Durante muitos anos, o sistema penitenciário do Espírito Santo enfrentou sérias deficiências estruturais e de gestão. No início dos anos 2000, o estado foi alvo de diversas denúncias de violações de direitos humanos, envolvendo superlotação, falta de atendimento médico, ausência de separação entre presos provisórios e condenados, além da manutenção de internos em contêineres metálicos, sob condições insalubres. Relatórios do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), do Ministério Público Federal e de organizações internacionais apontaram o cenário como um dos mais críticos do país.

A partir de 2011, com o início do primeiro mandato do governador Renato Casagrande, houve uma inflexão importante. O governo assumiu a necessidade de reformar o sistema e iniciou um plano de reestruturação com foco em infraestrutura, gestão, reintegração social e transparência. A Secretaria de Estado da Justiça (Sejus) foi reestruturada e passou a centralizar ações como a ampliação de vagas, o fechamento de estruturas inadequadas e a implementação de programas educativos e de trabalho para internos.

Uma das decisões judiciais mais relevantes foi a interdição das celas em contêineres metálicos na unidade de Colatina, determinada após inspeção do CNJ em 2010, que classificou as condições como incompatíveis com a dignidade humana. A partir daí, o estado passou a responder a recomendações técnicas e judiciais com medidas práticas, como a construção de novas unidades e a separação de presos por tipo de regime.

Com o programa “Começar de Novo”, o Espírito Santo investiu na ressocialização por meio do estudo e do trabalho. Hoje, milhares de internos participam de atividades laborais, com parcerias com empresas, instituições de ensino e órgãos públicos. O estado também implantou o Sistema Eletrônico de Execução Unificado (SEEU), o que permitiu maior controle das penas e das progressões de regime.

Apesar das melhorias, desafios persistem. Segundo relatórios do CNJ, a população carcerária cresceu e hoje ultrapassa as 23 mil pessoas, enquanto a capacidade instalada gira em torno de 13 mil vagas. A presença de grupos organizados dentro das unidades prisionais e a limitação de recursos para saúde e assistência jurídica, especialmente no interior, continuam sendo pontos sensíveis.

Ainda assim, o Espírito Santo tem sido reconhecido por órgãos como o CNJ pela melhoria na gestão penitenciária e pela busca por soluções mais equilibradas entre segurança e reintegração. A experiência mostra que é possível enfrentar problemas históricos por meio de planejamento, articulação entre instituições e continuidade de políticas públicas.

Lenita Bodart Guimarães Caetano

Colunista

Gerência de Implantação de Projetos de Investimentos da ArcelorMittal Tubarão. Associada do Instituto Líderes do Amanhã

Gerência de Implantação de Projetos de Investimentos da ArcelorMittal Tubarão. Associada do Instituto Líderes do Amanhã