A liberdade somente se sustenta quando líderes assumem a responsabilidade individual de decidir em contextos de incerteza. A espera por informações perfeitas paralisa processos e mina a economia. Em cenários de ambiguidade e volatilidade, decidir com base em credibilidade, evidências parciais e princípios sólidos é condição não apenas de sobrevivência, mas de fortalecimento institucional.
Ray Dalio, em Princípios, demonstra que executivos precisam construir algoritmos decisórios que ponderem reputação, histórico e dados disponíveis. O MIT Sloan Management Review identificou que empresas que utilizam meritocracia de ideias combinada com avaliação probabilística superam concorrentes em 25% de rentabilidade. Somado a isso, a OCDE alerta que a demora em decisões estratégicas reduz, em média, 1,3% do PIB de países com baixa previsibilidade institucional, enfraquecendo inclusive o Estado de Direito.
Nesse sentido, governos e empresas que aguardam certezas enfrentam atrasos fatais. A pandemia da Covid-19 evidenciou o custo da hesitação: países que retardaram medidas de contenção registraram, segundo a Universidade de Oxford, impactos econômicos até 40% superiores aos que agiram com base em cenários incompletos, mas plausíveis. Por outro lado, também houve decisões precipitadas, sem critério, que geraram distorções. Esse contraponto reforça que não se trata de decidir rápido a qualquer custo, mas de decidir com método, responsabilidade e revisão contínua.
Comitês de Decisão Adaptativa e a Economia de Mercado
A resposta institucional exige a criação de comitês de decisão adaptativa, em que dados empíricos e reputação são ponderados em tempo real. A Amazon, por exemplo, adota o princípio do “disagree and commit”: decisões são tomadas rapidamente, com base nas melhores informações disponíveis, e ajustadas em ciclos curtos de revisão. A Bridgewater Associates, fundada por Dalio, tornou-se o maior fundo de hedge do mundo, porque internalizou esse processo em algoritmos de decisão apoiados por mérito e credibilidade ponderada. Ambas as práticas demonstram como a economia de mercado floresce quando líderes testam hipóteses e corrigem rumos sem comprometer a solidez institucional.
Formação Executiva e o Estado de Direito
No Brasil, programas de formação executiva devem incluir metodologias de decisão sob incerteza. Isso significa ensinar líderes a pensar probabilisticamente, atribuir pesos à credibilidade das opiniões e revisar continuamente hipóteses. Essa formação não é apenas técnica, mas cívica: conecta-se ao dever do líder em proteger o Estado de Direito e sustentar instituições capazes de resistir ao caos.
A liderança eficaz não espera pela perfeição, constrói sistemas capazes de decidir bem com informações incompletas. Em um país que busca amadurecer sua democracia e consolidar instituições, a capacidade de decidir sob incerteza é expressão máxima da liberdade responsável. Cabe aos executivos brasileiros assumir esse protagonismo, fortalecendo a economia de mercado e garantindo que a responsabilidade individual não seja ofuscada pela paralisia da dúvida.