*Artigo escrito por Júnior Abreu, administrador e secretário-chefe da Casa Civil do governo do ES
Quando eu ingressei na faculdade de Administração, na década de 1980, as disciplinas do curso eram voltadas quase em sua totalidade a números, desempenho e resultados. Havia a “Gestão de Pessoas”, no entanto, o que prevaleciam eram os conteúdos tecnicistas.
Questões que diziam respeito ao comportamento e complexidade humanos não tinham nas organizações o espaço que hoje dispõe.
Em 40 anos, novas pautas se impuseram. Fui testemunha dessa transformação e posso dizer de cadeira: gestão se faz com pessoas!
O dia a dia das organizações vai muito além da frieza das planilhas e números. É preciso um olhar cuidadoso e acolhedor para quem faz tudo acontecer. Nós avançamos, mas ainda há um longo caminho a percorrer.
Quando se fala em saúde mental, por exemplo, o quadro do nosso país é preocupante. A chamada Síndrome de Burnout, caracterizada pelo esgotamento físico e mental relacionado ao trabalho, é uma doença que atinge 30% das pessoas ocupadas em território nacional, de acordo com a Associação Nacional de Medicina do Trabalho (ANAMT). O Brasil ocupa a segunda posição no ranking mundial de casos.
Outro dado que demanda atenção vem do Ministério da Previdência. De acordo com o órgão, em 2024, foram mais de 470 mil afastamentos do trabalho por ansiedade e depressão. Uma crise de saúde mental que, obviamente, impacta no crescimento do Brasil. Pessoas adoecidas não produzem.
Uma pesquisa da plataforma Infojobs, de setembro do passado, apontou, ainda, que 90% dos entrevistados consideram trocar de emprego por motivos de saúde mental, satisfação ou felicidade no trabalho.
Entre os principais fatores citados como mais prejudiciais à saúde mental estão: lideranças tóxicas, cobranças excessivas e falta de reconhecimento
É dever do gestor ter atenção a todos os fatores que englobam o bem-estar das pessoas. Combater a cultura do assédio é um dos caminhos para se estabelecer um ambiente saudável, e isso passa por adotar tolerância zero com más condutas, que vão de tratamento agressivo a ameaças de punição.
Em quatro ano (2020 – 2024), a Justiça do Trabalho julgou mais de 450 mil casos de assédio moral no Brasil. Outra estatística preocupante.
O mundo de hoje não é o mundo de 1984. A revolução digital mudou referenciais e quebrou paradigmas. É hora de nós, gestores, virarmos esse jogo de números negativos, tomando para si a missão de sermos mais… humanos.