
O estresse é o novo gás tóxico do ambiente corporativo. Invisível, silencioso e, acumulativo. Ele escapa pelos dutos da negligência e, quando explode, vitima todos: o colaborador, a equipe, a empresa. Por muito tempo, a saúde mental foi tratada como um tema periférico ou voluntário. A nova redação da Norma Regulamentadora 1 muda esse cenário ao tornar obrigatória a gestão dos riscos psicossociais no ambiente de trabalho.
Não se trata de alarmismo. Estudos internacionais confirmam a gravidade do problema. Nos Estados Unidos, uma pesquisa da Universidade Stanford estimou que o estresse laboral está associado a quase 120 mil mortes anuais e gera mais de 190 bilhões de dólares em despesas de saúde. Globalmente, a Organização Mundial da Saúde (OMS) aponta que a depressão e a ansiedade relacionadas ao trabalho resultam em perdas anuais de produtividade superiores a 1 trilhão de dólares. Esses dados evidenciam que não se trata de fragilidades individuais, e sim de um desafio estrutural que demanda respostas institucionais.
Impacto dos Transtornos Mentais no Brasil
No Brasil, o cenário é igualmente crítico. De acordo com dados da Secretaria de Previdência, os transtornos mentais já figuram entre as três maiores causas de afastamento do trabalho. Em 2022, o Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) registrou mais de 288 mil benefícios concedidos por esse motivo. A nova redação da NR1 estabelece que as organizações devem considerar fatores como jornadas extensas, metas inatingíveis, assédio moral, isolamento, sobrecarga cognitiva e ausência de canais de denúncia nos seus Programas de Gerenciamento de Riscos. Ao incorporar os riscos psicossociais às obrigações legais, a norma amplia a responsabilidade das empresas para além da segurança física, exigindo atenção real ao impacto do ambiente sobre a saúde emocional.Mais do que adequação normativa, trata-se de uma nova perspectiva sobre gestão. Segundo relatório do Harvard Business Review, empresas que investem em saúde mental têm retorno financeiro estimado em quatro vezes o valor aplicado, além de ganhos indiretos, como clima organizacional, reputação de marca e atração de talentos. Estudos da Deloitte também reforçam que iniciativas preventivas são mais eficazes e menos custosas que intervenções corretivas. Ou seja, promover o equilíbrio emocional não é custo nem modismo; é estratégia inteligente de negócios: previne afastamentos em massa, retém talentos e reduz a pressão sobre a saúde pública.