Resenha da obra "12 Regras Para a Vida", de Jordan B. Peterson

Jordan B. Peterson, psicólogo clínico e professor universitário, consolidou sua reputação ao abordar questões existenciais, éticas e psicológicas que permeiam o cotidiano humano. Em “12 Regras para a Vida”, propõe uma série de orientações que visam auxiliar o indivíduo na busca por significado e equilíbrio em meio às adversidades contemporâneas.

A obra é estruturada em doze regras, cada uma constituindo um capítulo. Na primeira regra, Peterson introduz o exemplo da lagosta para ilustrar como as hierarquias sociais são profundamente enraizadas na natureza. Ele destaca que, assim como a lagosta, que adota posturas de domínio e se envolve em lutas para definir sua posição, os seres humanos também precisam adotar uma postura assertiva para enfrentar os desafios da vida e conquistar seu espaço, remetendo à ideia de que a postura física e psicológica influencia diretamente a maneira como o indivíduo enfrenta as adversidades.

Mais adiante, na terceira regra, o autor ressalta a importância de escolher com cuidado as companhias. Ele argumenta que o ambiente social e as amizades influenciam fortemente o desenvolvimento pessoal e a saúde emocional. Assim, ao cercar-se de pessoas que genuinamente se preocupam com seu bem-estar e que o incentivam a crescer, o indivíduo cria uma rede de apoio que pode impulsionar mudanças positivas e evitar influências tóxicas.

Em seguida, na regra quatro, o autor aborda a questão da comparação interna e o progresso pessoal. Em vez de se comparar com os outros, Peterson aconselha que cada pessoa se concentre em sua própria evolução, avaliando as melhorias realizadas em relação ao passado. Essa perspectiva se torna ainda mais relevante no contexto atual, em que as redes sociais amplificam a tendência à comparação constante e, muitas vezes, neurose. Hoje, as plataformas digitais exibem uma versão “recortada” da vida das pessoas, em que sucessos e momentos felizes são destacados, enquanto desafios e vulnerabilidades permanecem ocultos. Esse ambiente pode levar a uma comparação irreal e desproporcional, na qual os indivíduos se sentem inadequados e pressionados a corresponder a padrões inalcançáveis.

Neste ponto, Peterson alerta para o fato de que essa comparação externa não apenas distorce a percepção da realidade, mas também pode minar a autoestima, fomentando sentimentos de inadequação e insuficiência. Diante dessa problemática, oferece como “antídoto” a comparação interna, com o “eu” do passado – uma abordagem mais saudável e realista, que permita o indivíduo concentrar-se em seu próprio desenvolvimento e reconhecer as melhorias, por menores que sejam, ao longo do tempo. Em vez de buscar validação externa, Peterson incentiva o cultivo de uma autocrítica construtiva, bem como a celebração do progresso pessoal.

Responsabilidade Pessoal e Ordem Interna

Mais adiante, a sexta regra aborda a importância de assumir a responsabilidade pessoal antes de apontar falhas no ambiente externo, traduzida pela frase: “deixe sua casa em perfeita ordem antes de criticar o mundo”. Neste capítulo, Peterson defende que, para efetivamente transformar o mundo à sua volta, o indivíduo precisa primeiro organizar sua própria vida. Essa “ordem” se traduz na resolução de conflitos internos, na superação de hábitos autodestrutivos e na criação de um espaço pessoal em que o autoconhecimento e a disciplina reinem. Ao enfatizar essa ideia, o autor sugere que críticas amplas à sociedade ou a instituições podem soar vazias se não houver, previamente, um esforço genuíno de autotransformação. 

Em seguida, a regra sete trata do papel do sacrifício e do enfrentamento voluntário do sofrimento, nas palavras do autor: “busque o que é significativo, não o que é conveniente”. Nesse ponto, Peterson ressalta que, ao reconhecer e aceitar as dificuldades inerentes à existência, o indivíduo se torna capaz de transcender suas limitações e transformar a adversidade em oportunidade de crescimento. Assim, a busca por um propósito maior pode, de fato, transcender as limitações pessoais e abrir caminho para uma existência mais rica e resiliente.

A Busca por Sentido em Meio ao Sofrimento

O capítulo em questão dialoga com os conceitos apresentados por Viktor Frankl na obra “Em Busca de Sentido”. Ambos os autores partilham a ideia de que o sofrimento, quando encarado de maneira consciente e voluntária, pode ser transformado em um caminho para a transcendência pessoal e a descoberta de um propósito maior. Frankl, que desenvolveu a logoterapia, argumenta que a busca por sentido é a motivação primordial do ser humano, especialmente em contextos de adversidade extrema, como os que ele próprio vivenciou em campos de concentração. Da mesma forma, Peterson ressalta que reconhecer e aceitar as dificuldades inerentes à vida permite ao indivíduo transcender suas limitações. Assim, tanto Peterson quanto Frankl enfatizam que a verdadeira liberdade e realização emergem da capacidade de transformar a dor em crescimento pessoal.

Verdade, Honestidade e a Jornada da Vida

Na regra oito, Peterson traz à discussão a importância da verdade e da honestidade consigo mesmo e com os outros. Ele ressalta que, ao encarar a verdade, o indivíduo se coloca em uma posição de vulnerabilidade, mas também de força, pois essa atitude permite reconhecer limitações e, a partir disso, buscar a superação de obstáculos. Assim, Peterson provoca uma reflexão sobre a transparência e a integridade como fundamentos para a construção de uma vida significativa.

Por fim, já na regra doze, o autor propõe que o sentido da vida não se revela de forma linear ou contínua, mas sim como uma jornada marcada por desafios e pequenas descobertas. Ao sugerir que se aproveitem os momentos simples – simbolizados pelo ato de acariciar um gato – Peterson encoraja a busca por instantes de paz e conexão, mesmo quando o mundo parece caótico. A mensagem trazida é a de que, embora o sofrimento seja parte intrínseca da experiência humana, a capacidade de notar e valorizar as pequenas alegrias pode transformar a maneira como se encara a vida. 

Esse best-seller internacional, segundo o próprio Peterson propõe, não se trata apenas de um conjunto de orientações ou de um manual de autoajuda, mas de um convite para uma profunda transformação pessoal. A mensagem central deixada é a de que o verdadeiro significado da existência se constrói por meio da responsabilidade pessoal, da aceitação do sofrimento e do cultivo de hábitos simples, mas significativos, que transformam a vida.Assim, ao assumir o compromisso de melhorar a si mesmo – desde ações básicas, como arrumar a cama, até a prática constante da honestidade –, indivíduo estabelece as bases para uma vida mais equilibrada e significativa, tornando-se capaz de construir um caminho mais autêntico na complexa jornada humana.

Marina Zon Balbino

Colunista

Sócia e Advogada da SVMP Advogados, associada do Instituto Líderes do Amanhã

Sócia e Advogada da SVMP Advogados, associada do Instituto Líderes do Amanhã