
Publicado em 2024, o livro A Busca, de Jorge Gerdau, não se apresenta como uma biografia tradicional, mas como uma narrativa reflexiva sobre os princípios que guiaram a vida pessoal e profissional do autor. A obra tem como eixo central a ideia da busca incessante pela excelência, explorando como essa postura impacta não apenas sua trajetória empresarial, mas também a sociedade e a cultura ao seu redor.
Jorge Gerdau, reconhecido empresário do setor siderúrgico, relata no livro a construção da Gerdau sob a ótica de seus valores. Empresa referência em aço na América Latina, que destaca a valorização e o respeito de seus colaboradores como parte fundamental da cultura organizacional. Um exemplo simples, mas evidente sobre essa dinâmica, é que os funcionários da Gerdau são denominados como “colaboradores” desde o período de administração de seu avô.
No livro, Gerdau enfatiza o papel fundamental da família na administração da companhia e destaca a influência de sua esposa, Maria Elena, na condução e no desenvolvimento de pessoas. Foi ela quem despertou e fortaleceu seu lado social e humano, sobretudo por meio da atuação na ONG Parceiros Voluntários, instituição de alcance nacional que já transformou a vida de mais de 1,5 milhão de pessoas.
Outro aspecto marcante é a relação do autor com a cultura. Gerdau admira a busca pela excelência na prática artística de Iberê Camargo, cuja dedicação e rigor na produção de suas obras se tornaram inspiração. Essa sensibilidade resultou na criação do museu em homenagem ao pintor, considerado um marco arquitetônico e cultural no Rio Grande do Sul. No mesmo sentido, a fundação do Hospital Moinhos de Vento é apresentada como um desafio voltado à qualidade e ao desejo de construir “um dos melhores hospitais do país”.
No livro, são apresentadas as 23 palavras-chave que orientam a vida de Jorge Gerdau — palavras como; amor, família, respeito, pessoas e fé. Essas palavras que são traduzidas como valores não aparecem de forma isolada, mas como princípios interligados que formam a base de sua filosofia. É observado a proximidade do autor com o conceito de “capitalismo consciente”, no qual o lucro não é fim em si mesmo, mas instrumento de valorização humana e de transformação social através do trabalho.
A Proposta de Valor do Livro
A obra é inspiradora ao propor a integração entre vida pessoal, trabalho e valores. Seu diferencial está em demonstrar como a excelência não é apenas um objetivo empresarial, mas uma postura de vida capaz de gerar reflexos sociais. O otimismo do autor em relação ao Brasil e sua defesa da cultura como pilar de desenvolvimento também se destacam como contribuições relevantes para o debate público.
No entanto, a narrativa de A Busca por vezes assume um tom demagógico, com certo idealismo que pode soar distante da realidade enfrentada no grande desafio de administrar uma siderurgia com as proporções da Gerdau. O livro carece de informações sobre as dificuldades enfrentadas pela empresa e por seus administradores para que a Gerdau se tornasse o que é hoje. É notório o protagonismo dos princípios do autor nessa construção, mas o livro carece de maior descrição “desse outro lado”.
Reflexões e Críticas sobre a Obra
Apesar dessas limitações, A Busca é uma obra valiosa para compreender a trajetória de Jorge Gerdau e, sobretudo, para refletir sobre como princípios pessoais podem orientar decisões profissionais e sociais. Mais do que um livro sobre gestão ou liderança, trata-se de um convite à autorreflexão sobre valores, identidade e propósito. O leitor é levado a pensar sobre os riscos de dissociar vida pessoal e trabalho e sobre a importância de alinhar ambas as dimensões “na constante busca” de uma existência coerente e significativa.