do mercado, no qual a relação entre oferta e demanda define valores. Contudo, nesse caso específico, o resultado é diferente: os custos elevados não serão arcados apenas pelas delegações, mas sim pelos contribuintes de cada país. 

Em outras palavras, cada diária inflada representa imposto pago por cidadãos que financiam seus governos para estarem presentes nas negociações climáticas. Portanto, quando hotéis cobram dez ou quinze vezes mais, esse lucro deixa de ser apenas fruto do mercado e passa a ser uma transferência imoral de recursos de trabalhadores para grupos privados.

Responsabilidade e o Papel do Governo

Diante desse cenário, é aqui que entra a responsabilidade. Ao propor a Amazônia como palco da conferência, o governo assumiu o compromisso de garantir condições adequadas e acessíveis. Isso não significa restringir o direito de propriedade ou sufocar a economia, mas sim assegurar que o Estado de Direito funcione: proteger a liberdade de todos os envolvidos e criar regras claras para evitar abusos. 

Cabe ao setor privado refletir sobre os impactos de suas escolhas. A busca por lucro é legítima, mas, quando feita sem limite, em um evento custeado por dinheiro público, perde legitimidade e transforma oportunidade em exploração. Além disso, há o ponto da coerência: não se pode defender a Amazônia nos palcos internacionais e, ao mesmo tempo, estimular projetos de exploração que fragilizam o bioma. 

Esse tipo de contradição, observado de perto pela comunidade internacional, coloca em risco a credibilidade do país. Liberdade, nesse contexto, não é apenas escolher o local do evento, mas também agir com transparência e assumir as consequências das decisões tomadas.

Desafios e Soluções para a COP30

Para superar tais desafios, o caminho passa por medidas concretas: ampliar a infraestrutura urbana de Belém, garantir hospedagens a preços justos, oferecer previsibilidade nos custos e, sobretudo, incluir de fato as populações locais. Assim será possível equilibrar liberdade econômica com responsabilidade social, direito de propriedade com interesse público e soberania nacional com respeito às regras que conferem legitimidade a uma conferência global.

Em síntese, a COP30 será mais do que um encontro sobre clima, mas sim um teste de valores. Se conseguir unir discurso e prática, o Brasil poderá sair fortalecido. Caso contrário, corre o risco de transformar uma oportunidade histórica em um exemplo de incoerência e imoralidade. A liberdade exige responsabilidade, e é nesse equilíbrio que o país será julgado.

Mateus Vitória Oliveira

Colunista

Associado do Instituto Líderes do Amanhã

Associado do Instituto Líderes do Amanhã