O Amanhã é um Verbo

Imagine um navegador renascentista lançando-se ao mar sem mapas confiáveis, guiado apenas pelas estrelas e pela convicção de que a rota existe. Assumir o futuro é exatamente isso: um gesto de coragem diante do incerto. É recusar o porto seguro do conformismo e entender que o amanhã é um verbo em movimento, forjado em cada decisão de hoje.

Aristóteles chamou de virtude o hábito de escolher deliberadamente o bem. Mises chamou essa força de ação humana. Hayek chamou de ordem espontânea o resultado dessas escolhas individuais, que, somadas, erguem as sociedades livres. Em todos os casos, o ponto é que a liberdade só se sustenta quando o indivíduo aceita o ônus de decidir por si. Porque toda vez que abdica dessa responsabilidade, alguém decide por ele. E é nesse instante silencioso de concessões diárias, em nome do conforto da tutela, que a liberdade se esvai.

Nesse sentido, a tentação de trocar responsabilidade por conforto está sempre à espreita. Isso, pois, mais que nunca, vivemos tempos em que a conveniência virou bússola moral, e é mais fácil culpar o governo pelos fracassos, a empresa pelas frustrações e o destino pelo que não se ousou enfrentar.

A cultura da terceirização de responsabilidades não é um mero sintoma político, mas uma patologia existencial. De tanto buscar proteção, o homem moderno desaprendeu a sustentar o próprio peso. E quando a coragem de agir se dissolve, o futuro se transforma em algo que simplesmente acontece, em vez de algo que se escolhe.

A Beleza da Ação Individual

Há, no entanto, uma beleza silenciosa em quem assume o próprio caminho. O indivíduo que age com integridade, mesmo sem plateia, cumpre o papel civilizatório de provar que a grandeza ainda é possível. É nesse espaço interior onde ninguém aplaude, que se forja a verdadeira liberdade. O progresso, afinal, não nasce da coletividade abstrata, mas da soma de indivíduos que ousam agir em nome daquilo que acreditam, ainda que o mundo inteiro duvide.

Assumir o futuro é resistir ao impulso de delegar a outrem a tarefa de viver por nós. É compreender que responsabilidade não é um fardo, mas o privilégio de ser causa, e não consequência, da própria existência. Quem entende isso não teme o amanhã, porque sabe que o tempo apenas responde àquilo que se escolhe sustentar.

Ousadia e Liberdade na Construção do Amanhã

Como o navegador que confia nas estrelas, cada um de nós é chamado a atravessar o desconhecido com a coragem de quem traça a rota segundo suas convicções. Assumir o futuro é, portanto, recusar a deriva e fincar o leme em mãos firmes, mesmo quando o vento muda. É nessa escolha que se funda toda liberdade. O amanhã não é promessa nem acaso, mas a recompensa de quem ousou viver à altura do que acredita.

Juliana Bravo

Colunista

Associada Alumni do Instituto Líderes do Amanhã e Diretora Executiva da Biotríade Arqueologia

Associada Alumni do Instituto Líderes do Amanhã e Diretora Executiva da Biotríade Arqueologia