Editorial Rede Vitória

Dia do Trabalho: reconhecer, valorizar, construir

De um lado, novos postos de trabalho surgem no ES, de outro, trabalhadores não conseguem aproveitar as oportunidades

Carteira de Trabalho, feirão de empregos
Mutirão de empregos com vagas para pessoas com deficiência (Foto: Rafael Neddermeyer/Agência Brasil)

Neste Primeiro de maio, o Espírito Santo tem motivos concretos para comemorar. Com uma taxa de desemprego de 3,9% no último trimestre de 2024 – a menor desde 2012 e bem abaixo da média nacional de 6,2% –, o Estado se destaca no cenário brasileiro.

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Agora, é preciso ter coragem para olhar além dos números.
Apesar do bom desempenho, o Espírito Santo, assim como o Brasil, enfrenta um apagão de mão de obra qualificada. Quase seis em cada dez empresas relatam dificuldades para contratar ou reter profissionais.

A equação é perversa. De um lado, novos postos de trabalho surgem, de outro, trabalhadores não conseguem aproveitar as oportunidades.

Resultado: gargalos produtivos, salários pressionados, projetos que ficam no papel ou que são descontinuados.

Outro ponto que merece ser olhado com acurácia é a dependência de programas sociais, que permanece elevada.

Ainda que eles sejam instrumentos legítimos e fundamentais para proteger a dignidade de quem enfrenta a pobreza, é preciso reconhecer que, sem uma política clara de transição para o mercado de trabalho, eles podem se transformar em uma armadilha invisível.

Em muitos casos, na ausência de mecanismos que incentivem e valorizem a empregabilidade, parte dos beneficiados opta por permanecer dependente, ou seja, além da qualidade alguns setores sofrem com o número reduzido de profissionais disponíveis.

Todos esses pontos elencados ameaçam comprometer o crescimento e aprofundar a desigualdade no acesso às oportunidades. Portanto, o debate precisa amadurecer.

A capacitação é uma responsabilidade compartilhada. O Estado deve investir mais e melhor em educação técnica e formação profissional.

As empresas precisam participar dessa construção. Os sindicatos de trabalhadores precisam ir além da defesa de direitos e assumir um papel ativo na qualificação de seus representados.

Também não é possível esquecer o próprio trabalhador. Em um mercado em transformação acelerada, impulsionado pela inteligência artificial e pela valorização das competências emocionais – como adaptabilidade, comunicação e pensamento crítico –, o aprendizado contínuo deixou de ser uma opção.


Cada profissional precisa entender que permanecer relevante exige esforço, atualização constante e disposição para evoluir.

Quanto aos programas sociais, eles devem ser vistos como um ponto de partida, não como um ponto de chegada.

É importante lembrar que o Brasil já deu passos importantes para modernizar as relações de trabalho.

A reforma trabalhista atualizou regras ultrapassadas e ampliou a liberdade de negociação entre patrões e empregados, o que contribuiu para tornar o mercado mais dinâmico e estimular novas formas de trabalho.

Retroceder não faz sentido algum. O desafio é seguir aperfeiçoando a legislação e corrigindo eventuais distorções.

O Espírito Santo, com sua economia em expansão, tem a oportunidade de construir um modelo de desenvolvimento mais justo: onde o crescimento econômico venha acompanhado da valorização do capital humano.

Neste Dia do Trabalho, celebrar é justo. Mas mais justo ainda é reconhecer que há muito trabalho pela frente.