
Desde o advento do Plano Real o câmbio vem sendo utilizado para controlar a inflação, esta nem sempre provocada pelas clássicas pressões de demanda que constam nos livros básicos de ensino. Efeitos se fizeram sentir na produção industrial (desindustrialização prematura) e no próprio ritmo de crescimento da economia brasileira até o presente, independente das alegadas grandes mudanças efetuadas desde a transição administrativa entre 2002 e 2003.
Guardadas as devidas proporções, os últimos dez anos têm sido uma continuidade em relação ao período anterior. Como diferença fundamental deve-se destacar que a conjuntura externa foi mais generosa na década de 2000, pois a mesma permitiu a ampliação de programas sociais. Pode-se afirmar que essa ampliação foi positiva para aliviar as grandes desigualdades históricas no Brasil. Quem, afinal, poderia ser contra programas sociais progressistas que possuem porta de saída? Pode-se também dizer do passado recente que a ampliação da estratégia de crescimento por estímulos diversos e continuados à demanda de consumo criou uma situação que pode vir a complicar a sustentabilidade das nossas contas externas.
Creio que esse pode ser encarado como um problema clássico da falta de rumo nacional. Segundo afirmou Michael Porter (1996), “a agenda estratégica demanda disciplina e continuidade; seus inimigos são a dispersão e a conciliação”. Esse me parece ser o cerne da questão, pois a estratégia exige que sejam feitas escolhas entre algumas opções excludentes, priorizando-se de forma razoavelmente coerente ações ao longo do tempo. Ajustes podem ser feitos na caminhada, é claro. Infelizmente não parece ser esse o caso brasileiro, que, por sua vez, mostra-se volúvel a flutuações conjunturais dos ciclos econômicos e a pressões de grupos organizados.
O crescimento vigoroso da China e o boom de commodities criaram uma situação paradoxal para o Brasil. Não se trata, portanto, de um mistério o fato de o Brasil estar enfrentando um hiato entre o crescimento da demanda de consumo doméstica com uma semi-estagnação da indústria instalada. O gráfico do FMI que segue logo abaixo aponta para tal quadro. Há ainda problemas institucionais que se manifestam pelo lado da oferta da economia e reflexos na conta corrente do seu balanço de pagamentos, cujo déficit poderá estar girando em torno de 3,0% do PIB nos próximos dois anos.
Algumas perguntas se fazem necessárias nesse momento histórico. Qual é a estratégia brasileira de desenvolvimento sustentado? Poderíamos abrir mão da indústria de transformação, aceitando com relativa naturalidade a desindustrialização prematura da economia? Quais são as reformas institucionais progressistas que deveriam ser priorizadas na agenda nacional para desobstruir a demanda de investimento? Até que ponto se pode esperar desenvolvimento sustentado de uma economia tomadora de preços nos mercados globais?
Rodrigo L. Medeiros (D.Sc.) é membro da World Economics Association (WEA)


