Artigo

Imóveis antigos: o futuro do passado na arquitetura

Antes de qualquer proposta de restauração, é fundamental lembrar que todo imóvel, seja antigo ou recente, foi concebido para abrigar vidas

Foto: Freepik
Foto: Freepik

*Artigo escrito por José Daher Filho, arquiteto e decano da Associação Brasileira dos Escritórios de Arquitetura no Espírito Santo (AsBEA/ES)

Em muitas cidades do país — inclusive nas mais próximas — é comum ouvirmos sobre imóveis antigos que permanecem fechados e em processo de deterioração. Outros foram restaurados, mas seguem sem uso. E há ainda os que, mesmo restaurados, acabaram sucumbindo pela falta de manutenção.

Antes de qualquer proposta de restauração, é fundamental lembrar que todo imóvel, seja antigo ou recente, foi concebido com um propósito essencial: abrigar vidas — seja para moradia, trabalho, saúde, educação ou lazer.

Frequentemente, a restauração de imóveis antigos é pensada com foco em atividades culturais e no incentivo ao turismo.

No entanto, é preciso ampliar esse olhar. Cultura é vida em movimento. São as relações humanas e os modos diversos de viver e produzir que verdadeiramente dão sentido a um espaço.

Imóveis antigos e o reconhecimento de território

Por isso, a revitalização de um imóvel deve começar pelo reconhecimento do território em que ele está inserido: conhecer sua comunidade, suas necessidades reais e quais atividades podem ser retomadas ou implantadas para fortalecer uma vida digna e integrada localmente.

Nesse contexto, uma equipe multidisciplinar deve ser envolvida para avaliar o imóvel quanto aos seus aspectos funcionais, estéticos e à sua memória coletiva.

O novo uso deve respeitar e potencializar essas características, sendo uma resposta concreta às demandas atuais da comunidade, com conexão ao desenvolvimento urbano como um todo.

Assim, o imóvel antigo — tombado ou não — pode tornar-se instrumento de qualificação da vida comunitária, um espaço produtor e agregador de culturas.

Em outras palavras: o passado restaurado precisa ser meio, não fim.

Apenas dessa forma, o desenvolvimento socioeconômico local poderá se consolidar e o turismo surgirá de maneira espontânea e produtiva — gerando trabalho, bem-estar e qualidade de vida para todos.

É assim que o passado ganha um futuro promissor.

José Daher Filho, arquiteto e decano da Associação Brasileira dos Escritórios de Arquitetura no Espírito Santo (AsBEA/ES)
José Daher Filho, arquiteto e decano da Associação Brasileira dos Escritórios de Arquitetura no Espírito Santo (AsBEA/ES). Foto: Acervo pessoal