A trajetória profissional feminina no século XXI tornou-se um exercício de múltiplas jornadas. A história recente comprova que o avanço feminino no mercado de trabalho não depende apenas de políticas públicas, mas também da forma como cada mulher lida com o acúmulo de funções: maternidade, matrimônio, demandas domésticas e busca por reconhecimento profissional. O efeito biológico da maternidade, a pressão social de desempenhar múltiplos papéis e as demandas profissionais de alta performance convergem em um campo em que escolhas individuais e estruturas coletivas se entrelaçam.

A biologia explica parte dessa sobrecarga. Estudos da Universidade de Stanford, publicados em 2024, mostram que mulheres apresentam maior prevalência de fadiga crônica associada ao acúmulo de responsabilidades profissionais e domésticas, enquanto dados da Harvard Business Review revelam que a “dupla jornada” ainda é a principal causa de evasão feminina em cargos de liderança. No Brasil, levantamento da Deloitte indica que apenas 17% das posições executivas de grandes empresas são ocupadas por mulheres, apesar de elas representarem mais da metade da população economicamente ativa. 

A Influência do Pensamento Filosófico na Carreira Feminina

John Stuart Mill, em “Da Liberdade”, já defendia que a opressão social não se limita à coerção explícita: ela também se manifesta quando a sociedade constrói expectativas que restringem a autonomia. Jordan Peterson, em “12 Regras para a Vida”, reforça que assumir responsabilidade é a única forma de dar sentido à existência. Quando aplicadas à carreira feminina, essas lições convergem: não basta reconhecer a sobrecarga, é preciso transformá-la em estratégia consciente de escolhas e prioridades. 

A neurociência complementa o raciocínio. Pesquisas recentes sobre plasticidade neural mostram que mulheres expostas a múltiplas demandas apresentam maior ativação em redes cerebrais ligadas à organização e ao planejamento. Isso explica em parte a resiliência feminina, mas também evidencia os riscos do esgotamento. Para prosperar sem “explodir”, é preciso reconhecer que nenhum sistema resolverá o dilema feminino melhor do que a própria mulher decidindo o que faz sentido para si. Empresas podem — e devem — criar ambientes meritocráticos, em que o desempenho pese mais do que o gênero, e a competência seja critério inegociável. No entanto, o equilíbrio entre ambição e propósito continua sendo uma decisão pessoal. Cada mulher precisa definir o que significa vencer, estabelecer seu propósito de vida, determinar seus próprios limites e sustentar as consequências das escolhas que faz. Não há liberdade genuína sem responsabilidade sobre o rumo que se escolhe trilhar.

Responsabilidade Individual e Protagonismo Feminino

A carreira da mulher, sob a lente da responsabilidade individual, é mais do que um desafio de conciliação: é um ato de liberdade consciente. Destacar-se em múltiplos papéis requer não apenas suportar a sobrecarga, mas convertê-la em trajetória de protagonismo. A igualdade deixa de ser promessa quando cada mulher exerce sua liberdade com responsabilidade e a sociedade reconhece o mérito como critério inegociável.

Rayane Fernandes Goncalves Borges

Colunista

Diretora Geral da SkillsMapping e Mentora de Carreira e Gestão de Pessoas [RH] na Ementor. Neurocientista Comportamental, e Bacharel em Administração, com MBA em Gestão e Liderança de Pessoas pela UFRJ.

Diretora Geral da SkillsMapping e Mentora de Carreira e Gestão de Pessoas [RH] na Ementor. Neurocientista Comportamental, e Bacharel em Administração, com MBA em Gestão e Liderança de Pessoas pela UFRJ.