Quem Prejudica o Trabalhor?

Uma das comunidades mais proeminentes de que fazemos parte é a nossa própria empresa. Os funcionários, parceiros, fornecedores e até mesmo os clientes, diariamente formam opiniões com base nas experiências que vivem na empresa, e fora dela. Acredita-se que uma das funções do empresariado é sim criar consciência em seus stakeholders. Não é um caso de transferir culpa, mas sim deixar claro para os funcionários o que está por trás de muitas dificuldades: o Estado. 

Pode parecer soberbo acreditar que, por algum motivo, o empresário detém mais conhecimento mais que seus funcionários. Que ele, com o mesmo acesso à informação, chegou a uma conclusão mais valiosa. Porém, constantemente alimentados por uma narrativa maligna inserida pelo próprio Estado, é praticamente impossível o empregado chegar a uma conclusão diferente de “seu empregador quer o pior para você”. O empresário se prejudica tanto quanto seus funcionários, senão mais, pelas políticas fracas e impositivas do governo

Muitos dos empregados não sabem, por exemplo, que a empresa precisa pagar mais de 20% do salário do trabalhador para encargos próprios – um dinheiro que a pessoa provavelmente nunca terá acesso. Da mesma forma, a legislação trabalhista, ainda presa em uma lógica getulista, define escalas rígidas, impedindo acordos que poderiam beneficiar os trabalhadores. E se o funcionário estiver planejando um filho, ou um casamento, e tiver interesse em trabalhar mais do que 2 horas extras por dia para complementar sua renda? Ele não pode, simplesmente pois o Estado acredita ter mais conhecimento sobre suas necessidades do que ele mesmo. 

Falo isso com propriedade. Eu mesma, formada em uma universidade de excelência e mais instruída que 95% da população por possuir um mestrado, acreditei por muito tempo que o problema era o meu empregador. Trabalhando sob o regime CLT, a sociedade e as mídias me alimentavam a ideia que a empresa ganhava demais, e eu, de menos. Foi preciso mudar de lado – ter meu próprio negócio, lidar com os impostos, encargos e burocracias para entender onde está o verdadeiro gargalo. 

A Problemática do FGTS e a Restrição da Liberdade

Em sua aplicabilidade na vida real, o exemplo do FGTS beira o absurdo em alguns casos. Como profissional capacitada, claro que preferia receber o valor integral do meu salário e decidir o que fazer com ele, porém o Estado me impede disso:  obriga o empregador a pagar 8% do salário bruto do empregado para essa aplicação, onde o dinheiro rende menos do que renderia parado na conta corrente, e só estará disponível quando ele tiver 65 anos (se estiver). A lógica por trás disso é a restrição da liberdade. Ao assumir que a classe trabalhadora do Brasil não tem capacidade suficiente de decidir o que fazer com seu dinheiro,  o Estado a coloca em uma situação na qual o que mais se beneficia é ele mesmo. Raramente o trabalhador tem conhecimento que o dinheiro do seu FGTS está indo para uma conta que possui o rendimento pior que os próprios títulos do governo. Se o funcionário acredita ser apto para poupar o próprio dinheiro e quiser colocar em uma previdência privada, por exemplo, ele não pode, pois o Estado o proíbe. 

O Papel do Empresário na Informação e Conscientização

O silêncio da classe empresarial, e muitas vezes até o reforço da narrativa “nós contra eles”, é um desserviço. Quando não se explica, o espaço é ocupado por narrativas prontas, muitas vezes provenientes de redes sociais e até mesmo do próprio Estado. Por isso, informar é um dever. A partir do momento que impactamos a nossa comunidade local, um colaborador bem-informado entende os limites da empresa, participa com senso de dono e reconhece que o seu sucesso está diretamente ligado ao sucesso do negócio, e mais importante, que quem está movendo montanhas para ele se prejudicar, não é o “patrão”, e sim o Estado. 

Diferente do governo, não podemos assumir que nossos funcionários não detêm conhecimento suficiente para entender as tomadas de decisão. Notei que explicar o racional por trás de algumas políticas internas da empresa tornou os empregados mais aderentes a elas. Além disso, deixar claro que a empresa está disposta a realizar flexibilizações dentro dos encartes da lei, e que quando não for possível explicar o motivo – muitas vezes a resposta é “pois a lei não permite”. 

O papel do empresário na educação é discreto, porém o considero indispensável. Em um país onde o Estado assume para si a tutela de seus cidadãos, cabe à iniciativa privada defender, com exemplos e argumentos, a liberdade e responsabilidade individual. Ensinar que o vilão não é quem oferece o empresa, mas quem torna isso quase impossível.

Marina Parreiras Vieira Alves Rebouças

Colunista

Diretora Comercial da Azul Cargo Vitória e DM Logística. Graduação em administração de empresas pela FGV-SP.

Diretora Comercial da Azul Cargo Vitória e DM Logística. Graduação em administração de empresas pela FGV-SP.