Nos últimos anos, aconteceu à ascensão de diversas lideranças femininas que desafiam o estereótipo ideológico associado às pautas de gênero. Mulheres que se posicionam de forma clara em defesa de princípios liberais, conservadores ou mesmo apenas contrários à narrativa dominante do progressismo cultural muitas vezes enfrentam um tratamento desproporcional nas redes sociais, na imprensa e nos círculos acadêmicos. A pergunta que se impõe é: por que, especificamente, as mulheres de direita são tão “canceladas”?
Inicialmente, é importante fazer um esclarecimento. A crítica pública, o debate vigoroso de ideias e o contraditório são elementos essenciais da democracia. No entanto, o que se vê nesse fenômeno chamado de cancelamento vai além do debate saudável. Trata-se de uma tentativa deliberada de silenciar, deslegitimar e marginalizar pessoas com base em suas opiniões — muitas vezes rotulando-as de forma simplista e pejorativa.
No caso das mulheres de direita, o que está em jogo é algo mais profundo. Há uma expectativa não declarada, mas difundida, de que a mulher, para ser considerada moderna ou “empoderada”, precisa aderir a certas pautas específicas — como o feminismo identitário, a defesa de políticas públicas progressistas e uma visão mais intervencionista do Estado. Quando uma mulher decide seguir por outro caminho, a liberdade individual, o livre mercado, a responsabilidade pessoal, a família ou mesmo uma visão mais cética do papel do Estado, ela rompe com esse molde. E isso incomoda.
O Silenciamento das Mulheres de Direita no Debate Público
Essa reação intensa muitas vezes revela um viés inconsciente (ou consciente) de que apenas uma narrativa é aceitável no debate público. John Stuart Mill, um dos grandes defensores do liberalismo clássico, já advertia no século XIX que “silenciar uma opinião é roubar a humanidade”. Para Mill, mesmo uma opinião considerada errada ou impopular deve ter espaço no debate, pois o confronto de ideias é o motor do progresso intelectual e moral. Nesse sentido, cancelar mulheres que pensam diferente do mainstream não é apenas uma injustiça pessoal, é uma ameaça à própria evolução do pensamento democrático.
Hannah Arendt, ao discutir a natureza da vida pública em A Condição Humana, também reforça essa visão. Para ela, o espaço público se sustenta na pluralidade — ou seja, na convivência de diferentes vozes, ideias e trajetórias. Quando uma mulher conservadora ou liberal é desqualificada apenas por divergir de um discurso hegemônico, o que se perde não é apenas sua voz individual, mas a integridade do próprio espaço público, que se torna monocromático e estéril.
Esse fenômeno também pode ser compreendido à luz da análise de Alexis de Tocqueville, em A Democracia na América. Já no século XIX, Tocqueville alertava que, mesmo nas democracias mais livres, a opinião pública poderia se tornar uma força opressora. Ele chamava isso de “tirania da maioria”, não exercida pelo Estado, mas pela pressão social que marginaliza e silencia vozes dissidentes. Em seus termos: “A maioria traça um círculo em torno do pensamento. Dentro dele, o escritor é livre; mas ai dele se ousar sair.”
Hoje, o que Tocqueville observou se manifesta na forma de cancelamentos públicos, especialmente contra mulheres que não seguem a cartilha ideológica dominante. O custo de discordar se torna pessoal, profissional e social, um tipo de punição informal, mas eficaz, que mina o pluralismo necessário à vida democrática.
Intolerância e o Paradoxo do Empoderamento Feminino
Outro fator relevante é que mulheres de direita tendem a adotar um discurso mais direto, às vezes incisivo, especialmente em temas sensíveis, como segurança pública, economia ou educação. Isso colide com a retórica do politicamente correto, e o desconforto gerado acaba se traduzindo em ataques pessoais e tentativas de silenciamento.
É fundamental que, a sociedade aprenda a separar a crítica legítima do linchamento virtual. Discordar de uma ideia não é o mesmo que desumanizar quem a expressa. A maturidade democrática exige que conviver com visões distintas e reconhecer o valor da divergência, inclusive — e talvez principalmente — quando ela vem de vozes femininas que desafiam o status quo.
Por fim, o cancelamento de mulheres de direita revela não só uma intolerância com opiniões divergentes, mas também um paradoxo: ao mesmo tempo em que se fala tanto em empoderamento feminino, muitas dessas mulheres são desqualificadas por exercerem sua autonomia intelectual. A verdadeira liberdade não é seletiva. Ela se manifesta quando a pluralidade é respeitada, mesmo — e especialmente — quando discordamos.