Foto: Freepik
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* Artigo escrito por Monica Nogueira dos Santos, doutora em Psicologia, psicóloga clínica e professora da Faesa Centro Universitário

A inteligência artificial (IA) promete ser uma aliada no cuidado da saúde mental, mas também carrega riscos que não podemos ignorar. O segredo está em como ela será utilizada, não como uma substituta, mas sim como um suporte.

Como aliada, a IA pode oferecer um primeiro suporte, estimulando que a pessoa busque ajuda adequada posteriormente. Isso já acontece com programas que usam algoritmos para indicar ou monitorar o humor.

Também há ganho em eficiência em tarefas administrativas, triagens iniciais, coleta de dados, elaboração de prontuários, liberando o profissional para o que de fato importa: sua presença, escuta e intervenção humana. A IA também pode ajudar a personalizar intervenções se “treinada” com dados suficientes.

Monica Nogueira dos Santos, doutora em Psicologia, psicóloga clínica e professora da Faesa Centro Universitário. Foto: Faesa/Divulgação

Outro ponto é que, em relação a temas considerados tabus em nossa sociedade ou que geram medo de julgamento, as pessoas tendem a se sentir mais à vontade para compartilhá-los com uma “máquina” do que em uma conversa presencial, olho no olho, com outro ser humano.

Na conta dos riscos, não se engane, a IA pode ser uma fraude para quem precisa de acolhimento real. Primeiro ponto: ela não sente. Ela pode simular empatia com frases prontas, mas não capta nuances, como tom de voz, silêncios, olhar, história pessoal, como faria um terapeuta humano.

Outro risco grave: a segurança de dados. Informações psicológicas são sensíveis. Se vazarem ou forem manipuladas, podem causar dano real. Também há o perigo de diagnóstico automático e precipitado.

A IA pode rotular uma pessoa com depressão, ansiedade ou outro transtorno sem compreensão de contexto, gerando autodiagnósticos perigosos ou reforçando um autodiagnóstico equivocado.

Por fim, é preciso desmascarar o risco do isolamento. Se depender só de IA, a pessoa deixa de buscar contato humano, de construir rede de apoio e de exercitar habilidades sociais que só amadurecem no contato real com outro ser humano.

A inteligência artificial é uma ferramenta poderosa, mas ferramenta não é a “cura” para tudo. Quem lida com sofrimento humano não pode terceirizar o essencial: o vínculo, a escuta e a ética. A IA deve estar ao lado do psicólogo, nunca no lugar dele.

Para que a utilização da inteligência artificial seja efetiva e segura no campo da saúde mental, três condições se mostram essenciais. A primeira diz respeito à regulamentação ética: o Conselho Federal de Psicologia já iniciou movimentos no sentido de definir diretrizes específicas.

A segunda envolve a capacitação dos profissionais, que devem ser preparados para empregar a IA de forma crítica, reconhecendo seus limites e riscos.

Por último, destacam-se a transparência e o consentimento, uma vez que usuários dessas tecnologias precisam compreender claramente o destino de seus dados, o alcance da atuação humana e o ponto em que o algoritmo passa a operar.

Se acertarmos no uso da IA, ela poderá servir como extensão do cuidado humano, reduzindo desigualdades e aumentando o alcance da saúde mental. Se errarmos, e já vemos sinais disso, estaremos por um fio de causar danos que não podemos nem prever. No fim, para quem sofre, ainda é mais seguro buscar ajuda de um profissional de carne e osso.