
* Artigo escrito por Denise Franzotti Togneri, mestre em Informática, engenheira de requisitos e professora da Faesa Centro Universitário.
A história das mulheres na TI é marcada por pioneirismo, inovação e contribuições significativas, muitas vezes sem o devido reconhecimento. Ada Lovelace, considerada a primeira programadora do mundo, escreveu em 1843 o que é tido como o primeiro algoritmo de computador da história.
Hedy Lamarr criou uma tecnologia que deu origem ao wi-fi, ao bluetooth e a outros sistemas de comunicação sem fio.
O GPS foi desenvolvido por Gladys Mae West. Sheryl Sandberg, ex-diretora de operações do Facebook, e Susan Wojcicki, ex-CEO do YouTube, tiveram papéis decisivos no crescimento de suas empresas.
No entanto as mulheres continuam sendo minoria na área de TI. Uma pesquisa da Laboratória, em parceria com a consultoria McKinsey, mostra que apenas 20% dos cargos em TI no Brasil são ocupados por mulheres, e menos de 30% delas são em posições de liderança.
Em 2024, segundo o IBGE, as mulheres representavam 60,3% dos matriculados no ensino superior, mas apenas 15% frequentavam cursos da área de TI.
A Brasscom aponta que uma das causas para essa baixa adesão é a falta de estímulo desde a infância até a fase adulta para que meninas escolham carreiras na área de tecnologia.
Para quem trabalha com TI, é comum fazer horas extras, principalmente diante de problemas que exigem soluções rápidas para evitar a paralisação das atividades das empresas.
Embora essa realidade não seja exclusiva da área de tecnologia, ainda há preconceito nas contratações de mulheres, agravado por fatores como gravidez, licenças-maternidade e a necessidade de conciliar a rotina profissional com os cuidados com os filhos.
Além disso, mulheres gastam, em média, o dobro de horas dos homens por semana em afazeres domésticos, o que contribui para ampliar a desigualdade.
Pesquisas indicam que a baixa representatividade feminina na TI compromete a inovação, reduz a competitividade e pode impactar negativamente os resultados financeiros das empresas.
A presença de mulheres traz novos pontos de vista e percepções, enriquece as soluções desenvolvidas e reflete melhor as necessidades de toda a sociedade.
Para mudar esse cenário, diversas iniciativas têm sido colocadas em prática. A inclusão da educação em ciência e tecnologia desde os primeiros anos escolares é uma das mais relevantes, pois ajuda a despertar o interesse de meninas por projetos relacionados à área.
Algumas empresas também estão adotando políticas de diversidade, como promoção da equidade salarial, recrutamentos inclusivos e programas de capacitação em TI, embora essas práticas ainda não sejam amplamente difundidas.
Diversas organizações e coletivos de mulheres no Brasil e no mundo trabalham para promover a inclusão feminina na TI, como MariaLab, Girls Who Code, Black Girls Code, InfoPreta, Rails Girls, Meninas Digitais e Senai Tech pras Manas.
No Espírito Santo, várias iniciativas também se destacam, oferecendo cursos gratuitos de informática e programação com foco no público feminino.
O projeto Tecno Crias, do Instituto João XXIII, é um exemplo de inclusão digital. Desde 2018, o governo do estado apoia o programa Corte de Lovelace, coordenado pelo Ifes.
Na Faesa, o Programa de Inclusão Digital (PID), coordenado pela professora Renata Laranja desde 2004, foi reconhecido pela ONU como uma prática de referência replicável em qualquer parte do mundo.
Na Ufes, o LabGIRLS promove ações que buscam garantir maior inclusão e equidade de gênero no Centro Tecnológico.
Para honrar todas as mulheres da TI que vieram antes de nós e abriram portas, é preciso atuar continuamente para inspirar, apoiar e encorajar meninas e mulheres a desenvolverem competências para atuar neste campo fascinante e essencial.
Só assim será possível quebrar estereótipos de gênero históricos e criar novas oportunidades transformadoras para as empresas e para o mundo.
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