Em um país que insiste em explicar o fracasso com narrativas e o sucesso com sorte, o Espírito Santo é uma dissonância elegante. Não por confronto, mas por contraste. Enquanto boa parte dos estados brasileiros tropeça entre déficits, populismo fiscal e inchaço estatal, o Espírito Santo prospera em silêncio, como uma onça que não precisa rugir para dominar seu território.
Talvez seja isso que incomode tanto: o fato de que um estado pequeno, sem bancada poderosa e sem vitrine midiática, tenha conseguido — à revelia das expectativas — criar um ecossistema de responsabilidade fiscal, considerável liberdade econômica e previsibilidade institucional. E tudo isso sem renunciar à sobriedade, ao equilíbrio e à contenção que tornam possível o avanço sustentável.
Essa onça, rara e astuta, não caça manchetes. Caminha na direção oposta, onde não há plateia, mas há resultado. A força está na recusa: na recusa ao improviso e à disfunção institucional, que corrói o pacto federativo brasileiro. O Espírito Santo vem se construindo como exceção, não por acidente, mas por método. A opção deliberada por sucessivas administrações mais eficientes e o compromisso com o equilíbrio fiscal fez emergir um modelo de estado que funciona e que afronta, por contraste, o falido modelo nacional.
Ainda que à margem de qualquer intenção teórica, o que se vê no Espírito Santo parece ecoar a ideia de ordem espontânea descrita por Frédéric Hayek: uma engrenagem que não foi concebida por iluminados de gabinete, mas emergiu da interação entre atores públicos e privados, movidos por incentivos claros e um ambiente minimamente estável. Tal prosperidade parece menos uma obra do acaso e mais o resultado de escolhas racionais dentro de um ambiente de liberdade — uma interpretação que não destoaria do olhar de Ludwig von Mises sobre a ação humana. E é justamente essa moldura que separa o Espírito Santo da regra.
Desempenho e Coerência Fiscal do Espírito Santo
Os dados não mentem. O estado está entre os cinco mais competitivos do Brasil, lidera rankings de solidez fiscal, tem uma das menores dívidas públicas do país, ostenta superávits consistentes e ocupa os primeiros lugares nos indicadores de educação básica. Não se trata apenas de números, mas de coerência. O Espírito Santo arrecada de forma eficiente, gasta com parcimônia e investe com visão de longo prazo. Há metas, há cobrança, há resultado. É um pacto com a responsabilidade, não com a popularidade.
Ao contrário do que se tornou regra no Brasil, o sucesso capixaba não vem de favores ou de fórmulas mágicas. Não depende de heranças e de impulsos externos. É construído com discrição, com estratégia e com a consciência de que liberdade e responsabilidade não são opostas, mas complementares. O estado não busca tutelar o cidadão como um pai severo, tampouco o seduz como um político em campanha. Ele o trata como adulto: reconhece sua capacidade de escolher, empreender e prosperar. E esse é, talvez, o maior elogio institucional que se pode fazer a uma população.
Riscos e a Necessidade de Preservar o Exemplo Capixaba
Mas há riscos, e eles não são poucos. A dependência da cadeia de petróleo exige vigilância. A pressão por expansão de gastos — alimentada pelo clima nacional de distribuição desenfreada — está sempre à espreita. A tentação de seguir modismos políticos, também. E o pior de todos os perigos: o risco de que a coerência seja punida pelo sistema, como frequentemente acontece no Brasil. Afinal, em uma cultura que trata a disciplina fiscal como egoísmo e o mérito como opressão, ser eficiente é uma afronta.
É por isso que o exemplo capixaba precisa ser não apenas preservado, mas divulgado. O Espírito Santo ainda não representa um ideal plenamente realizado, mas já aponta uma direção clara para um Brasil que pode dar certo quando escolher respeitar a liberdade em vez de temê-la, quando tratar o setor produtivo como parceiro em vez de inimigo e quando reconhecer que a dignidade não floresce sob tutela, mas sob autonomia.
Em vez de heróis, talvez o Brasil precise de bons exemplos. O exemplo capixaba prova que é possível fazer diferente — e fazer melhor. Seu exemplo é mais que uma estatística: é um chamado. Enquanto o país tropeça em crises, o estado que nasceu entre o mar e a montanha sobe, firme, em direção ao futuro. Silencioso, independente e letalmente eficiente, tal qual toda boa onça deve ser.