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Desigualdade digital: o elo perdido entre oportunidade e qualidade de vida

A desigualdade digital é uma realidade preocupante que impede muita gente de ter acesso às mesmas oportunidades, impactando a empregabilidade e a qualidade de vida

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Imagem: Freepik
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* Artigo escrito por Renata Laranja, professora da Unidade de Computação e Sistemas da Faesa.

Vivemos em um mundo cada vez mais conectado. A internet, antes um luxo, virou ferramenta essencial para quase tudo: trabalhar, estudar, se comunicar, buscar informações e se divertir. No entanto nem todos estão a bordo desse trem da tecnologia.

A desigualdade digital é uma realidade preocupante que impede muita gente de ter acesso às mesmas oportunidades, impactando diretamente a empregabilidade e a qualidade de vida.

Pense comigo: como alguém vai procurar um emprego hoje sem acesso à internet ou sem saber usar um computador? Como vai poder se qualificar para uma vaga que exige conhecimentos básicos de informática? A verdade é que a falta de acesso e de familiaridade com a tecnologia se tornou uma barreira gigante, principalmente para quem tem baixa renda ou pouca escolaridade. Muitos não tiveram a chance de acompanhar o avanço tecnológico, seja por falta de recursos ou de oportunidades de aprendizado.

Renata Laranja, professora da Unidade de Computação e Sistemas da Faesa. Foto: Faesa/Divulgação

E essa exclusão digital não é um problema isolado, ela afeta milhões de brasileiros. Dados do Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação (Cetic.br) mostram que, em 2023, cerca de 28% da população brasileira com mais de 10 anos não usava a internet. Isso representa milhões de pessoas à margem do mundo digital.

Essa exclusão tem um custo alto. Pessoas sem acesso digital acabam tendo menos chances de conseguir um emprego melhor, de se capacitar para as novas demandas do mercado ou de ter acesso a serviços básicos que hoje são oferecidos on-line. Elas acabam dependendo mais de assistencialismo e têm sua autonomia e crescimento financeiro limitados.

No Espírito Santo, temos visto movimentos para levar capacitação e inclusão digital a cidades e bairros mais carentes. É um passo importante e necessário, mas ainda não é o suficiente. É fundamental que cada um de nós também se conscientize: ter conhecimentos básicos de informática e acesso à internet não é mais um diferencial, é um requisito para navegar no cenário atual.

É preciso uma união de forças entre o setor público e o privado. As organizações públicas podem investir em infraestrutura de internet, levando conexão de qualidade a áreas remotas e comunidades carentes. Devem também criar e ampliar programas de centros de inclusão digital, com computadores disponíveis e aulas gratuitas de informática básica e avançada. Iniciativas como o fornecimento de equipamentos recondicionados ou subsídio para compra de dispositivos podem fazer uma enorme diferença.

Já as organizações privadas podem contribuir oferecendo programas de capacitação profissional focados nas novas tecnologias, como automação e inteligência artificial.

Isso pode ser feito por meio de cursos on-line gratuitos ou a preços populares, workshops e até mesmo parcerias com escolas e ONGs para treinar a população para as vagas que exigem esses conhecimentos. Empresas de tecnologia, por exemplo, podem disponibilizar licenças de software ou plataformas de aprendizado gratuitas para comunidades.

Para que as pessoas participem ativamente desses movimentos de capacitação, é fundamental que as ações sejam próximas da realidade delas. Isso significa elaborar cursos e materiais que precisam ser fáceis de entender, sem termos técnicos que assustem; oferecer capacitação em centros comunitários, escolas e outros espaços de fácil acesso para a população; considerar a jornada de trabalho das pessoas, oferecendo opções de turno que facilitem a participação; mostrar como a tecnologia, a automação e a inteligência artificial podem ser úteis no dia a dia e para conseguir um emprego, com exemplos claros e atividades práticas; usar canais de comunicação que cheguem a essas comunidades, como rádio comunitária, associações de moradores e redes sociais locais, e oferecer incentivos, como certificados, auxílio-transporte ou até mesmo a garantia de oportunidades de encaminhamento para vagas, podem motivar a participação.

A inclusão digital é um esforço coletivo. Vai muito além de simplesmente ter um computador ou acesso à internet. Trata-se de garantir que todas as pessoas tenham as ferramentas e o conhecimento necessários para prosperar em uma sociedade cada vez mais digital.

Em um mundo onde dominar habilidades básicas de computação e saber interagir com tecnologias como a inteligência artificial se tornou essencial, é preciso promover a autonomia e criar oportunidades reais de crescimento financeiro — reduzindo a dependência de políticas assistencialistas.

É hora de fechar essa lacuna e construir um futuro em que a tecnologia seja uma ponte para o progresso, e não um abismo que aprofunda desigualdades.