
“A Nascente” é uma obra clássica do individualismo, escrita por Ayn Rand em 1943. Até hoje, seus insights e análises continuam ressoando na sociedade. O romance, escrito pela autora russa após sua chegada aos EUA, foi o primeiro grande sucesso dela e se tornou um clássico da visão objetivista da vida e da liberdade de Rand. Conta a história de um jovem arquiteto, Howard Roark, que se recusa a comprometer seus princípios e ideias em prol de pressões da sociedade e de outros arquitetos para que seus projetos seguissem o padrão de mediocridade estabelecido.
Roark exemplifica o homem ideal para Rand, sendo um indivíduo inabalável em sua integridade moral e firme em seus princípios artísticos. Um contraponto aos ideais de Roark é o também arquiteto Peter Keating, que representa a conformidade e a aceitação dos protocolos coletivos como um meio de alcançar sucesso e aprovação.
Ao longo do livro, Rand explora a tensão entre a originalidade individual, representada por Roark, e a pressão para se conformar com as expectativas sociais, defendida por Keating. Em diversos momentos, o protagonista precisa justificar seus pontos de vista e sua resistência à submissão aos padrões estabelecidos, em situações em que se assemelham a conversas cada vez mais frequentes com colegas e familiares em tempos de embate de ideias que vivemos no Brasil.
Nesse ponto, inclusive, é importante a figura de Dominique Francon, que representa o homem médio atual. Ela é uma crítica de arquitetura e interesse amoroso de Roark, que se fascina pela genialidade e integridade do arquiteto, mas vive em conflito entre a sociedade que acredita que não merece Roark e os jogos sociais existentes.
Nos conflitos entre Roark e Keating, é possível verificar a exaltação dos valores fundamentais de Rand, transformando Roark em um personagem tão íntegro que, em certos momentos, ele beira o egocentrismo, preocupando-se apenas com o próprio sucesso e negligenciando os valores daqueles que não são compatíveis com os seus. Isso fica evidente quando Roark é expulso aos 21 anos do curso de Arquitetura no Instituto de Tecnologia de Stanton por “insubordinação”, vindo a graduando-se posteriormente, ou quando ele explode o projeto habitacional de Cortland com dinamite, após ser enganado por Keating.
Ellsworth Toohey, outro antagonista de Roark, representa o coletivismo. Ele é um influente crítico de arquitetura que busca poder manipulando as massas e promovendo o conformismo. Em contraste, Guy Francon, um arquiteto medíocre que plagia designs do passado, dá ao público o que este está acostumado a receber, manipulando e influenciando as pessoas com seu domínio das graças sociais.
As Dificuldades de Roark e o Conformismo
O livro apresenta as dificuldades de Roark em manter-se fiel às suas ideias e princípios, enquanto seus antagonistas alcançam sucesso por meio do conformismo e da mediocridade.
Tamanha é a marginalização, desprezo e perseguição a Roark e suas ideias que, após explodir o projeto Cortland, o protagonista é levado a julgamento, marcando o clímax do livro. É nesse momento que Roark, agora no centro das atenções, consegue expor suas ideias apaixonadas sobre valores pessoais do individualismo, reafirmando que a razão é a única fonte de conhecimento e que a busca da felicidade pessoal é a mais elevada inspiração moral.
Inclusive, é nesse momento que a figura do protagonista se confunde com a própria figura da autora. Roark faz um apanhado da história da terra para demonstrar que a humanidade chegou onde chegou em razão daqueles que não se conformaram com a mediocridade ou com aquele ambiente em que viviam. O que nos separa dos neandertais é a inovação, o conhecimento e a busca incessante pelo sucesso, felicidade e realização pessoal.
Segundo Roark, nada é dado ao homem na Terra; tudo o que ele precisa deve ser produzido por ele. Esse é o objetivo básico do ser humano: produzir com inovação, pois, na vida, existem duas opções: sobreviver por meio do uso independente de sua mente ou viver como um parasita, alimentado pelas mentes de outros. O criador é original, inovador, está sempre buscando formas de viver mais e melhor, enfrentando sozinho a natureza e seus percalços. Já o parasita apenas toma emprestado e se submete àquilo que lhe dizem como utilizar e como fazer. O criador vive à mercê de si, enquanto o parasita vive submisso às decisões dos outros. A preocupação do criador é a conquista da natureza. A preocupação do parasita é a conquista dos homens.
O júri entende os argumentos de Roark como válidos e o absolve, dando início a um período de reconhecimento dos argumentos de valorização da inovação e dos princípios éticos e individuais, com a contratação de Roark para projetar a construção do empreendimento Cortland Homes e do Wynand Building – o arranha-céu mais alto da cidade. Em contraponto a isso, vê-se o declínio de Toohey e Keating, que não se encaixam nessa nova visão de mundo em que as ideias são mais valorizadas que os protocolos sociais ou os conchavos.
Individualidade, Inovação e o Contexto Brasileiro
Em síntese, a história do livro aborda o tema da individualidade, em que é fundamental que a pessoa lute pelo seu próprio interesse, pela sua realização, sem se deixar manipular pelos interesses alheios, sejam eles políticos ou econômicos. E são essas dificuldades que muito se assemelham às dificuldades vividas por grandes inovadores ou pequenos empreendedores no Brasil.
Em nosso país, infelizmente, a inovação e as boas ideias são marginalizadas, pois persiste a ideia de que os capitalistas buscam oprimir a classe trabalhadora ou que apenas pensam no lucro em troca do sangue do trabalhador. Isso cria um ambiente pouco atrativo àqueles que buscam inovar. Exemplos recentes disso são as tentativas de criação de leis trabalhistas para motoristas de aplicativo, nas quais o governo busca aplicar conceitos oriundos da Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT), cuja criação foi em 1943, para situações que jamais foram previstas naquela época.
No mesmo sentido, são os projetos de lei que buscam regulamentar aplicativos de entrega, Inteligência Artificial e outros meios de inovação que, ao causarem medo àqueles que hoje se beneficiam da mediocridade e dos conchavos políticos, são rapidamente colocados em frente ao canhão legislativo ou das massas controladas.
Portanto, torna-se cada vez mais necessário a leitura de livros como “A Nascente“, pois, ainda que se apresentem como ficção, inspiram os inovadores a lutarem pelo que acreditam e buscar a realização de seus próprios interesses, sem se subordinar a interesses alheios.