O caso recente da rivalidade entre Ozempic e Mounjaro no Brasil virou um exemplo concreto e quase didático de como o livre mercado opera, mesmo em um setor regulado como o farmacêutico. Quando o Ozempic chegou ao mercado, reinou praticamente sozinho como principal medicamento à base de semaglutida para controle de diabetes tipo 2 e, cada vez mais, para perda de peso. Seu preço, até então, girava entre R$ 1.000 e R$ 1.300, com poucas variações. Tudo mudou quando o Mounjaro, da farmacêutica Eli Lilly, chegou ao país.

A entrada do novo concorrente foi agressiva: ainda mais eficaz nos estudos clínicos, com uma taxa de perda de peso superior à do Ozempic, o Mounjaro estreou no mercado brasileiro em maio de 2025, custando entre R$ 1.406 e R$ 1.760 no programa de fidelidade, podendo passar de R$ 2.300 fora dele. Um valor elevado, mas que veio acompanhado de uma promessa de resultados melhores, o que gerou uma corrida de pacientes e prescrições — e uma ameaça concreta à liderança da Novo Nordisk no segmento.

Diante dessa nova dinâmica, o Ozempic teve que reagir rápido. Menos de um mês após a chegada do Mounjaro, a empresa reduziu seus preços em cerca de 15%. A caneta passou a ser vendida por valores entre R$ 825 e R$ 1.099, o que claramente não se deu por caridade ou nova política institucional — foi resposta direta à concorrência. O remédio líder no mercado teve que “emagrecer no preço” para não perder espaço na prateleira nem no receituário médico.

Livre Mercado e Regulação Farmacêutica

Esse movimento, por si só, já seria relevante. Mas o mais interessante é o que ele revela: o livre mercado, quando funciona, é capaz de gerar ajustes rápidos e tangíveis mesmo em mercados tradicionalmente mais lentos e regulados. A existência de uma nova alternativa, mais potente e competitiva, obrigou a marca estabelecida a rever sua estratégia de precificação. Nenhuma medida regulatória forçou essa queda. Nenhuma intervenção estatal exigiu que a empresa tornasse o produto mais acessível. O que forçou a redução foi, simplesmente, a possibilidade de escolha.

Por mais que o setor farmacêutico brasileiro seja sujeito a patentes e regulações da Anvisa, a concorrência verdadeira ainda tem espaço para agir. Quando um remédio novo chega com melhor desempenho e começa a conquistar médicos e pacientes, ele reequilibra o jogo. E foi exatamente o que aconteceu.

Concorrência e Benefícios para o Consumidor

A história do Ozempic, que precisou “emagrecer” seu próprio preço para seguir competitivo, deixa claro que a melhor política pública, quando possível, é fomentar concorrência. O consumidor agradece. O mercado responde. E o resultado é mais acesso, menos abusos e, nesse caso, uma lição de economia que vale mais do que qualquer aula teórica.

Mateus Vitória Oliveira

Colunista

Associado do Instituto Líderes do Amanhã

Associado do Instituto Líderes do Amanhã