Na linguagem política, um “pato manco” é o governante que, embora ainda no exercício do cargo, perde a capacidade de liderar, influenciar e transformar. É exatamente essa a condição em que o governo Lula parece ter mergulhado. O presidente segue no poder, mas o governo já não avança – apenas resiste.
A última pesquisa Futura, que ouviu 2 mil entrevistados entre os dias 12 e 23 de junho, constatou que a aprovação ao governo caiu para menos de 24%, a pior avaliação desde o início do mandato.
A paralisia é visível. A obsessão em aumentar receitas, em vez de enfrentar com seriedade o corte de gastos e a racionalização do Estado, denuncia um governo refém de sua própria estrutura.
Fala-se muito em justiça social, mas ignora-se o peso crescente da máquina pública sobre quem produz, investe e trabalha.
A agenda de reformas estruturantes foi abandonada. A reforma administrativa, sequer discutida. A política de privatizações, arquivada. E empresas estatais, como os Correios, continuam acumulando prejuízos bilionários sem qualquer plano realista de reestruturação.
Em relação ao Congresso já não há uma relação de equilíbrio e respeito entre Poderes. Há sim uma relação espúria, chantagista e fisiológica. Deputados e senadores transformam o governo em refém e o Executivo já não lidera. Reage.
Em vez de propor um rumo para o país, tenta manter a base aliada coesa a qualquer custo, distribuindo cargos e verbas, mas sem oferecer um projeto de futuro.
O país assiste à estagnação de um governo que, embora legitimado nas urnas, parece ter esgotado sua capacidade de mobilizar esperança e confiança.
Não se trata de negar a trajetória política de Lula ou apagar avanços anteriores. Mas sim de constatar um impasse. O Brasil não pode se dar ao luxo de viver mais dois anos em compasso de espera, de incertezas. É preciso que o Executivo exerça plenamente a autoridade do cargo que ocupa.
Ser um “pato manco” não significa apenas perder força – é perder relevância. É permitir que o vazio de poder seja preenchido por interesses difusos, por fisiologismo e por descrença institucional.
E, como sempre, quem paga o preço do imobilismo é a sociedade – especialmente os que mais precisam de um Estado eficiente, enxuto e funcional.