
Inspirada em uma sandália japonesa chamada Zori, nasceu na década de 1960 um dos itens mais populares da moda brasileira: as Havaianas. Presente nos lares de milhões de brasileiros, a marca consolidou sua popularidade por meio de campanhas criativas, frequentemente associadas ao ambiente praiano e a artistas em evidência na televisão. No entanto, um comercial lançado recentemente colocou a empresa no centro de uma polêmica que reacendeu o debate sobre o posicionamento ideológico de marcas. Teria sido, literalmente, um tiro no pé?
No Brasil, os trabalhadores têm direito a 30 dias de férias remuneradas por ano, período que muitos escolhem usufruir entre dezembro e janeiro. Coincidentemente, trata-se também da época de férias escolares e do auge do verão. Sol, praia e descanso fazem parte do imaginário coletivo, e, quase sempre, há espaço na mala para um par de sandálias.
Nesse contexto, justamente no primeiro dia do verão no hemisfério Sul, uma campanha estrelada pela atriz Fernanda Torres sugeriu que as pessoas não começassem o ano com o “pé direito”. Longe de se tratar de uma linguagem meramente simbólica, a mensagem foi interpretada como subliminar, cuidadosamente construída e intencional, assumindo rapidamente conotação política em um país marcado por forte polarização ideológica. O resultado foi imediato.
Personalidades públicas e usuários das redes sociais passaram a criticar a campanha, e vídeos de consumidores cortando ou descartando sandálias da marca começaram a circular amplamente. A Alpargatas, controladora das Havaianas, cujo principal acionista é o Itaú, com cerca de 29,5% das ações, já teve membros de seu conselho associados a governos de esquerda, o que reforçou a leitura política da peça publicitária.
Impacto e Repercussão
Embora ainda não haja mensuração precisa do impacto financeiro a médio prazo, o dano reputacional é perceptível. O vídeo foi removido da página inicial do Instagram da marca, embora tenha permanecido disponível em outros formatos, como os Reels. Casos semelhantes, como a recepção de autoridades políticas em evento de lançamento do SBT News, levantam uma questão central: até que ponto é estratégico que empresas se posicionem ideologicamente quando atendem a um público diverso?
É legítimo que empresas tenham liberdade para se manifestar e assumir posicionamentos. Da mesma forma, é inevitável que arquem com as consequências dessas escolhas, sejam elas positivas ou negativas. O episódio deixa lições claras: conhecer profundamente o próprio público e revisar cuidadosamente campanhas são medidas essenciais para mitigar riscos reputacionais. Posicionar-se de forma que afaste uma parcela significativa dos consumidores pode ser interpretado não apenas como imprudência, mas como fragilidade na gestão da marca.
Considerações Finais
Que esse debate, contudo, não comprometa o verão nem as férias de ninguém. Opções não faltam para manter os pés confortáveis na areia. Afinal, caminhar descalço pode ser também uma metáfora para evitar pisar em ideias indesejadas. Que o ano comece, para todos, com o pé direito.