Publicado em 2018, “12 Regras para a Vida” é uma das obras mais conhecidas do psicólogo clínico canadense Jordan B. Peterson. Estruturado em doze capítulos, cada um correspondente a uma regra prática, o livro busca oferecer reflexões e orientações sobre como conduzir uma vida mais ordenada, significativa e resiliente diante do caos. A proposta vai além de simples conselhos, pois se conecta a estudos de psicologia, neurociência, filosofia e religião, além de experiências pessoais do autor.
No prefácio, Norman Doidge constata que a ausência de regras nos torna escravos de nossas próprias paixões, como ilustra a história bíblica do bezerro de ouro. Nesse sentido, ele defende que as regras não restringem a liberdade, mas a organizam, abrindo espaço para que os indivíduos construam objetivos mais claros e alcancem uma vida mais plena e leve. Norman também descreve como a motivação acadêmica do autor Jordan esteve ligada ao esforço de compreender as ideologias que levaram sociedades a regimes totalitários, e como essas ideologias substituem o conhecimento verdadeiro por ilusões perigosas.
O livro também nasceu da popularidade conquistada pelo autor na internet, inicialmente em plataformas de perguntas e respostas e, posteriormente, no YouTube. Foi nesse ambiente que Peterson percebeu o impacto de suas reflexões sobre dilemas da vida cotidiana, como questões de virtude, justiça e a busca por uma vida boa.
As Regras de Jordan Peterson
Logo no primeiro capítulo, “Regra 01: mantenha as costas eretas e os ombros para trás”, Peterson recorre a uma metáfora curiosa com lagostas, relacionando a postura corporal à neuroquímica da vitória e da derrota. A mensagem é clara: adotar uma postura vitoriosa no corpo, e consequentemente na vida, parar fortalecer a autoestima, e, assim, ajudar a enfrentar desafios, evitando a submissão a ciclos de ansiedade e fracasso.
Na “Regra 02: trate a si mesmo como alguém sob sua responsabilidade de ajudar”, o autor lembra que muitos cuidam melhor de seus animais de estimação do que de si mesmos. A reflexão é sobre a importância da autocompaixão, do cuidado físico e emocional, e da responsabilidade pessoal. Ainda que o capítulo se estenda em contrastes (como caos e ordem, masculino e feminino), nem sempre a abordagem bíblica torna o raciocínio claro, podendo soar excessivamente metafórica para alguns leitores não religiosos.
“Regra 03: seja amigo de pessoas que queiram o melhor para você” ressalta a dificuldade de manter relações saudáveis e verdadeiras. Peterson aponta o perigo da lealdade cega a amizades destrutivas e a necessidade de discernimento para atrair e manter pessoas que contribuem para o crescimento mútuo. Em um mundo dominado pelas redes sociais e comparações constantes, a “Regra 04” reforça a importância de se comparar a si mesmo com quem se foi ontem, e não com os outros, destacando o valor de estabelecer objetivos pessoais e realistas.
As regras seguintes ampliam o foco para a vida familiar e social. Nas regras 05 e 06, Peterson defende que a educação dos filhos e a organização do lar refletem o modo como lidamos com o mundo. Afinal, não é coerente criticar a sociedade quando se tolera a desordem no ambiente mais íntimo. O autor reforça seus argumentos com referências a pensadores como Tolstói, Dostoiévski e Nietzsche.
As ideias da Regra 07, que propõe buscar o que é significativo em vez do que é conveniente, e da Regra 08, que orienta a dizer a verdade ou, ao menos, não mentir, estão profundamente relacionadas. Ambas destacam que a integridade é essencial para uma vida corajosa e nobre. Peterson reforça esse ponto com exemplos marcantes, como o de soldados que não se traumatizaram pelo que sofreram, mas pelo que fizeram, mostrando como a negação da verdade e a escolha pela conveniência podem corroer a alma humana.
As regras 09 e 10 reforçam o papel do diálogo e da clareza na comunicação como fundamentos de uma convivência social saudável. Palavras verdadeiras e corajosas, segundo o autor, tornam a realidade mais habitável. A última regra, marcada por tom mais pessoal e emotivo, é inspirada nos desafios de saúde de sua filha. Peterson destaca a importância de encarar limitações e encontrar beleza mesmo nos pequenos instantes da vida, como acariciar um gato ao encontrá-lo na rua.
Conclusão sobre “12 Regras para a Vida”
Em resumo, “12 Regras para a Vida” não é um livro de leitura passiva: exige reflexão, confronto com as próprias escolhas e uma análise crítica das regras em nossas vidas. Se por um lado a obra pode cansar pela abundância de metáforas religiosas, por outro oferece lições práticas e profundas sobre responsabilidade, amizade, honestidade, disciplina e coragem. A mensagem final de Peterson é clara: embora não possamos controlar tudo ao nosso redor, temos poder real sobre nós mesmos, sobre nossos hábitos e sobre a forma como reagimos às adversidades.